Bento XVI lembra crise económica, pobreza, terrorismo, catástrofes naturais e violência crescente contra os cristãos Bento XVI traçou esta Quinta-feira um retrato preocupante da situação internacional, destacando o “recrudescimento da violência” na Terra Santa. “Mais uma vez, queria repetir que a opção militar não é uma solução e que a violência, de onde quer que ela venha e seja qual for a forma que tome, deve ser condenada firmemente”, assinalou. O Papa falava no Vaticano ao receber os membros do corpo diplomático acreditado junto da Santa Sé, em representação de 177 países. Este é um dos discursos mais importantes do ano e permitiu a Bento XVI traçar uma espécie de radiografia do mundo, continente por continente, falando da crise económica, da pobreza, do terrorismo, das catástrofes naturais e da violência crescente contra os cristãos. Para Bento XVI, a actual situação em Gaza “provoca danos e sofrimentos imensos às populações civis” e complica ainda mais “a busca de uma saída para o conflito entre israelitas e palestinianos, vivamente desejado por muitos de entre eles e pelo mundo inteiro”. O Papa deixou votos de que “com o compromisso determinante da comunidade internacional, a trégua na Faixa de Gaza entre novamente em vigor – algo que é indispensável para dar condições de vida aceitáveis às populações – e que sejam relançadas negociações de paz renunciando ao ódio, às provocações e ao uso das armas”. Num contexto de eleições, Bento XVI deseja que surjam “dirigentes capazes de fazer avançar, com determinação, este processo e guiar os seus povos para a reconciliação, difícil mas indispensável”. No Médio Oriente, o Papa aludiu ainda à necessidade de diálogo entre Israel e a Síria, à situação no Líbano e à importância de negociações sobre o programa nuclear iraniano, “permitindo satisfazer as exigências legítimas do país e da comunidade internacional”. Sobre o Iraque, ficou um apelo ao “virar da página”, para construir um futuro “sem discriminação de raça, etnia ou religião”. Violência e pobreza No início de um novo ano, o Papa recordou os que foram vítimas de catástrofes naturais em 2008, em particular no Vietname, Birmânia, China, Filipinas, América Central, Caraíbas, Colômbia e Brasil. Uma palavra especial foi ainda dirigida aos que sofreram na pele as consequências dos “sangrentos conflitos nacionais ou regionais”, bem como dos “atentados terroristas que semearam a morte e a destruição em países como o Afeganistão, a Índia, o Paquistão ou a Argélia”. “Apesar de tantos esforços, a paz tão desejada está ainda longe”, lamentou Bento XVI, pedindo que não diminua “o compromisso em favor de uma cultura de paz autêntica”, redobrando esforços em favor “da segurança e do desenvolvimento”. O Papa retomou as ideias defendidas na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz 2009, defendendo que “para construir a paz, é essencial voltar a dar esperança aos pobres”. “Como deixar de pensar em tantas famílias provadas pelas dificuldades e incertezas que a actual crise financeira e económica provocou à escala mundial?”, questionou. Bento XVI falou também da crise alimentar e do aquecimento global, “que tornam ainda mais duro o acesso ao alimento e à água” para os habitantes das regiões mais pobres do mundo. “É urgente adoptar uma estratégia eficaz para combater a fome e facilitar o desenvolvimento agrícola local, tanto mais que a proporção dos pobres aumenta mesmo no interior dos países ricos”, indicou. O Papa condenou o crescimento da despesa militar, que retira “enormes recursos humanos e materiais” aos projetos de desenvolvimento, minando os processos de paz. “Hoje, mais do que no passado, o nosso futuro está em jogo, assim como o próprio destino do nosso planeta e dos seus habitantes”, alertou. Cristãos em risco Bento XVI falou das “discriminações e ataques muito graves” de que milhares de cristãos foram vítimas no ano passado, considerando que as mesmas “mostram como não é só a pobreza material, mas também a pobreza moral que prejudica a paz”. “Reafirmando o alto contributo que as religiões podem dar à luta contra a pobreza e à construção da paz, quero repetir que o cristianismo é uma religião de liberdade e de paz, que está ao serviço do verdadeiro bem da humanidade”, assinalou. O Papa recordou os “irmãos e irmãs vítimas da violência, especialmente no Iraque e na Índia”, renovando a sua proximidade e pedindo às autoridades que “coloquem um ponto final à intolerância e aos vexames contra os cristãos”, procurando ainda reparar “os danos provocados, em particular aos lugares de culto e às propriedades”. Bento XVI pediu que se procure, por todos os meios, “o justo respeito por todas as religiões, proscrevendo todas as formas de ódio e desprezo”. Em particular, o Papa pediu que no mundo ocidental “não se cultivem preconceitos ou hostilidade contra os cristãos, simplesmente porque, em certas questões, a sua voz é diferente”. Nesta “fase delicada da história da humanidade, marcada por incertezas e interrogações”, concluiu, “muitos esperam que a Igreja exerça com coragem e clareza a sua missão de evangelização e a sua obra de promoção humana”. Foto: Lusa