D. António Marto quer caridade organizada e activa na diocese
D. António Marto pede que todas as paróquias da diocese de Leiria – Fátima constituam um serviço sócio-caritativo. A diocese vai centrar o seu ano pastoral na caridade social e política, afirma o bispo da diocese D. António Marto, numa carta pastoral «Chamados à Caridade» enviada à agência ECCLESIA, que evidencia um itinerário “formativo e de acção”.
“O serviço sócio-caritativo de cada paróquia terá como função animar a coordenar a prática da caridade, trabalhando em rede dentro de cada vigararia e com a Cáritas diocesana, de forma a conseguir uma actividade “mais coordenada e criativa”.
Quer o bispo que a diocese redescrubra a caridade na “forma de ser cristão”, no seu aspecto pessoal e comunitário, mas também que possa “repensar e reorganizar os serviços sócio-caritativos nas comunidades cristãs”.
“Apelo à reflexão conjunta e à procura de caminhos de cooperação que envolva as instituições de solidariedade social, as misericórdias, as conferências vicentinas, as confrarias e outras, que reforce a identidade e motivação cristã dos seus serviços, possibilite economia de meios e pessoas e leve a servir mais e melhor as pessoas carenciadas”.
Num cenário onde se “ainda se nota uma grande sensibilidade e solidariedade”, mas onde predomina a cultura do “individualismo calculista”, pede o bispo de Leiria – Fátima que cada comunidade “trace um quadro o mais completo possível” das situações de “pobreza e de fragilidade” e verifique as “possibilidades, os meios e os modos de actuação”.
Afirma D. António Marto que o serviço de acção social deve ser programado “tal como se faz com a catequese e a liturgia”.
A caridade deve, segundo o prelado, ser uma componente “indispensável” da formação cristã.
“Há que proporcionar às crianças e aos adolescentes a aprendizagem da capacidade de doação, de partilha e de serviço”, refere, acrescentando ser oportuno criar experiências concretas para os crismandos como visitas ou serviços em instituições que cuidam dos mais vulneráveis.
A caridade que a diocese quer promover deve ser “competente e profissional” nem ser reduzida “a uma mera assistência social nem ser compreendida só a partir da lógica profissional”, escreve o bispo.
Ao longo do ano pastoral a diocese vai promover uma acção de formação para os serviços e grupos sócio-caritativos em cada vigararia de forma a conseguir uma actividade caritativa “independente de ideologias e partidos, sem proselitismo, não lucrativa e humilde na aproximação aos necessitados”.
Lembra D. António Marto que a cooperação missionária é uma forma de caridade. A diocese de Leiria – Fátima está envolvida numa geminação com a diocese do Sumbe em Angola, contando com um sacerdote e alguns leigos a trabalhar na missão do Gungo.
“Faço um apelo para que esta realidade seja dada a conhecer em cada uma das nossas comunidades, de tal modo que se torne interpeladora e suscitadora de vocações missionárias entre os jovens e menos jovens, em forma de voluntariado, e que cada comunidade se sinta corresponsável neste projecto”.
D. António Marto explica ainda que cada família é, por natureza, chamada à caridade.
“Sugiro a cada família fazer um exame de consciência sobre a qualidade das suas relações, cultivar gestos de partilha com os mais necessitados, educar os filhos para a generosidade e gratuidade no serviço aos outros”.
Escreve o prelado, na carta pastoral, que as fragilidades sociais se acentuam num mundo paradoxal.
“Aumenta a riqueza mas crescem as desigualdades, aumenta a produção mas morre-se de fome, aumenta o consumismo mas sobem os índices de infelicidade”, uma realidade, afirma, que atinge 18% da população portuguesa que vive em situação de pobreza.
“O desemprego é um flagelo e uma das causas primárias da exclusão social. Hoje, a injustiça, a pobreza, a fome e a exclusão social são uma interpelação humana que brada aos céus”, num confronto com as necessidades de “alimentação, vestuário, saúde, casa, trabalho, recursos económicos”.
No tempo de Quaresma, a diocese vai ainda propor um retiro para cultivar “a espiritualidade” e promover “exemplos luminosos da caridade”.
Espera D. António Marto conseguir “atear o fogo da caridade nas famílias e nas comunidades cristãs” e assim “ter fundada esperança numa primavera vocacional”.