Papa pede comunhão com Deus, a Igreja e o mundo

Em Chipre, Bento XVI presidiu à missa do Corpo de Deus

O terceiro e último dia da visita de Bento XVI a Chipre abriu com a missa dedicada à solenidade do Corpo de Deus, que em Portugal se assinalou na última Quinta-feira.

Na celebração, realizada num pavilhão desportivo de Nicósia, capital do país, o Papa começou por referir que aquela festa litúrgica reflecte sobre três realidades: “O corpo físico de Jesus, nascido da Virgem Maria, o seu corpo eucarístico, o pão do céu que nos alimenta neste grande sacramento, e o seu corpo eclesial, a Igreja”.

Para Bento XVI, o Espírito Santo que em Jerusalém desceu sobre os apóstolos, cinquenta dias depois da ressurreição de Jesus – naquele que é o momento por muitos considerado como o início da Igreja – é o mesmo que opera “em todas as celebrações da missa” através de uma dupla acção.

Por um lado, “santificar os dons do pão e do vinho, a fim de que se tornem o corpo e sangue de Cristo” e, depois, “encher aqueles que são alimentados por estes santos dons, para que se possam tornar um só corpo e um só espírito em Cristo”.

Ao simbolismo do corpo, que manifesta a necessidade de congregar diferentes órgãos num mesmo objectivo, Bento XVI juntou a imagem dos grãos de trigo que, uma vez moídos, fazem um só pão, acentuando uma vez mais que a diferenciação deve conduzir à unidade.

“Cada um de nós que pertence à Igreja tem necessidade de sair do mundo fechado da própria individualidade e aceitar a companhia daqueles que dividem o pão com ele. Não devo mais pensar a partir de ‘eu próprio’ mas de ‘nós’. É por isso que todos os dias rezamos ao ‘nosso’ Pai pelo ‘nosso’ pão de cada dia”, afirmou o Papa, numa alusão à oração do Pai-nosso.

No entender de Bento XVI, “o processo que une e transforma os grãos isolados num só pão apresenta-nos uma imagem sugestiva da acção unificadora do Espírito Santo sobre os membros da Igreja, realizada de maneira notável através da celebração da Eucaristia”.

Por isso, “aqueles que tomam parte neste grande sacramento tornam-se o Corpo eclesial de Cristo quando se alimentam do seu Corpo eucarístico”.

Depois de ter reflectido sobre as implicações espirituais e eclesiais do sacramento da comunhão, Bento XVI alargou essas consequências ao testemunho que os católicos são chamados a dar na sociedade.

O Papa assinalou que “abater as barreiras entre nós e os nossos vizinhos é a primeira premissa para entrar na vida divina à qual somos chamados”, pelo que “temos necessidade de sermos libertados de tudo aquilo que nos bloqueia e que nos isola”.

Para Bento XVI, os católicos são convidados a “ser Cristo” para aqueles que os rodeiam, não para fazer “memória de um herói morto, prolongando o que ele fez”, mas pelo facto de ele “viver em nós, seu corpo, a Igreja, seu povo sacerdotal”.

Ao recordar a primeira comunidade cristã tal como é descrita no livro bíblico dos Actos dos Apóstolos, o Papa salientou o amor existente entre os seus membros – “prontos a morrer uns pelos outros” -, sentimento que não se “limitava aos seus amigos crentes”, o que fez com que a mensagem evangélica se tivesse espalhado “por todo o Médio Oriente e daqui ao mundo inteiro”.

Hoje, afirmou Bento XVI, “somos chamados a superar as nossas diferenças, a levar paz e reconciliação onde há conflitos, a oferecer ao mundo uma mensagem de esperança”.

“Somos chamados – prosseguiu – a estender a nossa atenção aos necessitados, dividindo generosamente os nossos bens terrenos com aqueles que são menos afortunados que nós. E somos chamados a proclamar incessantemente a morte e ressurreição do Senhor, até que ele venha”.

A homilia incluiu uma saudação aos patriarcas e bispos das várias comunidades eclesiais do Médio Oriente que participaram na missa, durante a qual receberam das mãos de Bento XVI o documento de trabalho (“Instrumentum Laboris”) do Sínodo dos Bispos que vai ser dedicado àquela região do globo.

O Papa dirigiu ainda um cumprimento aos crentes filipinos, do Sri Lanka “e de outras comunidades de imigrantes que formam um significativo grupo na população católica” da ilha.

Chipre é, de acordo com Bento XVI, “uma terra abençoada pelo trabalho apostólico de São Paulo e São Barnabé”, figuras que estiveram na origem da expansão do cristianismo para além dos limites geográficos, culturais e religiosos onde ele nasceu – a Palestina.

No final da oração do Angelus, o Papa fez uma alusão à beatificação que ocorreu este Domingo, em Varsóvia, do Pe. Jerzy Popieluszko, morto em 1984 por agentes do regime comunista polaco.

“Dirijo as minhas cordiais saudações à Igreja que está na Polónia e que se alegra hoje com a elevação à glória dos altares do Padre Jerzy Popieluszko. O seu zeloso ministério e o seu martírio são um sinal eloquente da vitória do bem sobre o mal. Possam o seu exemplo e a sua intercessão alimentar o zelo dos padres e fazer nascer a fé, no amor.”

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