Responsável de projetos para o Médio Oriente refere que «90 por cento da população vive abaixo da linha de pobreza»
Lisboa, 18 abr 2022 (Ecclesia) – A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), organização internacional da Igreja Católica, alertou que na Síria, “pelo menos, 90 por cento da população vive abaixo da linha de pobreza”, e o “desespero é generalizado entre os cristãos”.
“É muito triste ver como uma percentagem tão grande da população precisa urgentemente de ajuda e, sem dúvida, na Síria as sanções afetam as pessoas comuns”, disse a responsável de projetos da fundação pontifícia para o Médio Oriente, na informação enviada hoje à Agência ECCLESIA pelo secretariado português da AIS.
Regina Lynch alertou para os efeitos devastadores das sanções impostas pelos Estados Unidos e União Europeia ao regime do presidente Bashar al-Assad, indicando que, “pelo menos, 90 por cento da população vive abaixo da linha de pobreza”.
Neste sentido, salientou que o “desespero é generalizado entre os cristãos” da Síria, pessoas que “antes do início da guerra”, há mais de 11 anos – desde 15 de março de 2011 – “não dependiam de ajuda externa”.
“A maioria das sanções está a prejudicar as pessoas comuns, mais do que qualquer coisa”, sublinhou, lembrando que “a Igreja local manifestou-se fortemente contra” e a fundação concorda.
A responsável da AIS, que esteve recentemente em Damasco, a capital da Síria, para uma conferência da Igreja Católica sobre caridade e a sinodalidade, explicou que a “inflação é galopante”, por isso há pessoas que não podem “financiar medicamentos ou operações”, nem comprar carne ou leite para os filhos.
“Nem o bilhete de autocarro para ir à escola ou à universidade. E quem tem familiares no exterior não pode receber dinheiro devido aos embargos bancários”, referiu Regina Lynch, apresentando outros exemplos de uma situação que “só está a piorar”, como a falta de “dinheiro para comprar combustível para o aquecimento ou para a eletricidade”, e nos meses mais frios há regiões que atingem temperaturas negativas.
As pessoas são vítimas da violência da guerra e, para esta responsável, há quem precise “até de reconciliação com as suas próprias memórias”.
“Muitos cristãos sírios sofreram traumas terríveis nos últimos onze anos. Eles perderam ente queridos, testemunharam violência extrema e até receberam ameaças de morte por serem cristãos. Acredito que a fé é a razão pela qual muitos têm resistido”, desenvolveu.
Neste contexto, Regina Lynch assinala também que para muitos cristãos “a guerra teve um efeito positivo na sua fé”, e deu à Igreja a “oportunidade de colocar em prática os seus ensinamentos sobre a caridade e o perdão”.
A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, organização internacional “católica com doadores principalmente católicos”, apoia as populações independentemente da sua religião, e na Síria os nossos parceiros de projeto são “líderes das Igrejas Católicas ou Ortodoxas” que ajudam principalmente as suas comunidades, “mas há projetos que beneficiam muçulmanos”.
“Nas escolas católicas apoiadas pela AIS muitos ou a maioria dos alunos não são cristãos, mas muçulmanos”, exemplificou a responsável de projetos para o Médio Oriente da fundação pontifícia.
A AIS alerta que a grave situação na Síria se arrisca a passar despercebida com a atenção da comunicação social concentrada na guerra na Ucrânia e esquecendo, de certa forma, os outros conflitos no mundo.
Este domingo, o Papa Francisco evocou mais de uma dezena de conflitos que afetam o mundo, para além da guerra na Ucrânia, nomeadamente a Síria, pedindo maior atenção da comunidade internacional, na Mensagem de Páscoa.
CB