Vaticano: «Que não nos aconteça olhar mais para o ecrã do telemóvel do que para os olhos do irmão», pede Papa aos consagrados

Francisco celebrou Dia do Consagrado e frisou que uma vocação só centrada em projetos, técnicas e estruturas «não floresce»

Cidade do Vaticano, 02 fev 2018 (Ecclesia) – O Papa assinalou hoje no Vaticano o Dia do Consagrado, pedindo aos consagrados que sejam exemplos de comunhão e encontro, num mundo que privilegia as “ambições pessoais” e “descarta” os mais frágeis.

Numa celebração esta sexta-feira na Basílica de São Pedro, em Roma, Francisco frisou que a missão de todo o consagrado, religioso e religiosa, bispo ou sacerdote, leigo consagrado, radica num “amor verdadeiro” por Deus e pelos outros, sem “ses” nem “mas”.

E que a “liberdade maior” da vida consagrada está em “escolher” um caminho de “obediência humilde” e um “afeto livre de qualquer propriedade, para amar plenamente a Deus e aos outros”.

“Que não nos aconteça olhar mais para o ecrã do telemóvel do que para os olhos do irmão, ou fixarmo-nos mais nos nossos programas do que no Senhor. Quando se colocam no centro os projetos, as técnicas e as estruturas, a vida consagrada deixa de atrair e de comunicar-se a outros; não floresce, porque esquece ‘aquilo que tem debaixo da terra’, isto é, as raízes”, alertou o Papa argentino.

A Igreja Católica está a assinalar a 22.ª Jornada Mundial da Vida Consagrada, sendo que em Portugal a Semana do Consagrado (26 de janeiro – 02 fevereiro) foi dedicada ao tema ‘Fazei brilhar a sua luz’.

Uma frase bíblica escolhida para desafiar todos os consagrados e institutos religiosos a saberem viver o presente e o futuro, adequando a sua missão às exigências deste tempo, sem nunca descurarem o passado, aquilo que deu forma a cada vocação e carisma.

Durante a homilia da celebração deste Dia do Consagrado, e também da solenidade da Apresentação de Jesus no Templo, o Papa pediu uma vida consagrada à imagem de Cristo, “pobre, casto e obediente”.

Assim, “enquanto a vida do mundo procura acumular, a vida consagrada deixa as riquezas que passam, para abraçar Aquele que permanece”.

E também “enquanto a vida do mundo depressa deixa vazias as mãos e o coração, a vida segundo Jesus enche de paz até ao fim”, acrescentou.

Francisco alertou ainda que a renovação de cada vocação ou carisma, sacerdotal, religiosa ou secular, não pode ser feita pondo de lado os mais velhos de cada comunidade.

“Nunca façam descartes geracionais. Porque se os jovens são chamados a abrir novas portas, os mais velhos têm as chaves. E a juventude de um instituto de vida consagrada encontra-se indo às raízes, ouvindo os mais velhos”, apontou o Papa argentino.

Neste sentido, Francisco exortou todos os consagrados a potenciarem cada vez mais “este encontro entre os mais velhos e os jovens”.

Porque se os consagrados são chamados a ser “profecia” para o mundo, tal não é possível sem a “memória”, sem esse legado de experiência que está presente nos mais velhos.

“A vida agitada de hoje induz-nos a fechar muitas portas ao encontro e, com frequência, por medo do outro. As portas dos centros comerciais e as conexões de rede estão sempre abertas. Mas, na vida consagrada, não deve ser assim: o irmão e a irmã que Deus me dá são parte da minha história, são presentes que devo guardar”, concluiu o Papa argentino.

No final da celebração, o cardeal João Braz de Aviz salientou a importância de reforçar a “formação” de todos os membros da vida consagrada, e de fomentar cada vez mais uma cultura de “proximidade” entre todos os institutos religiosos e a sociedade, para ir ao encontro das interpelações das pessoas.

O prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica no Vaticano adiantou que será publicada em breve uma obra com todas as mensagens e reflexões do Papa Francisco sobre a vida consagrada, desde o início do seu pontificado em 2013.

A Vida Consagrada, que remonta aos primórdios da Igreja Católica, distingue-se pela profissão pública dos chamados “votos” (castidade, pobreza e obediência), em institutos religiosos ou seculares; no caso dos primeiros, os religiosos e religiosas vivem em casas próprias, de forma comunitária.

JCP

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