Patriarca pede sinais de «esperança» aos católicos

D. José Policarpo inaugurou jornadas de estudos teológicos com reflexão sobre a relação entre a Igreja e o mundo moderno

Lisboa, 17 Fev (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, pediu hoje aos católicos que se mostrem capazes de “suscitar e acordar” uma “mensagem de esperança” para o mundo moderno.

Este responsável falava na sede da Universidade Católica Portuguesa (UCP), em Lisboa, na abertura dos trabalhos das jornadas de estudos teológicos que decorrem neste dia 17.

Numa conferência centrada na relação entre a Igreja e o mundo, numa “leitura dos sinais dos tempos”, o cardeal-patriarca falou na “perenidade” de um dos “grandes temas” do II Concílio do Vaticano.

O Concílio, reunião magna do Papa com bispos de todo o mundo, decorreu no início dos anos 60 do século passado, sendo considerado como um ponto de viragem na história da Igreja Católica.

D. José Policarpo destacou que o Vaticano II optou por não começar com uma “condenação” dos erros do mundo, sublinhando que “não há leitura possível dos sinais dos tempos se a Igreja olha para a realidade humana para a condenar”.

“A salvação acontece na história”, disse, e está ligada a “utopias, ideais, coisas bonitas e menos bonita que este mundo moderno nos vai proporcionando”.

Num tom mais pessoal, o patriarca lisboeta falou de um certo esvaziamento do optimismo que se vivia há 50 anos, época marcada por uma “atitude nova da Igreja” em relação ao mundo contemporâneo, abandonando esquemas de “condenação”.

“Não tenho a certeza de que a declaração inicial não retomaria as condenações do mundo moderno”, disse, a respeito de um eventual terceiro Concílio do Vaticano.

“A nossa reacção em relação ao mundo em que vivemos está longe de ter o optimismo, a objectividade da esperança que os nossos irmãos dos anos 60 foram capazes de ter”, prosseguiu.

Para D. José Policarpo, a leitura dos “sinais dos tempos” é uma “dimensão perene da missão da Igreja”.

O também magno chanceler da UCP lembrou a constituição pastoral «Gaudium et Spes», sobre a Igreja no mundo actual, de 1965, documento conciliar em que se manifesta o “desafio, o dever de a Igreja continuamente fazer um esforço por discernir na realidade do mundo sinais do Reino de Deus”.

“Se há aspecto importante na vida da Igreja é a sua relação com o mundo”, acrescentou.

D. José Policarpo admitiu alguma “ingenuidade” na “euforia” gerada por uma “visão optimista em relação ao mundo”, mas vincou a necessidade de assumir, constantemente, “o desafio de ler a história”.

Este responsável alertou para o “vício da análise” e defendeu que “se a Igreja não cultivar a dimensão profética da sua missão, ela nunca perceberá o que é este desafio de ler os sinais dos tempos”.

Noutro ponto da sua intervenção, o cardeal falou numa “igreja muito clerical”, declarando que os leigos “não arriscam a verdade da sua fé no mundo em que estão inseridos”.

O patriarca de Lisboa disse ainda que “a leitura dos sinais dos tempos não está ligada a factos, está ligada a acontecimentos”, particularmente significativos.

Nesse contexto, os católicos devem acompanhar as “tomadas de consciência colectivas” que geram dinâmicas “imparáveis”.

“Aí compete à Igreja entrar dentro da corrente e perceber qual é a atitude específica que ela deve tomar”, precisou.

Em conclusão, D. José Policarpo deixou votos de que a Igreja saiba “estar dentro da história de coração aberto”.

OC

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