Papa quer renovar diálogo com os artistas

Bento XVI encontrou-se este Sábado com cerca de duas centenas e meia de artistas de todo o mundo, a quem pediu que sejam “testemunhas de esperança para a humanidade”. Entre os presentes na Capela Sixtina estava o poeta madeirense José Tolentino Mendonça.

A iniciativa – para a qual fora também convidado o cineasta Manoel de Oliveira, sabe a Agência ECCLESIA – assinalava o décimo aniversário da carta de João Paulo II aos artistas e o 45.º aniversário do encontro de Paulo VI com artistas, no mesmo local.

Perante artistas das mais diversas áreas, Bento XVI lançou um “cordial, amistoso e apaixonado apelo”: “Recordai-vos que sois os guardiães da beleza no mundo!”

“A fé nada tira ao vosso génio, à vossa arte, antes exalta-o, nutre-o, encoraja-o”, assegurou.

O Papa fez um convite “à amizade, ao diálogo, à colaboração” aos cerca de 250 artistas, “de países, culturas e religiões diversas, porventura até mesmo distantes de experiências religiosas”, mas todos “desejosos de manter viva uma comunicação com a Igreja Católica, sem restringir os horizontes da existência à mera materialidade, a uma visão redutiva e banalizante”.

Com Bento XVI estavam pintores e escultores, arquitectos, escritores e poetas, compositores e cantores, e ainda artistas do mundo do cinema, do teatro, da dança, da fotografia.

O Papa explicou a todos que “com este encontro desejo exprimir e renovar a amizade da Igreja com o mundo da arte, uma amizade consolidada no tempo, pois o Cristianismo, desde as suas origens, compreendeu o valor das artes, utilizando sapientemente as suas multiformes linguagens para comunicar a sua imutável mensagem de salvação”.

Citando Paulo VI, em 1964, o actual Papa lembrou o compromisso então assumido de “restabelecer a amizade entre a Igreja e os artistas” e recordou as palavras dirigidas aos artistas no encerramento do Concílio Ecuménico Vaticano II, a 8 de Dezembro de 1965: “A vós todos, a Igreja do Concílio diz com a nossa voz: se sois amigos da verdadeira arte, sois nossos amigos”.

Bento XVI falou do nosso mundo actual, “marcado, não só por fenómenos negativos a nível social e económico, mas também por um enfraquecimento da esperança, por uma certa desconfiança nas relações humanas, razão pela qual crescem os sinais de resignação, de agressividade, de desespero”.

Neste contexto, o Papa recordou que “uma função essencial da verdadeira beleza, já evidenciada por Platão, consiste em comunicar ao homem uma espécie de ‘choque’ que o faz sair de si mesmo, o arranca à resignação, ao acomodamento ao quotidiano, o faz até mesmo sofrer, como um dardo que o fere, mas precisamente por isso o ‘desperta’, abrindo-lhe novamente os olhos do coração e da mente, dando-lhe asas, impulsionando em direcção ao alto”.

“A beleza, desde a que se manifesta no cosmos e na natureza àquela que se exprime através das criações artísticas, precisamente pelas sua característica de abrir e alargar os horizontes da consciência humana, de a lançar para além de si mesma, de a fazer debruçar-se sobre o abismo do Infinito, pode-se tornar um caminho em direcção ao Transcendente, ao Mistério último, em direcção a Deus”, prosseguiu.

Bento XVI declarou que “em todas as suas expressões, a arte, no momento em que se confronta com as grandes interrogações da existência, com os temas fundamentais de que deriva o sentimento do viver, pode assumir uma valência religiosa e transformar-se num percurso de profunda reflexão interior e de espiritualidade”.

O Papa evocou a investigação teológica desenvolvida por Hans Urs von Balthasar na sua grande obra “Gloria. Uma estética teológica”, onde escreve: “A via da beleza conduz-nos a captar o Todo no fragmento, o Infinito no finito, Deus na história da humanidade”.

Bento XVI disse aos artistas presentes que “tendes, graças ao vosso talento, a possibilidade de falar ao coração da humanidade, de tocar a sensibilidade individual e colectiva, de suscitar sonhos e esperanças, de ampliar os horizontes do conhecimento e do empenho humano”.

“Sede também vós, através da vossa arte, anunciadores e testemunhas de esperança, para a humanidade”, apontou, convidando-os a “não terem medo de se confrontar com a nascente primeira e última da beleza, de dialogar com os crentes, com quem, como vós, se sente peregrino no mundo e na história em direcção à Beleza infinita”.

(Com Rádio Vaticano)

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Agência ECCLESIA

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