Papa deixa indicações aos Bispos de Moçambique

Bento XVI recebeu conjuntamente neste sábado no Vaticano os 14 prelados da conferencia episcopal de Moçambique na conclusão da sua visita quinquenal “ad limina apostolorum” dirigindo-lhes um discurso em que falou da tarefa da primeira evangelização de mais de metade da população de Moçambique. “Sabemos que os obstáculos são numerosos e complexos, que o acolhimento e a germinação dependem não de nós mas da li­berdade das pessoas e da graça. Mas, ao menos, procurai que o anúncio missionário se mantenha a prioridade das vossas prioridades e fazei saber a quantos têm a graça de ser cristãos que devem concorrer para a sua realização. Meio providencial para um renovado impulso missionário são os Movimentos eclesiais e novas Comunidades: acolhei-os e promovei-os nas vossas dioceses, pois o Espírito Santo serve-Se deles para despertar e aprofundar a fé nos corações e proclamar a alegria de crer em Jesus Cristo. Na verdade, é importante aprofundar a fé através de to­dos os meios que tendes à vossa disposição: catequese dos jovens e dos adultos, reuniões, liturgia, com a inculturação que se impõe. Sem esta formação profunda, a fé e a prática religiosa manter-se­-iam superficiais e frágeis, não se poderiam impregnar de espírito cris­tão os costumes ancestrais, os ânimos seriam abalados por toda a espécie de doutrina, as seitas atrai­riam os fiéis desviando-os da Igreja, o diálogo respeitoso com as outras religiões empantanar-se-ia com as insídias e os riscos. E, sobretudo, os baptizados não poderiam resistir à indiferença religiosa, ao materialismo e ao neo-paganismo, fenómenos que campeiam hoje nas sociedades de consumo. Ao contrário, uma fé profunda e empenhada não deixará de renovar o comportamento das pessoas na sua vida sócio-pro­fissional e consequentemente o tecido da sociedade. Os cristãos dão assim o seu contributo para combater as injustiças, elevar o nível de vida das pessoas e grupos desfavorecidos, para educar à rectidão de costumes, à tolerância, ao perdão e à reconciliação. Trata-se duma obra ética de primária grandeza, que serve o bem da Pátria; como Pastores, compete-vos inspirá-la e sustentá-la, conservando sempre a vossa liberdade que é a da Igreja na sua missão profética, mantendo bem nítida a distinção entre esta missão pastoral e a que têm em vista os programas e os poderes políticos.” O Papa salientou no seu discurso que toda esta obra de evangelização depende do numero e qualidade dos obreiros apostólicos que colaboram com os bispos: sacerdotes e religiosos, catequistas e animadores de movimentos e comunidades. E encorajou a favorecer esta for­mação permanente em ordem a uma actualização teológica e pastoral do clero, como também uma vida espiritual regular. “Trata-se do seu dinamismo apostólico ao serviço da evange­lização, da sua capacidade de enfrentar os problemas, e da santidade do seu ministério”. Bento XVI acrescentou depois que uma idêntica tomada de consciência mereceria ser aprofundada e alargada a propósito da vida consagrada. Em Moçambique, como em muitos países africanos – salientou depois o Papa – os catequistas desempenham um papel determinante tanto na formação dos catecúmenos como na animação de muitas comunidades desprovidas de sacerdote permanente. Grande e meritória é a sua dedicação generosa e desinteressada, mas têm necessidade duma formação cuida­da e dum apoio particular para enfrentarem a sua responsabilidade de testemunhas da fé face à evolu­ção cultural dos seus irmãos e irmãs e poderem guiá-los com o exemplo duma vida santa. E acrescentou: “O futuro dependerá em grande parte do modo como os jo­vens – que no vosso País consti­tuem a maioria da população – puderem adquirir convicções de fé, vivê-las num meio que já não lhes oferece as orientações éticas e o apoio das instituições como outrora, e in­tegrar-se com confiança nas co­munidades eclesiais. É um campo imenso a que se vem juntar o mundo das crianças, dos adolescentes e sobretudo dos estu­dantes expostos a toda a espécie de correntes e questões em ebulição. Encorajo-vos particularmente nos vossos esforços que têm em vista obter para todos os jovens cristãos a possibilidade de um ensinamento religioso sólido para uma acção cristã à medida deles”. A evangelização da vida cristã e o desabrochar das vocações dependem da constituição de famí­lias autenticamente cristãs que acei­tem o modelo, as exigências e a graça do matrimónio cristão. Sei que não faltam dificuldades, devido aos limites de certos costumes antigos e devido também à instabilidade dos lares, postos a dura prova por uma sociedade dita moderna eivada de sensualismo e individualis­mo. A crise não se atenuará senão mediante uma pastoral familiar dinâmica e bem fundamentada, que se apoie em associações familiares coordenadas a nível diocesano e nacional. Amados Irmãos no Episcopado, há outros campos onde se requer a vossa solicitude pastoral: a assistência aos pobres, doentes e margina­lizados, a atitude a adoptar face à invasão das seitas, o desenvolvimento dos meios de comunicação social, etc. Mas, os pontos assinalados representam já um peso que impõe árduos esforços, se considerarmos as limitadas forças apostólicas de que dispondes, mesmo fazendo apelo aos sacerdotes e aos religiosos de outros países que – espero – se mostrem generosos. Estou certo de que todos estes desafios podem ser superados, graças à fé e à determinação que vos animam, graças ao Espírito Santo que nunca recusa a sua ajuda a quantos Lha suplicam e procuram a vontade de Deus. Desafios pastorais Precedentemente Bento XVI fora saudado pelo Presidente da Conferência Episcopal de Moçambique, o Arcebispo de Nampula D. Tomé Makhweliha, que salientara a principal preocupação do Episcopado moçambicano: a evangelização: esta missão de levar a Palavra de salvação de Cristo a todo o homem, para que este se converta e salve. Foi esta preocupação – disse – que levou o Episcopado a celebrar três Assembleias Pastorais Nacionais neste arco de trinta anos da nova era da evangelização de Moçambique. Foram três marcos importantíssimos, em que se deram rumos à evangelização, segundo os sinais dos tempos no aqui e no hoje. E acrescentou mais adiante que as exigências de uma adequada evangelização suscitaram nos Bispos a necessidade de se preocuparem e darem prioridade à pastoral vocacional, à recuperação dos Seminários e ao melhoramento da formação dos seminaristas. O Presidente da Conferencia Episcopal de Moçambique não deixou de referir ao Papa os grandes desafios pastorais que a Igreja que está em Moçambique tem de enfrentar presentemente e no futuro. Entre outros: a pastoral da família, a pastoral juvenil, a formação aprofundada e localizada dos candidatos ao Sacerdócio e à Vida Consagrada, a adequada inculturação da fé e da liturgia, a auto-sustentação da Igreja Local; são também para nós desafios certas realidades sociais emergentes, tais como a propagação da sensualidade através dos mass-média, a proliferação de ideias em favor do amor livre, a liberalização e despenalização do aborto. Antes de terminar, agradeceu a sua Santidade pela particular solicitude e amor de Bom Pastor que nutre e testemunha pela África.E, enfim, expressou um desejo da Conferência Episcopal e do povo moçambicano que se torna um convite: “Que o Santo Padre possa um dia presentear-nos com uma Vossa visita Pastoral”.

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