D. Jorge Ortiga inaugura assembleia plenária dos Bispos portugueses, destacando também a próxima visita do Papa
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga, admitiu que as recentes polémicas sobre casos de pedofilia envolvendo padres católicos exigem da Igreja “coragem” e “verdade”.
No discurso de abertura da assembleia plenária da CEP, o Arcebispo de Braga admitiu que a reunião magna “acontece num ambiente sensível, em que se cruzam perplexidades e aproveitamentos em torno de factos ou denúncias a que os media têm dado ampla cobertura”.
“Factos e denúncias”, disse, “que exigem, de todos, coragem na análise, justiça, verdade e caridade nas palavras e atitudes”.
A assembleia iniciada esta Segunda-feira, na Casa de Nossa Senhora das Dores, Santuário de Fátima, prolonga-se até ao dia 15 de Abril.
[[v,d,973,]]D. Jorge Ortiga defendeu que “perante a grave lesão da dignidade pessoal das vítimas dos casos de pedofilia, importa restabelecer a justiça, purificar a memória e reafirmar, humildemente, o compromisso da Igreja de fidelidade a Deus e de serviço aos homens”.
O presidente da CEP assegurou que os Bispos portugueses estão “com o Santo Padre”.
“Prosseguimos o nosso compromisso de fidelidade e renovamos a unidade através de um trabalho colegial, que nos orientará para um projecto pastoral comum”, indicou.
Antecipando a visita de Bento XVI, no próximo mês de Maio, o Arcebispo de Braga considera que o contributo da Igreja “pode e deve ser esperança para o povo português, a que o Santo Padre virá trazer reforçadas motivações e horizontes”.
Um contributo que passa, assinalou, por “uma acção pastoral repensada e dominada por uma reinterpretação da consciência missionária”.
O prelado aludiu a uma “complexa transformação social”, defendendo ser necessário “promover uma operação cultural de regeneração do pensamento, um pensamento novo, capaz de envolver diversos saberes e culturas, e que corresponda à natureza pluridimensional do ser humano”.
“As tremendas anomalias que caracterizam a nossa sociedade são doenças graves que necessitam de ser encaradas com experiências corajosas e inovadoras, projectando um caminho novo a percorrer com novas regras e novas orientações”, declarou.
A intervenção social da Igreja e a sua resposta à crise actual vão estar na agenda dos trabalhos dos Bispos portugueses.
Na abertura dos trabalhos, o presidente do episcopado chamou a atenção para “a acumulação desonesta, plasmada numa astúcia nem sempre eticamente certa e guiada por processos desumanizantes da economia”.
D. Jorge Ortiga considera que esta situação “gera uma actividade sem escrúpulos e situações de corrupção ou de aproveitamento dos mais fracos”.
“A vigilância deve ser, por isso, permanente, sem medo de criticar os frequentes desvios que estão a gerar situações injustas e pecaminosas, como consequência de muita apropriação indevida”, assinalou.
Para D. Jorge Ortiga, “o amor à verdade, preocupação permanente da Igreja, deveria chegar ao Estado e a muitas outras instâncias de decisão”.
“O futuro da sociedade está condicionado pelo contributo que cada um oferece para um clima de confiança mútua, de segurança e de tranquilidade”, indicou.
O presidente da CEP lamentou que, do ponto de vista da acção social da Igreja, “nem todos” queiram reconhecer o trabalho existente e sejam poucos “aqueles que conhecem o dinamismo da caridade”.
“Não estamos numa exposição de vaidades, mas a sociedade necessita de (re)conhecer o que move muitas instituições”, observou.
Para o Arcebispo de Braga, “os caminhos da solidariedade exigem a sobriedade que parece ser alheia aos dinamismos de quem acredita na felicidade do ter e no gozo ilimitado”.
“Viver para além das reais possibilidades engana e está a conduzir a situações dramáticas na vida das pessoas e das famílias”, alertou.
Aos cristãos, D. Jorge Ortiga deixou o desafio de “descobrir, reconhecer e libertar os pobres”.
“Sabemos que existem situações de miséria escandalosa. Precisamos de ir ao encontro daqueles que sofrem e oferecer-lhes uma dignidade superior à de um mero número estatístico”, apontou.
Durante a assembleia da CEP vão ser apresentadas as Conclusões do Relatório sobre as instituições de apoio social. Deverá ser ainda divulgada a Carta Pastoral sobre a dimensão missionária da Igreja.
O Pe. Manuel Morujão, Secretário da CEP, facultará aos jornalistas uma breve informação sobre o andamento dos trabalhos no dia 14 de Abril, às 12h45.
Após o encerramento da Assembleia haverá, no dia 15 de Abril, às 14h00, uma conferência de imprensa na qual será apresentado o comunicado final.