Pastoral do Ensino Superior

Pe. Nuno Santos

Quando penso em identidade penso no ‘existir inteiro’. Às vezes a vida acontece a ‘metade’ e por isso, tudo é mais pobre, mais incompleto e mais superficial. Viver acontece aquém e além das evidências. Somos muitas perguntas e somos, concomitantemente, possibilidade de diálogo.

Falar de Identidade da Pastoral no ensino superior, para mim, significa arriscar a possibilidade de existir e pensar a partir de um método capaz de cruzar a razão com a fé, o finito com o infinito, e o imanente com o transcendente.

Efetivamente, há muita vida que acontece para além das respostas rápidas e soluções fáceis. Há muita realidade para além daquilo que os nossos olhos captam e os nossos sentidos experimentam. Há claramente um mundo de perguntas à procura de resposta.

Neste contexto, o tempo de hoje é um desafio a percorrer caminhos mais holís-ticos e a assumir paradigmas mais complexos de interação – onde fé e razão (se quisermos, ciência e Deus) se provocam e se convocam.

Claro que nesta ‘convocação’ tem de se assumir o respeito pela autonomia e a capacidade de distinguir os métodos para podemos construir pontes. Aqui, como em muitas outras circunstâncias – distinguir não é separar.

Falar de identidade da pastoral neste contexto tem certamente muito a ver com a necessidade de rasgar horizontes de relação da ‘terra’ com o céu’ na vida daqueles que passam grande parte do seu tempo nas nossas universidades, politécnicos e outras instituições do ensino superior. Uma relação feita de muitos modos e de muitas maneiras, sem soluções (mágicas) a priori, mas com horizontes definidos e objetivos claros.

Uma pastoral do ensino superior mais do que ter respostas deve ajudar a fazer perguntas sobre o sentido mais profundo o existir; mais do que apresentar soluções deve aceitar fazer caminho; mais do que fazer ‘coisas’ devem estruturar percursos de identidade com os docentes, os investigadores, os funcionários e os estudantes.

Com efeito, podemos concretizar um pouco mais esta identidade citando as “Linhas Orientadoras para a Pastoral do Ensino Superior” que o Serviço Nacional da Pastoral do Ensino Superior (SNPES) publicou recentemente – a 3 de julho de 2011.

Neste texto, no número 6, encontramos que o grande objetivo da pastoral neste ‘mundo’ se concretiza, entre outros aspetos, na dinamização do diálogo e da síntese progressiva e gradual da fé-razão; no diálogo gradual de inculturação não só dos paradigmas poético e artístico, mas também dos grandes axiomas e valores; na procura da consolidação integral da pessoa na formação da sua consciência cristã; no criar “espaços” de encontro com Jesus Cristo; na vivência comunitária da própria fé e no acolhimento afetivo e humano; no dar razões de fé e de esperanças; no ressituar a Igreja no serviço à cultura, como um espaço e um lugar natural, assumindo a origem histórica da Universidade – no contexto eclesial; no criar espaços de diálogo entre os diversos movimentos, grupos e organismos que trabalham no Ensino Superior; no promover uma leitura da realidade do ensino superior na sociedade e atualizar permanentemente essa leitura crítica e construtiva à maneira da leitura dos ‘sinais dos tempos’; na atenção às diversas situações de carência social, especialmente as mais dramáticas e difíceis; na abertura ao diálogo inter-religioso, ecuménico e com não-crentes; no promover e incentivar o acompanhamento pessoal e espiritual nas diversas situações e momentos da vida.

Neste sentido, a identidade da pastoral do Ensino Superior exige da Igreja em Portugal uma maior aposta nas pessoas e nas estruturas para que seja um trabalho cada vez mais consistente e profundo. Uma aposta que tem de passar necessariamente mais pelas comunidades mais estáveis (como os docentes e funcionários) onde cada um se sinta mais protagonista deste ‘agir pastoral’.

Fazer pastoral no ensino superior é ajudar todos os habitantes deste ‘mundo específico’ a descobrir (tirar o que cobre) o Deus que os habita. Um Deus que lhes pode dar mais sentido e que os pode fazer mais felizes – porque inteiros. Também aqui (tal como na ciência) há ‘coisas’ que só se podem comprovar fazendo experiência. 

Que o Senhor nos dê a criatividade dos projetos e a sabedoria da linguagem para continuarmos a anunciar a alegria do Reino com o entusiasmo que só a vivência, pessoal e comunitária, com Deus Trindade pode ‘fazer acontecer’.

Padre Nuno Santos, assistente nacional do Serviço Nacional da Pastoral do Ensino Superior

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