Papa despediu-se dos EUA

Viagem de seis dias ajudou a «conquistar» o país Adeus ao Papa que gosta da América. Bento XVI despediu-se este Domingo à noite dos EUA depois de uma visita de seis dias que, de 15 a 20 de Abril, o ajudou a conquistar o país. Na cerimónia de despedida, que contou com a presença do vice-presidente Dick Cheney, o Papa manifestou a sua gratidão pelas “experiências memoráveis destes dias”, em particular aos mais altos responsáveis políticos norte-americanos e à Conferência Episcopal do país. Bento XVI não esqueceu a sua passagem pela sede das Nações Unidas: “Olhando para os 60 anos que passaram desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos, dou graças por tudo o que a ONU foi capaz de atingir na defesa e na promoção dos direitos fundamentais de cada homem, mulher ou criança em todo o mundo”. “Encorajo todas as pessoas de boa vontade a continuar a trabalhar, sem cessar, para promover a justiça e a coexistência pacífica entre povos e nações”, prosseguiu. O Papa confessou que o momento de oração no Ground Zero ficará para sempre na sua memória, manifestando novamente a sua solidariedade para com as vítimas da “tragédia”. “Rezo para que o futuro traga cada vez mais fraternidade e solidariedade, um crescimento no respeito mútuo, uma confiança renovar em Deus, nosso Pai celeste”. No balanço da sua visita, Bento XVI acrescentou que “foi uma alegria testemunhar a fé e a devoção da comunidade católica, aqui. Foi reconfortante passar algum tempo com líderes e representantes de outras comunidades cristãs e religiões”. ”Renovo a certeza do meu respeito e estima por todos vós”, indicou. Em conclusão, Bento XVI voltou a conquistar a plateia com o célebre “God bless America”. Dick Cheney, por seu lado, falou numa “semana memorável”, em que os EUA aprenderam a respeitar “este mensageiro de paz, justiça e liberdade”. A cerimónia de despedida contou, para além dos discursos, com um momento celebrativo multicultural, com representantes dos vários povos presentes nos EUA. Viagem de risco Bento XVI assumiu, nesta sua oitava viagem apostólica, uma série de riscos: o país está numa corrida eleitoral, a Igreja Católica estava profundamente abalado pelo escândalo dos abusos sexuais, a comunidade católica sente de forma mais próxima os dramas ligados à imigração clandestina. Nenhum destes assuntos ficou à margem da agenda do Papa, que logo no avião que o transportava desde Roma dava conta da sua vontade de levar uma mensagem de reconciliação à Igreja nos EUA, cujo envolvimento em casos de pedofilia classificaria, por várias vezes, como uma vergonha ou um escândalo. O seu encontro (não programado) com as vítimas foi, simbolicamente, o fim de um ciclo, uma promessa de «Nunca mais», permitindo que os católicos possam agora olhar para o futuro e para novos desafios, nos quais é preciso uma unidade cada vez maior entre todos – qualquer que seja a sua proveniência. «Nunca mais» foi também o que Bento XVI, salvo do nazismo pelos norte-americanos, disse aos jovens do país a respeito desse “monstro” ideológico. Liberdade na verdade foi, em suma, o caminho apontado a todos os fiéis que o ouviram ao longo destes dias. Politicamente, o Papa conseguiu passar à margem da corrida às próximas presidenciais, sem referências ao Iraque ou ao terrorismo (mesmo no local dos atentados do 11 de Setembro), apresentando uma série de desafios morais de forma clara, mas não conflituosa, em temas como a imigração, o aborto ou a pobreza. Neste campo, o Papa destacou por várias vezes a importância que a religião tem no debate público norte-americano – ao contrário do que aconteceu na Europa, onde as convicções religiosas são remetidas para uma esfera cada vez mais privada -, mas mostrou-se preocupado com uma vaga de novo secularismo. A ida às Nações Unidas, por seu lado, não foi uma espécie de radiografia do mundo, mas um apelo a valores comuns, sem os quais os esforços da diplomacia internacional e da defesa dos direitos humanos estão condenados ao fracasso. Na retina permanecerão também dois momentos altamente simbólicos, a visita à Sinagoga de Park East e a oração no Ground Zero, onde Bento XVI não se preocupou tanto em falar, mas em marcar, com a sua presença, uma posição firme em favor do diálogo e da reconciliação. A viagem passo a passo • Bento XVI – EUA

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