Património religioso: prioridades da Igreja Católica opõem-se às do Estado

Turismo do Norte não quer visitas «em massa»; «o que temos feito vai num sentido completamente oposto a isso», contrapõe arquidiocese de Braga

O director da Delegação do Turismo Religioso do Porto e Norte de Portugal, Marco Sousa, quer que os visitantes do património da Igreja Católica se distingam pela qualidade e não pela quantidade.

“Não é do interesse de nenhum agente ligado ao Turismo e à Igreja que todo o património se torne alvo de uma visitação em massa”, afirmou à Agência ECCLESIA.

“Pretendemos um turismo essencialmente de qualidade, sustentável e que esteja dentro dos parâmetros que queremos no Norte, ou seja, de excelência, e não massificado”, acrescentou o responsável.

O director do Departamento dos Bens Culturais e Patrimoniais da arquidiocese de Braga, cónego José Paulo Leite de Abreu, opõe-se àquela perspectiva: “O que temos feito vai num sentido completamente oposto a isso. Queremos que a fruição do património religioso seja a mais generalizada possível”.

A discórdia entre as directrizes defendidas pelo turismo religioso do Estado e da Igreja Católica concretiza-se, por exemplo, nos recentemente restaurados mosteiros de São Martinho de Tibães e de Vilar de Frades (Barcelos), inseridos na arquidiocese bracarense.

A orientação seguida pela Igreja na hospedaria e albergaria do Mosteiro de Tibães, administradas por uma congregação religiosa feminina, obedece a uma “política de custos controlados”, explicou o cónego José Paulo de Abreu.

“Há uma oferta para o cliente de luxo, mas temos vindo a lutar para que se crie uma linha de preços acessíveis a todas as pessoas”, referiu o responsável, sublinhando que “não há nenhuma lógica selectiva e elitista” da parte da arquidiocese.

“Infelizmente, aquilo que registamos é que muitas vezes não há o apreço devido pelas coisas bonitas que temos no nosso território. Para nós, o perigo que se coloca não é o de excesso de procura mas de subestima face à rara beleza que nos foi legada”, frisou o sacerdote.

Depois de recordar que a gestão dos mosteiros de Tibães e Vilar de Frades pertence ao IGESPAR, o cónego José Paulo de Abreu assinalou que a arquidiocese se congratula com a “qualidade e o resultado final” do seu restauro.

Os dois monumentos, salienta, podem ser visitados gratuitamente por todas as pessoas, o mesmo sucedendo com o acesso às celebrações litúrgicas, à semelhança do que acontece em todos os espaços católicos.

Para Marco Sousa, a colaboração dada pela Igreja ao turismo religioso na recuperação dos imóveis, abertura dos templos, disponibilização de informação e inventariação tem sido “excelente”.

“Esperamos que todas estas parcerias continuem, no sentido de trazermos cada vez mais turistas e de mostramos todo o nosso património religioso, que é imenso”, concluiu o responsável.

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