Importância da dimensão pastoral do património cultural-espiritual da Igreja em destaque no período privilegiado de descanso e viagem dos portugueses Após ter sido esquecida durante décadas, a arte sacra parece interessar cada vez mais o público em geral e, particularmente, as gerações mais jovens. Trata-se, evidentemente, de um fenómeno mais amplo que se exterioriza na multiplicação de exposições, festivais e na afluência das camadas juvenis a essas manifestações. Aliás, sabendo disso, as agências turísticas propõem itinerários em que a vertente estética ocupa em lugar de vulto (ao menos na intenção!), como resposta a uma nova sensibilidade. Isto não deixa de ser um desafio para a Igreja e para as comunidades locais. Durante as férias, é grande a afluência de turistas aos monumentos, aos lugares históricos, aos museus, às igrejas. Estes visitantes interessados e mesmo entusiastas são, em grande parte, jovens. E muitos desses jovens que visitam as nossas igrejas, embora educados ainda em ambiente cristão, não possuem cultura religiosa, porque – comenta um bispo de Espanha – “não temos acertado em interessar os catequistas e os responsáveis da acção pastoral em geral, incluindo os sacerdotes, sobre o valor evangelizador e formativo da arte cristã frente à vida da fé e à celebração dos mistérios da salvação”. Este tempo de férias, em que a actividade pastoral corrente, organizada à volta da vida sacramental, é, em parte, suspensa ou esbatida, poderia orientar-se para o acolhimento destes visitantes. E, se várias iniciativas poderão ter lugar, particularmente centradas na eucaristia dominical que tenha em conta uma celebração mais adaptada a uma configuração diferente da assembleia, uma resposta, adaptada aos anseios dos visitantes e às suas buscas de carácter mais estético, poderá constituir uma excelente oportunidade de anúncio evangélico e de verdadeira catequese. Com toda a simplicidade, devemos confessar que não se tem dado a devida importância à dimensão pastoral do património cultural-espiritual da Igreja. Por isso, o citado bispo, insiste: “torna-se cada dia mais necessário nos âmbitos da catequese e da liturgia, da formação sacerdotal e da preparação dos artistas e dos profissionais que hão-de trabalhar nos lugares de culto, prestar maior atenção não só à arte religiosa, mas especialissimamente à arte sacra”. Contudo, alguma coisa, ainda que modesta, será possível fazer. Em primeiro lugar, ter as igrejas abertas, em determinados horários anunciados e publicitados (porventura, com um cartaz à porta). Isso implica, também, que haja alguém com capacidade de acolher (um reformado que ofereça voluntariamente umas horas). Torna-se necessário que as igrejas se mantenham limpas e asseadas, em ordem e com um ambiente cuidado, no que respeita aos arranjos, aos espaços celebrativos e adjacentes, à reserva eucarística, devidamente assinalada, com a lâmpada de azeite acesa, às alfaias e aos paramentos, etc. O ideal seria que alguém, minimamente preparado do ponto de vista histórico, artístico e catequético, pudesse guiar um grupo na visita (talvez não seja impossível interessar e preparar um ou outro jovem universitário). Um breve diálogo que possa estabelecer-se e, sobretudo, essa solicitude pela igreja é um testemunho inequívoco de fé e de amor que se gravará na memória dos visitantes. Mas se, de todo em todo, não for possível ter um guia, talvez um folheto, uma brochura possam colmatar essa deficiência. Muitos desses visitantes serão, porventura, imigrantes que, no mês de Agosto, regressam às raízes para contactar com familiares, vizinhos, amigos de escola, observar o progresso da sua terra, etc. Mas a igreja, mesmo a mais humilde, onde foram baptizados e onde celebraram outros relevantes acontecimentos da sua vida, constitui um pólo atractivo de primeira ordem que, mesmo que não tenham sido muito praticantes, não deixará de os interessar (com tudo o que a ela se refere) e não deixarão de visitar. A conservação destes laços espirituais poderá ser muito importante e até decisivo para a sua vida humana e cristã nos outros países onde trabalham e onde, porventura, já se estabeleceram. Finalmente, nunca poderemos avaliar bastante a eloquência evangelizadora do património cultural e espiritual da Igreja. Talvez nos baste o interesse que ele hoje, generalizadamente, desperta, para que não possamos ignorá-lo ou dá-lo de barato. Secretariado Diocesano de Liturgia do Porto, Voz Portucalense
