Peniche homenageou «apóstolo» dos escravos e índios no Brasil

Peniche homenageou durante as festas da cidade em honra de N. Sra. da Boa Viagem, um dos filhos maiores da terra, D. António José Ferreira Viçoso. Um santo homem da Igreja, audaz missionário do Evangelho, ilustre discípulo de S. Vicente de Paulo e intrépido defensor dos direitos humanos.

Foi uma das primeiras vozes da Igreja a denunciar a escravatura de negros e índios e a lutar pela sua abolição, sendo perseguido e penalizado pela sua incómoda palavra e firme atitude. No Brasil do séc. XIX foi um dos “grandes bispos” que aquela Igreja-irmã jamais conheceu, como afirmou Papa Pio IX. Foram, de facto, muitos – políticos, governantes, homens da cultura e eclesiásticos – a reconhecer-lhe grandes dotes humanos e invulgares virtudes evangélicas. Porém, é sobretudo no coração do povo brasileiro, especialmente junto das comunidades cristãs do Estado de Minas Gerais, onde faleceu em 7 de Julho de 1875, que a sua memória e fama de santidade continuam hoje vivas. Ele permanece uma santa companhia no crescimento da fé, esperança e caridade; eficaz protector dos valores da vida, verdade, cultura e liberdade.

Na sessão de lançamento do livro biográfico, realizada no passado dia 31 de Julho, marcaram presença 150 pessoas, ansiosas por saber mais desta figura pouco conhecida da Igreja em Portugal, como reconheceu o próprio D. Anacleto de Oliveira, bispo auxiliar de Lisboa. Convidado para apresentar o livro do sétimo bispo de Mariana, baseado no escrito historicamente preciso e poeticamente apaixonado de Mariano Calado, autor do livro, D. Anacleto traçou de forma eloquente as linhas fundamentais do perfil, obra e santidade do Servo de Deus, D. António José Ferreira Viçoso (1787-1875). Na apresentação da obra teceu gratos elogios ao autor pela dedicação, como leigo comprometido em primeira linha com Mons. Manuel Bastos – pároco emérito – na causa de divulgação do “santo” penicheiro. O prelado oestino comprometeu-se em mobilizar o Patriarcado de Lisboa, no sentido de levar ao conhecimento das comunidades cristãs este ilustre filho da diocese estremenha. Espera-se que em breve, como aconteceu com S. António de Lisboa – hoje santo universal –, também um dia se possa invocar a intercessão orante e pedir graças a António de Peniche e Mariana.  Na verdade, o bispo Viçoso, como outros exemplos da história da santidade lusa (S. António de Lisboa, S. João de Deus, S. Beatriz da Silva, P. António Vieira, S. João de Brito, entre outros) foi em terras “estrangeiras” que brilhou o testemunho admirável da comunhão com Deus ao serviço da Igreja, ao ponto de serem venerados mais pelas terras onde findaram suas canseiras apostólicas, do que naquelas que os viram nascer.   

Com tal acto público, o prior da cidade-península,  P. Pedro Silva, a quem coube abrir a sessão solene, citando enxertos pertinentes da carta de Bento XVI para o Ano Jubilar Sacerdotal, anunciou o feliz ensejo que é para a inteira paróquia o relançamento da devoção ao Servo de Deus, António Viçoso. Qual nosso “Santo Vianney”, o Servo de Deus António Viçoso – jovem, padre e bispo “reformador” – surge assim, no 222º aniversário natalício, como grande exemplo de “pastor e missionário” da diocese de Lisboa e daquele Portugal que sempre rasgou horizontes em nome da fé pelo mundo fora. D. Viçoso emerge hoje como modelo do “servidor sem fronteiras do Evangelho” para as vocações que Deus chama ao seu serviço: exemplo de heroicidade total dos mais altos valores cristãos.  O prior de Peniche anunciou ainda, para satisfação de todos, a constituição de uma comissão para a Beatificação que, em comunhão com a Postulação da Causa sediada em Mariana, pela Diocese brasileira, e em Roma, pela Congregação da Missão, se ocupará em lançar campanhas de sensibilização dirigida a variados ambientes, sem esquecer a juventude e a comunidade brasileira imigrada em Portugal, da qual grande parte provém precisamente de Minas Gerais. Em breve, está prevista uma audiência com o Cardeal Patriarca para dele receber instruções e o apoio necessário para esta causa. Também continuam a ser motivo de conversa entre os mais devotos, uma Peregrinação aos lugares brasileiros do Servo de Deus e uma geminação missionária entre as duas cidades “santificadas” pela peregrinação terrena de D. Viçoso.

D. António José Ferreira Viçoso, o bispo penicheiro religioso da Congregação da Missão,  significou para o seu tempo, o que D. Helder Câmara é para o nosso. Dois bons pastores do único rebanho de Deus, dois homens despojados de si próprios, dois profetas incansáveis da verdade e liberdade, defensores intransigentes dos direitos dos mais pobres, duas vozes autênticas da igreja incarnada na vida do povo. Foram ambos dois faróis seguros que iluminaram o caminho de “reforma” da Igreja nos últimos duzentos anos. Heróis do Evangelho que aguardam iminente glorificação, mediante processo de canonização, por parte da Igreja e que, entretanto, do Céu, intercedem incessantemente pela justiça, esperança, progresso e paz da humanidade.

 O carisma missionário que animou D. António Viçoso, inspirava-se no grande apóstolo dos pobres que foi S. Vicente de Paulo, fundador da Congregação da Missão. Carisma esse que continua vivo, familiar e actual em Peniche através do testemunho das Irmãs Vicentinas que, desde há décadas, servem a infância, os doentes, os mais pobres, os peregrinos-romeiros e a comunidade cristã que se reúne no Santuário de N. Sra. dos Remédios, o mais ocidental da Europa.

A Sessão solene contou com um momento cultural abrilhantado pelo Coral “Stella Maris” de Peniche e o encerramento foi marcado pela habitual sessão de autográfos. O autor informou que o fruto da venda do livro reverterá inteiramente a favor da nova etapa da campanha de beatificação relançada pela paróquia de Peniche.

Para conhecer melhor a pessoa, o carisma e a obra do Servo de Deus, D. António Viçoso, os interessados podem solicitar o livro de Mariano Calado através do endereço: paroquiapeniche@mail.telepac.pt

 Rui Pedro

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