Octávio Carmo, Agência ECCLESIA
No caminho para esta Páscoa, tive o gosto de conduzir um ciclo de entrevistas com o padre Adelino Ascenso, superior geral dos Missionários da Boa Nova, inspirado pela sua obra ‘A Mística do Arado’. Nesta semana especial, para os católicos, vale a pena lembrar o que o sacerdote disse sobre a fé como um “mistério” que exige, do crente, a capacidade de integrar a “dúvida” no seu percurso de vida: “Não existe fé sem dúvida. Uma fé sem ser amassada na própria dúvida não existe, não é fé, acaba por ser crendice. Temos de assumir essa fé que habita a dúvida”.
Nestes dias, há um convite a ver com mais atenção este “Cristo frágil, um Cristo companheiro” que caminha com a humanidade.
É importante ouvir como se fosse a primeira vez: na Semana Santa, vamos encontrar-nos com muitas personagens que representam a humanidade. nos relatos da Paixão de Jesus. Muitas histórias, de perdas e quedas, sonhos e desilusões, tentativas e falhas, fim e Ressurreição. Somos convidados a um exercício de humildade e silêncio, de nos reconhecermos frágeis, para nos abrirmos à voz do Outro. Habitar a palavra sem a subjugar, sabendo que a nossa voz é uma voz ferida. Numa humanidade coberta de sombras, podemos perguntar-nos quanto da escuridão teremos ainda de suportar? Quando chegará, por fim, a luz às nossas vidas? Quem vigia sobre as nossas noites? Quem dá voz a este silêncio?
Somos pessoas em busca da Palavra. Da que nos defina e explique, da que nos oferece sentido, da que cria relações autênticas, da que questiona e ajuda a recomeçar.
A vida não é uma adivinhação, mas uma construção. O caminho que seguimos nem sempre é evidente e, por vezes, precisamos de uma luz, um gesto, um som que nos conforte nesta procura, de sentido e dos sentidos, para percebermos que podemos continuar. Elevados, acima do que vemos. A Páscoa é, acima de tudo, um horizonte de sentido. Um tempo outro, Alto. Permitamos que a Vida se nos manifeste, maior do que a poderíamos conceber.