D. José Policarpo defendeu ontem em Lisboa que a globalização é “o fenómeno mais significativo nos últimos 25 anos, com implicações culturais, económicas e políticas”. O Cardeal-Patriarca falava no arranque das comemorações dos 25 anos do Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa, da UCP. A intervenção foi subordinada ao tema “Leitura dos sinais dos tempos, um olhar cristão sobre a História”. Numa reflexão que abrangeu as várias dimensões enunciadas, D. José Policarpo indicou que “o mercado global tem de ser concebido como caminho para a justiça e para a promoção das camadas da população mundial menos capazes de aceder, na sua existência concreta, a níveis de dignidade”. Perante um mundo em que cada vez menos coisas são desconhecidas, o Patriarca de Lisboa frisou que “o confronto atávico entre pobres e ricos, o combate à miséria e doenças endémicas, porque se tornaram visíveis no todo global, já não podem ser ignorados ou relativizados, se não forem tidos em conta pelo todo global, carregarão ameaças de conflitos incalculáveis”. Neste quadro da globalização, insitiu, a Igreja é chamada a renovar a consciência da sua universalidade e a tirar daí as necessárias ilações pastorais. “O cristianismo foi a única religião que se afirma constitutivamente na sua dimensão universal”, observou. Crise ocidental O Cardeal afirmou que “a crise do Ocidente é uma crise de cultura e de modelos de vida e de desenvolvimento, que hoje só podem subsistir numa compreensão global”. “Não se trata de uma crise de poderes, sejam eles políticos, económicos ou militares, mas uma crise de sentido e da natureza transcendente do homem e da história”, prosseguiu. “O Ocidente está a pagar um preço caro por este erro de perspectiva, com políticas imediatistas de quem navega à vista, sem perspectivas de profundidade e de longo prazo, o único que se compadece com as exigências da globalização”, alertou. Nesta “mutação cultural”, asseverou, ganha destaque “a globalização da comunicação, através de poderosas e modernas tecnologias”. Em conclusão, D. José Policarpo assinalou que “a Igreja deve ser a afirmação viva e generosa da prioridade do espírito sobre a matéria, na certeza que só essa primazia do espírito, que também se exprime na cultura, pode desconjurar as ameaças globais, de guerra nuclear, de destruição do planeta, ameaçado por políticas erradas e por egoísmos consumistas descontrolados”. Notícias relacionadas • Leitura dos sinais dos tempos, um olhar cristão sobre a História • Interculturalidade em português