Os Padres da Vigararia de Setúbal defendem que os “acontecimentos negativos que se têm verificado, nos últimos dias, no bairro da Bela Vista da cidade de Setúbal não podem explicar-se apenas como puros actos de desordem e de violência de uma meia dúzia de jovens”. Estes responsáveis assinalam que a solução na está “apenas na intervenção das forças da ordem, ignorando as verdadeiras causas remotas e próximas deste deplorável fenómeno social”. “A impotência experimentada pelos habitantes do bairro da Bela Vista da cidade de Setúbal para resolverem – por si sós – o vasto leque de problemas com que se defrontam e que – contidos durante um tempo mais ou menos longo – podem explodir e conduzir a atitudes aventureiras e de desespero, quando menos se espera”, alertam. Em comunicado, os sacerdotes referem que “todos estamos de acordo em condenar a violência que só gera violência e na necessidade urgente de repor a ordem pública. Mas não podemos nem devemos limitar-nos a meras operações cosméticas, que não eliminam a origem dos malefícios que todos lamentamos e condenamos”. “Não há soluções fáceis. A responsabilidade é de todos, embora em graus diferentes. Sem um projecto aglutinador não se poderão ensaiar respostas que erradiquem as causas profundas da exclusão social e da violência”, admitem. O comunicado traça uma radiografia sociológica à comunidade do bairro da Bela Vista da cidade de Setúbal, que “detecta cancros e tumores sociais em evolução permanente – índices muito elevados de desemprego, de pobreza e exclusão social, degradação habitacional”. No documento alude-se ao “elevado número de famílias desagregadas, forte índice de analfabetismo e o abandono precoce da escola (que deixam a faixa etária entre os 13 e 16 anos desprotegidos, abandonados a si e à rua, vulneráveis a aliciamentos para a marginalidade num bairro degradado sem iluminação adequada, sem espaços sociais e de convívio), famílias numerosas, enjauladas em reduzidas habitações, sem esperança de uma casa”. Os padres da Vigararia de Setúbal apelam a que “todos os que têm poder de decisão, em consonância com os técnicos das várias ciências interdisciplinares, inerentes à área social, pensem e realizem o projecto adequado que origine uma verdadeira paz social”.