Paz na Terra

A iniciativa foi anunciada no dia da tomada de posse da actual Comissão Nacional Justiça e Paz: promover o encontro “por uma cultura da Justiça e da Paz” para celebrar os 40 anos da Encíclica “Pacem in Terris” O Presidente da CNJP enquadra este encontro. Agência Ecclesia – A Pacem in Terris é um bom programa para este mandato da Comissão Nacional Justiça e Paz? Armando Sales Luís – É indiscutivelmente uma excelente matriz programática para o nosso mandato. AE – 40 anos depois que actualidade adquire a Pacem in Terris? ASL – Foi para todos nós, na Comissão, interpretada como significativa a convergência de três factos, no momento em que fomos nomeados: a eminência próxima duma guerra, em atmosfera que reproduzia de forma talvez ampliada o clima de pavor vivido quarenta anos atrás, quando dois blocos mundiais, aparentemente equipotentes em armas de destruição total, se arreganhavam em ameaças de imediato confronto; o facto de João Paulo II ter escolhido para tema do dia da Paz, deste ano, a evocação da Pacem in Terris, quarenta anos antes proclamada, para prescrever como caminho para a paz hoje, exactamente o que nela era referido como solução, e através dela definir o que eram guerras ilegítimas e defesas legítimas; o sentirmos que, afinal, o comportamento, hoje, dos homens, dos poderes, das sociedades, dos países e seus governos, dos mundos em que se divide o mundo, está cada vez mais afastado de tudo aquilo que pode constituir a verdadeira Paz. AE – Como é possível, hoje, cumprir a proposta da Pacem in Terris: “as relações mútuas entre os Estados devem basear-se na verdade”(nº86)”, “reger-se pelas normas da justiça”(nº91), “desenvolver em uma solidariedade dinâmica através de mil formas de colaboração” (nº.98) e “reger-se pelo critério da liberdade” (nº120)? ASL – João Paulo II transmite-nos, na última mensagem do Ano Novo, a forma como as bases da Verdade, da Justiça, da Solidariedade e Amor e da Liberdade, constituem o suporte da Paz, através da percepção dos direitos próprios mas também dos deveres para com os outros, no respeito por acatar os direitos alheios e cumprir os deveres para com os demais, na necessidade de sentir como suas as necessidades dos outros e com eles partilhar o que se possui, tanto em valores materiais como culturais ou espirituais. Transmite-nos ainda a mensagem de que a liberdade de cada um implica responsabilidade e é condicionada pela liberdade do “outro” ou dos “outros”. AE – Que fronteira legítima é possível erguer diante do relativismo crescente com que se olham os direitos e os deveres? ASL – É frequente referir que a cada direito corresponde um dever, e que os direitos de cada um são limitados pelos do próximo. O que se vem constatando é a hipertrofia da exigência individual dos direitos pessoais ou de grupo, e a omissão sistemática da consideração dos direitos alheios. A fronteira ideal é definida no Evangelho: “amar o próximo como a si mesmo”. Propomos que seja tendencialmente cultivada. AE – “É-nos igualmente doloroso constatar como em Estados económicamente mais desenvolvidos se fabricaram e ainda se fabricam gigantescos armamentos. Gastam-se nisso somas enormes, de recursos materiais e energias espirituais. Impõem-se sacrifícios nada leves aos cidadãos dos respectivos países, enquanto outras nações carecem da ajuda indispensável ao próprio desenvolvimento económico e social” (nº109). Qual o seu comentário, tendo em conta o contexto presente, a esta afirmação da Pacem in Terris? ASL – As observações de há 40 anos são verdadeiras ainda hoje, só que com uma amplificação tremenda, a acarretar consequências monstruosas. O fabrico de armas de destruição maciça porque matam o homem e a natureza, cada vez mais refinadas, sobem ao topo dos negócios, esgotam as capacidades de países onde a população morre de fome e das suas consequências. O desenvolvimento económico, social e educativo dos povos está em chocante desproporção com as enormes capacidades científica, tecnológica e cultural deste início de século. AE – Com que objectivo a CNJP promove o Encontro “Por uma Cultura de Justiça e de Paz”? ASL – Considerámos que a Paz, como a Justiça, serão o reflexo do que cada um progressivamente intui, numa atitude mental de pesquisa e adesão volitiva, tendente ao correcto entendimento fraternal com o próximo. Implica, necessariamente, caminhada, inquietação, apoio, estudo, descoberta, progressão. Implica pois Cultura. Vamos à Capital Nacional da Cultura, deste ano, em Portugal, vamos a Coimbra. Vamos, num encontro de Movimentos, Comunidades e Grupos de Cristãos, festejar os 40 anos da Pacem in Terris estudando a sua lição, e estabelecer os nós de uma rede de articulação de cristãos ao serviço da Paz e da Justiça.. AE – Que reflexos terá na sociedade? ASL – Inquietar. Acordar. Particularmente para as pessoas que pensam possível aliar a mensagem de Cristo com a Guerra ou as suas capas. AE – Que projectos da CNJP seguirão a realização deste Encontro? ASL – Continuar a articulação com os Parceiros, e estabelecer as formas de “ir ao encontro das mulheres e dos homens de boa vontade”, para, com todos, realizar em Lisboa um Congresso em Novembro. Com todos, de qualquer credo ou religião, ou agnósticos, de qualquer movimento político ou associativo, que queiram fazer a Cultura da Paz. A lembrar a Doutrina Social da Igreja.

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