Papa defende «estatuto especial» para a liberdade religiosa

Bento XVI alerta contra visão redutora do ser humano, que nega a dimensão espiritual

Bento XVI defendeu, num texto hoje divulgado pelo Vaticano, que a liberdade religiosa goza de um “estatuto especial” entre os direitos e as liberdades fundamentais do ser humano.

“Quando se reconhece a liberdade religiosa, a dignidade da pessoa humana é respeitada na sua raiz e reforça-se a índole e as instituições dos povos”, escreve o Papa na mensagem para o Dia Mundial da Paz 2011.

Pelo contrário, acrescenta, “quando a liberdade religiosa é negada, quando se tenta impedir de professar a própria religião ou a própria fé e de viver de acordo com elas, ofende-se a dignidade humana”.

«Liberdade Religiosa, caminho para a paz» é o tema da 44ª Jornada Mundial da Paz, celebrada na Igreja Católica, desde 1968, a 1 de Janeiro.

O Papa é particularmente crítico em relação ao que classifica como “ilusão de encontrar no relativismo moral a chave para uma convivência pacífica”, afirmando que esta “é, na realidade, a origem da divisão e da negação da dignidade dos seres humanos”.

“Negar ou limitar arbitrariamente esta liberdade significa cultivar uma visão redutiva da pessoa humana; obscurecer a função pública da religião significa gerar uma sociedade injusta, porque esta seria desproporcionada à verdadeira natureza da pessoa”, indica.

Sem liberdade religiosa, assinala a mensagem, seria “impossível a afirmação de uma paz autêntica e duradoura para toda a família humana”.

“O respeito de elementos essenciais da dignidade do homem, tais como o direito à vida e o direito à liberdade religiosa, é uma condição da legitimidade moral de toda a norma social e jurídica”, precisa o documento.

Bento XVI refere, por outro lado, que a liberdade religiosa “não é património exclusivo dos crentes”, sendo “elemento imprescindível de um Estado de direito”.

Aos crentes compete evitar a “instrumentalização da liberdade religiosa para mascarar interesses ocultos”.

“O fanatismo, o fundamentalismo, as práticas contrárias à dignidade humana não se podem jamais justificar, e menos ainda o podem ser se realizadas em nome da religião. A profissão de uma religião não pode ser instrumentalizada, nem imposta pela força”, pode ler-se.

O Papa diz ainda que “o mundo tem necessidade de Deus; tem necessidade de valores éticos e espirituais, universais e partilhados”, escrevendo que “a paz é um dom de Deus e, ao mesmo tempo, um projecto a realizar, nunca totalmente cumprido”.

“Uma sociedade reconciliada com Deus está mais perto da paz, que não é simples ausência de guerra, nem mero fruto do predomínio militar ou económico, e menos ainda de astúcias enganadoras ou de hábeis manipulações”, alerta.

A mensagem para 2011, com 15 pontos, pode ser consultada no site oficial do Vaticano.

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