Papa fala em «verdadeira laicidade»

Figura de Santo Agostinho deu o mote para uma reflexão sobre a relação entre fé e política nos dias de hoje Bento XVI defendeu hoje no Vaticano que Santo Agostinho (354-430), na sua obra “De Civitate Dei”, definiu com precisão “o que é a verdadeira laicidade e a competência da Igreja” na relação entre fé e política. O Papa falava a mais de seis mil peregrinos, na audiência geral desta Quarta-feira, na qual voltou pela quarta vez a esta figura dos primeiros séculos da Igreja, ainda hoje considerada como um dos seus maiores pensadores. Confesso admirador de Santo Agostinho, Bispo de Hipona, Bento XVI convidou todos a redescobrir os seus muitos escritos, também no que diz respeito aos temas que caracterizam o debate político moderno. O Papa deteve-se sobre as obras do Santo, sublinhando entre outras coisas que a “ mais importante e decisiva para o desenvolvimento do pensamento político ocidental e para a teologia cristã da história” é a obra “De Civitate Dei”, escrita entre os anos 423 e 426 em 22 livros. Bento XVI recordou que a ocasião foi proporcionada pelo saque de Roma em 410, pelos Godos e que Agostinho respondia à objecção dos pagãos e também de muitos crentes, de que o Deus cristão não protegia a cidade, que pelo contrário era “caput mundi” (cabeça do mundo) no tempo do paganismo. “Portanto o Deus dos cristãos não protege – afirmava-se – não pode ser o Deus ao qual entregar-se”, frisou o Papa. A esta objecção, que tocava profundamente também os corações dos cristãos, – recordou Bento XVI–responde Santo Agostinho com esta obra, esclarecendo o que devemos esperar de Deus e aquilo que não devemos esperar, qual é a relação entre a esfera política e a esfera da fé e da Igreja. Segundo o Papa “também hoje este livro é a fonte para definir bem a verdadeira laicidade e a competência da Igreja, a grande e autêntica esperança que a fé nos dá”. “O livro – explicou ainda o Papa – é uma apresentação da história da humanidade governada pela Providencia divina, mas dividida por dois amores, e este é o seu desígnio fundamental, a sua interpretação da história que é a luta de dois amores: amor de si mesmo até à indiferença por Deus, e amor de Deus até à indiferença por si, à plena liberdade de dar-se aos outros na luz de Deus”. Salientando a actualidade da “Cidade de Deus”, Bento XVI concluiu afirmando que talvez esta seja “a maior obra literária” de Santo Agostinho. Esta Santo nasceu em Tagaste (África) no ano 354. Depois de uma juventude turbulenta, quer intelectualmente quer moralmente, converteu se à fé e foi baptizado em Milão por S. Ambrósio no ano 387. Voltou à sua terra natal e aí levou uma vida de grande ascetismo. Eleito bispo de Hipona, durante 34 anos foi modelo do seu rebanho e deu-lhe uma sólida formação cristã por meio de numerosos sermões e escritos, com os quais combateu fortemente os erros do seu tempo e ilustrou a fé católica. Morreu no ano 430. (Com Rádio Vaticano)

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