Investigador Carolino Tapadejo fala numa situação «sui generis» que mistura várias tradições religiosas
Lisboa, 06 abr 2021 (Ecclesia) – Carolino Tapadejo, investigador das tradições de Castelo de Vide, considera que as vivências pascais na localidade são “sui generis” porque são “uma mistura entre catolicismo, judaísmo e hábitos pagãos”.
“Temos uma Páscoa sui generis porque é uma mistura entre o catolicismo, judaísmo, ma também hábitos pagãos que vinham dos antigos pastores”, disse à Agência ECCLESIA.
Na Semana Santa realizam-se “muitas procissões religiosas”, mas a partir de Sexta-feira Santa “tudo se modifica” com o anúncio da “imolação dos cordeiros”.
Em tempos, não muito longínquos, algumas famílias “abatiam os animais” “antes do pôr-do-sol”; outros passaram a fazê-lo no domingo depois “da bênção dos cordeiros”, indicou o entrevistado.
Na localidade de Castelo de Vide (Diocese de Portalegre-Castelo Branco) a convivência entre cristãos e judeus ganhou preponderância a partir do século XVII e essa convivência mantém-se até hoje.
Atualmente, as pessoas “ainda sacrificam os seus animais nos quintais” e fazem todos os rituais “de tirar a pele, para depois vendê-la”, frisou Carolino Tapadejo, antigo presidente da Câmara Municipal de Castelo de Vide,.
O dinheiro realizado com a venda das peles dos animais serve para “comprar o vinho” e as vísceras dos animais são “lavadas com cal branca” para ficarem purificadas.
Uma conjugação de identidades que deu origem a preferências gastronómicas, como “o sarapatel, o prato sagrado de Domingo de Páscoa”.
Na noite de Sábado Santo, “as pessoas não falam em Vigília Pascal mas dizem que vão ver aparecer Aleluia” e aguardam no interior e exterior da Igreja que “os sinos toquem” para anunciar a ressurreição de Jesus.
“São milhares de chocalhos” a tocar e os habitantes “dão as boas festas” uns aos outros.
Aqueles que se desentenderam durante o ano, aproveitam para “dar um abraço e pedir desculpa”, descreveu.
A festa continua pela noite fora com “familiares e amigos” onde se comem os “bolos tradicionais da Páscoa” que têm reminiscências, sobretudo a partir do século XVI.
“Um bolo da massa que não é mais do que pão ázimo com açúcar e canela, chamado de boleima”, precisou Carolino Tapadejo.
Uma tradição que se mantém viva, apesar das limitações da pandemia, porque só se consegue “compreender o presente” se o passado também foi compreendido.
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