Pastoral Penitenciária: Cartas enviadas aos reclusos preparam a Jornada Mundial da Juventude nas prisões

Padre José Luís Costa destacou também «gesto missionário» que vai levar voluntários aos estabelecimentos prisionais antes da semana da JMJ e a construção dos confessionários em três cadeias

Foto: Folha do Domingo/Samuel Mendonça

Lisboa, 14 abr 2023 (Ecclesia) – O ‘Caminho 23’, direção do Comité Organizador Local (COL) da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023, está a escrever cartas aos reclusos em Portugal, uma “atividade que não tem um teor proselitista” mas que pretende envolver a comunidade prisional neste encontro.

“Os reclusos são convidados a ler as cartas, os que quiserem, obviamente, não é uma distribuição panfletária mas uma proposta que é feita não só aos cristãos mas também aos homens de boa vontade, mesmo de outras religiões, que queriam acompanhar este evento e este acontecimento”, disse o coordenador da Pastoral Penitenciária de Portugal, da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), em declarações à Agência ECCLESIA.

O padre José Luís Costa explica que esta iniciativa, que começou no mês de março, o ‘Caminho 23’ escreveu “um conjunto de cartas dirigidas àqueles que quiserem receber”, inscreveram-se “algumas dezenas de reclusos”, e já têm duas cartas distribuídas, que foram entregues pelas capelanias nos Estabelecimentos Prisionais.

“A carta é recebida, dada em mão pelos assistentes espirituais e religiosos, e é proposto que depois o recluso comente a carta, que seja motivo de encontro no contexto da assistência espiritual e religiosa, no contexto de camaradagem que estabelece com outros reclusos. E se sentir necessidade de interpelar, de perguntar, comunicar, que possa responder a essa carta, entregando ao capelão ou ao assistente espiritual”, desenvolveu.

O coordenador da Pastoral Penitenciária destaca que esta atividade “não tem um teor proselitista, nem o pretende ter”, mas é uma forma de permitir que quem “não pode participar de uma forma plena na Jornada Mundial da Juventude” se reconhecesse no acompanhamento mediático que vai acontecer, “identificasse as cores, o hino, e a mensagem deste encontro organizado pela Igreja Católica”.

Segundo o sacerdote, as cartas, “de alguma forma, também vão acompanhar as catequeses que estão previstas no Rise Up” como projeto de preparação da comunidade juvenil para a vinda do Papa, mas “adequadas ao contexto prisional”.

“É importantíssimo que esta preocupação da totalidade da Igreja nesta grande Jornada Mundial da Juventude não fique como mais uma inacessibilidade no contexto das muitas com que a população prisional já é confrontada. A privação de liberdade, quer queiramos, quer não, afasta o homem das suas identidades mais profundas e valores mais efetivos e performativos.”

Foto: Agência ECCLESIA/CB

O padre José Luís Costa destaca que “é um desafio para a própria Igreja não deixar ninguém para trás”, nem deixar que aqueles que seja por motivos de direito e justiça, seja por motivos de saúde, seja por motivos de incapacitação física ou mental, “fiquem distantes deste acontecimento” e que, pelo menos, o possam preparar e seguir pelo “acompanhamento mediático que será oferecido”.

O coordenador nacional da Pastoral Penitenciária destacou também, num “contexto diferente”, a iniciativa ‘gesto missionário’ que vai levar voluntários aos Estabelecimentos Prisionais das três dioceses de acolhimento da Jornada Mundial da Juventude – Lisboa, Santarém e Setúbal – antes da semana do encontro na capital portuguesa.

“Os voluntários de várias origens e de várias culturas podem passar por estas zonas que estão incapacitadas de participar na Jornada Mundial da Juventude e fazer uma atividade missionária. Isso quer dizer que irão para os hospitais, para os lares, para clínicas de saúde mental e também para os Estabelecimentos Prisionais”, explicou o padre José Luís Costa.

Segundo o sacerdote, pretende-se “um tempo de encontro”, de acordo com cada realidade local, onde haverá “conhecimento, troca de nomes, de caras, haverá mensagem”, uma passagem deste “desejo de boa vontade e de esperança para todos”, e está pensada também “uma troca de pulseiras” entre os voluntários e quem está no Estabelecimento Prisional, levando nomes dos reclusos para a JMJ Lisboa 2023.

O coordenador do setor da Pastoral Penitenciária da Igreja Católica em Portugal adiantou que “quase todos os Estabelecimentos Prisionais estão recetivos” a este ‘gesto missionário’, foram contactados “à volta de 15 que têm respondido com agrado”.

“É um sinal fantástico do testemunho profético que as Jornadas podem ser e devem ser”, destacou o padre José Luís Costa, explicando que esta iniciativa, uma “responsabilidade direta do Comité Organizador Local (COL)”, vai ser construída com as instituições prisionais, “com os educadores, as direções, os seguranças”, e “criar a possibilidade de participação”, de formação dos voluntários, da equipa de segurança e educação e “da participação voluntária dos reclusos”.

Foto: JMJ Lisboa 2023

“É o seu trabalho a ser associado a este acontecimento. Ninguém está a trabalhar gratuitamente, os reclusos estão a receber aquilo que é previsto de acordo com a lei. Mais do que um trabalho é a oportunidade de fazer com as mãos um itinerário de reconciliação e de integração novamente na comunidade”, realçou o coordenador da Pastoral Penitenciária de Portugal.

Estes 150 confessionários, uma estrutura de pequenas dimensões, com uma silhueta a remeter para o desenho de uma casa, têm como destino o ‘Parque do Perdão’, um espaço de reconciliação individual e comunitária da JMJ Lisboa 2023, que está integrado na ‘Cidade da Alegria’ que vai ficar em Belém.

“Acho que é muito amigável para a celebração dos sacramentos da reconciliação e não podia deixar de ser. Não é a caixa clássica, respira abertura, respira luz, mas é aconchegante”, observou o padre José Luís Costa.

CB

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