Padre faz Porto-Bissau de Jipe

Aventura leva sete pessoas à Guiné, pelas rotas do «Dakar», para entregar veículo a missionários neste país lusófono Fruto da venda do livro “Sinfonia das palavras (Íntimas)”, o Pe. Almiro Mendes, pároco de Ramalde, na diocese do Porto, vai entregar um jipe aos missionários na Guiné-Bissau. Viatura que ele próprio vai levar a África, numa aventura que teve início hoje, dia 21 de Janeiro. O veículo conduzido pelo Padre Almiro Mendes partiu esta manhã do Terreiro da Sé. Incialmente pensada a “solo”, o sacerdote acaba por levar como companhia mais seis pessoas que ao saberem da sua viagem manifestaram vontade de se juntarem a ele. Dias antes de partir nesta aventura, o sacerdote explicava à Agência ECCLESIA que esta não é uma aventura no deserto, é antes um sinal do amor de Deus ao povo que vive e também ao povo que se dá em África. Setembro de 2006 marca o regresso do Pe. Almiro da Guiné-Bissau. Até aí, passou um ano em missão, junto com os missionários do Espírito Santo, mas reconhece que quando veio, ficou lá também. Na viagem de regresso estava já presente uma vontade de regressar. O sofrimento do povo “extraordinário”, a empatia e amizade que se estabeleceu, resultou num sentimento que se prolongava. “Havia qualquer coisa que me acicatava para não me acomodar e que devia fazer algo mais pelo povo”, relembra o sacerdote. Juntamente com os missionários do Espírito Santo descobriu-se na descoberta. “Um sacerdote, naquele país, tem de ser polivalente”, reconhece, relembrando cabelo que cortou, obras que ajudou a construiu, pessoas que tratou, carros que conduziu, pessoas que ensinou a conduzir. “Na Guiné não se pode dizer que não se sabe”, mas antes ter a capacidade de ser “inventivo e criativo”, tal como o amor. As necessidades “são tantas que nos ultrapassamos a nós próprios”, afirma, lembrando as suas «ultrapassagens». É nesta descoberta que se faz a “beleza da missão”. E noutra ainda, “sermos a expressão do amor de Deus”. O pároco de Ramalde afirma que nada do que fez tem valor. “O valor está no amor de Deus àquelas pessoas”, visível nos seus actos. A oferta de um carro, “em si não é um acto melhor que qualquer outro, é mais uma expressão de amor”. Um livro intimista e universal O livro foi inteiramente escrito no país lusófono. 264 reflexões que partiram sempre da realidade “vivida, sofrida e jubilada” e que deram origem ao livro “Sinfonia das Palavras (íntimas)”. O autor diz que o texto é fiel ao que viveu e sentiu durante aquele ano. “Não foi fácil escrever o livro, porque esta foi uma forma de me revelar, de falar de coisas tão íntimas”, mas reconhece que foi uma mais-valia da experiência missionária. As palavras revelam as pessoas, “dizem de nós”. A sinfonia das palavras revela uma realidade vivida. “O que se relaciona comigo é o que menos importa”, apesar de reconhecer que o livro “me revela”. É um livro intimista mas que descreve a realidade da Guiné-Bissau. Como é a vida, como é o povo, quais as principais vicissitudes. O Pe. Almiro acrescenta que se trata de um livro universal, que a partir das suas reflexões, se chega a outros horizontes. E estas são duas condições que atraem os leitores. A realidade da Guiné-Bissau e a experiência que um missionário faz no terreno. Mas talvez a leitura pessoal seja o que mais prende. “As pessoas são muito sensíveis”. A entrega que tantos missionários fazem, tal como o pároco de Ramalde a fez, saindo da sua paróquia e “aconchego”, “mexe com as pessoas”, expressa. Porque foi não sabe, “sei apenas porque não fiquei”. A única forma de ser verdadeiramente feliz, “descobri há uns anos é, darmo-nos aos outros”. Enquanto sacerdote é isso que faz, e fez ao longo de 18 anos de ministério sacerdotal. Ao chegar à maioridade sacerdotal “achei que deveria viver uma experiência de doação mais plena”. Por isso foi para Guiné-Bissau. Não prevê a sua vida no calendário, por isso o sacerdote não adianta se a missão se vai novamente cruzar no seu caminho. “Costumo disponibilizar-me para o que precisam e para o que o meu bispo me pede”, por isso afirma estar disponível “para o que Deus e o meu bispo querem ”. A doação do amor A escrita do livro e as receitas da sua venda destinarem-se a ajudar os missionários, nasceram de mãos dadas. Conhecendo as dificuldades locais, o jipe “pareceu-me o instrumento mais prático para o local”. São pessoas muito pobres, com “poucos meios”, e um jipe na Guiné-Bissau “é um salva vidas”. Ter atingido a verba para a aquisição do jipe foi “uma surpresa”. O sucesso da venda do livro permitiu, para além da compra do jipe, financiar a abertura de poços de água e pagar os estudos a algumas crianças órfãs. O Pe. Almiro Mendes leva também material informático, um computador, uma fotocopiadora para uma escola, medicamentos, material escolar, um gerador, “tudo para as missões”. Cinco pessoas do Porto e duas de Lisboa vão percorrer os caminhos que ligam o norte de Portugal à Guiné-Bissau. Um percurso entre Espanha, Gibraltar, Marrocos, Mauritânia, Senegal, Gâmbia que será percorrido entre 8 a 10 dias. No grupo estão pessoas já ligadas a África. São pessoas “que se gastam ao serviço dos outros”, explica o sacerdote. Não será uma aventura no sentido desportivo, apesar de o Pe. Almiro admitir que a viagem será também lúdica. “Mas será sobretudo uma aventura de amor”, algo que “deveria caracterizar todos os humanos”. Esta é a melhor forma de revelação, “dando aos outros o amor que descobrimos e não guardamos para nós”. “A vida é um dom extraordinário que não se repete. Ou a vivemos de forma inteligente ou a maltratamos. E cedo descobri que a melhor forma, é amando”.

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