Papa disposto a seguir em frente

O Papa está “impaciente” por regressar ao Vaticano e retomar os seus compromissos. Este é o retrato feito por Joaquín Navarro-Valls, porta-voz do Vaticano, a poucos momentos da saída de João Paulo II da Clínica Gemelli, onde se encontra internado desde a noite do passado dia 1 de Fevereiro. “Eu diria, recordando as outras ocasiões em que o Papa esteve no hospital, que estava como que impaciente por regressar ao Vaticano e pegar logo na agenda dos compromissos para o futuro”, disse Navarro-Valls à Rádio Vaticano. O porta-voz do Vaticano disse à emissora oficial pontifícia que após o regresso ao Vaticano, João Paulo II decidirá quais os compromissos que vai manter na sua agenda, adiantando que “o desejo do Santo Padre é o de retomar os compromissos que tinha e que foram adiados por alguns dias”. Centenas de jornalistas de todo o mundo estão já à porta do hospital, assistindo aos últimos preparativos para a saída do Papa, marcada para as 18h30 (mais uma hora em Roma). Onda de rumores O regresso de João Paulo II ao Vaticano, nesta quinta-feira, deverá atenuar a onda de rumores em torno de uma eventual renúncia ao cargo. As vozes que consideram o Papa incapaz de governar a Igreja aproveitaram as suas últimas dificuldades físicas para sugerir que a renúncia estaria próxima, mas essa ideia nunca pareceu fazer parte dos planos de João Paulo II . Muitos foram os colaboradores e amigos do Papa que se apressaram em desmentir o cenário da resignação. Para o Cardeal Giovanni Battista Re, prefeito da Congregação para os Bispos, “falar da renúncia do Papa é de mau gosto” nestes momentos. Em declarações concedidas esta terça-feira à agência AdnKronos, o purpurado italiano reconhece que a questão é particularmente grave “se se pensar que foi reaberta tomando como desculpa uma gripe”. Por sua parte o Cardeal Darío Castrillón, prefeito da Congregação para o Clero, sublinhou aos microfones da emissora radiofónica colombiana Rádio Caracol que o Papa tem “toda a capacidade mental” para governar a Igreja. “O direito da Igreja, por qualquer razão de tipo individual ou pessoal, deixa sempre ao vigário de Cristo a liberdade de decidir. Ele é o único que toma iniciativas a esse respeito. E nestes momentos não é o caso. Não há necessidade de falar do tema, o Santo Padre tem em suas mãos o leme da Igreja”, acrescentou. O Cardeal Jean-Marie Lustiger, arcebispo de Paris, afirmou que o Papa “tem consciência da sua tarefa e quer cumpri-la até o fim”. “O Papa tem de dirigir a Igreja como o presidente de uma empresa?”, perguntou. Por mais de uma vez, o Papa referiu que permanecerá no cargo “até que Deus queira”. João Paulo II tem a capacidade e a autoridade para decidir e a decisão está tomada há muito tempo. Um filme já visto O estado de saúde do Papa tem dado azo, ao longo dos anos, a diversas especulações desde que, no atentado de 13 de Maio de 1981, foi atingido por uma bala. Esta é a nona vez que João Paulo II passa por um hospital, durante o seu Pontificado, embora em Julho de 1993 e Agosto de 1996 se tenha tratado de curtas passagens para ser submetido a um TAC. Cinco semanas após o atentado, João Paulo II foi novamente hospitalizado em consequência de uma infecção originada pela primeira intervenção cirúrgica. Em Julho de 1992, o Papa foi operado, desta vez para a extracção de um tumor benigno no cólon. Em Novembro de 1993, João Paulo II foi operado a uma luxação na omoplata, após uma queda acidental, e, em Abril de 1994, foi de novo hospitalizado após ter fracturado o colo do fémur ao escorregar na casa de banho. Em Outubro de 1996, o Papa foi submetido a uma intervenção cirúrgica ao apêndice. Ainda presentes na memória estão as imagens da visita do Papa à Eslováquia, em 2003, na qual os sinais de fragilidade deixavam antever o pior. No ano 2002 encontramos uma onda de rumores semelhante, relativamente à eventual renúncia do Papa, embora encontremos várias pequenas réplicas ao longo dos anos. Nessa altura, especulou-se que João Paulo II iria aproveitar uma viagem à sua Polónia natal para anunciar a sua retirada para um mosteiro de clausura. No decorrer dessa viagem, contudo, o que se ouviu foi o Papa a rezar à Virgem de Kalwaria, pedindo “as forças do corpo e do espírito para que possa cumprir até ao fim a missão que me foi confiada pelo Ressuscitado”. Pouco depois, no Vaticano, João Paulo II lembrava que “Cristo não desceu da cruz”. A questão da renúncia dos Papas tem um precedente na história, com a abdicação de Celestino V, em 1294, após 5 meses de pontificado. Este acontecimento, em condições políticas muito difíceis, fez com que se aprofundasse a legislação em torno das modalidades de renúncia à Sé de Pedro. Actualmente, ela está prevista no Código de Direito Canónico (cân. 332, parágrafo 2), sob condições muito estritas: “se acontecer que o Romano Pontífice renuncie ao cargo, para a validade requer-se que a renúncia seja feita livremente, e devidamente manifestada, mas não que seja aceite por alguém”.

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