Processo de canonização conhece nova fase, com envio de documentação para o Vaticano
Lisboa, 17 dez 2020 (Ecclesia) – Francisco Rodrigues da Cruz, conhecido popularmente como Padre Cruz, é ainda hoje recordado pela sua família como um homem de Deus, que nunca desistiu, apesar das dificuldades.
“Não virou as costas à vida, mas transformou em Cristo toda a sua vida”, afirma Conceição Barreira de Sousa, sobrinha-bisneta do sacerdote.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, evoca “uma pessoa de oração permanente” como se fosse “a sua forma de respirar”, e uma vida “estruturada em Cristo”.
O cardeal-patriarca de Lisboa vai presidir hoje, às 15h00, à sessão de encerramento do processo diocesano supletivo de beatificação do Padre Cruz, na igreja de São Vicente de Fora.
O processo segue agora para a Congregação para a Causa dos Santos, na Santa Sé, onde será analisado, para verificar o levantamento de informações realizado em Portugal.
Este sacerdote nasceu em casa, na localidade de Alcochete (Diocese de Setúbal), a 29 de julho de 1859, e segundo a mãe de Conceição Barreira de Sousa era uma bebé “muito frágil”, sendo “difícil acreditar que pudesse sobreviver”.
Francisco Rodrigues da Cruz, quarto filho de Manuel da Cruz e Catarina de Oliveira da Cruz, “foi batizado em casa” e só um mês depois é que foi à igreja de São João Batista, cuja pia batismal gostava de beijar.
Nasceu uma criança “muito débil” e este traço “acompanha-o a vida toda”, mas viveu até aos 89 anos.
“Um doente que fez imensas coisas, mas a tia Lucinda realça que ele era uma pessoa divertidíssima”, realça a entrevistada.
Com “imenso sentido de humor”, o Padre Cruz era um “ótimo tocador de guitarra” com uma “voz muito bem colocada”.
Concluídos os estudos secundários, seguiu para Coimbra, onde se formou em Teologia na Universidade de Coimbra em 1880, ordenando-se sacerdote em 1882; entrou para a Companhia de Jesus a 3 de dezembro de 1940.
Como disse o Cardeal Cerejeira, o Padre Cruz quis rever-se na “cruz de Cristo” e “os seus prediletos eram os mais pobres dos pobres”, sobretudo os presos, assinala Conceição Barreira de Sousa.
Quando ia à prisão levava sempre o “saquinho com pagelas e com tostões”; uma vez um carteirista no estabelecimento prisional “roubou-lhe o dinheiro”, mas acabaria por ser recuperado.
O sacerdote era “avesso” à exposição e “não gostava de ser fotografado ou filmado”, mas um dia conseguiram que “ele pousasse para um quadro” – o preço dessa iniciativa “era para dar aos pobres”.
“Ele movimentou verdadeiras fortunas”, tudo em prol dos mais desprotegidos.
A sobrinha-bisneta do Padre Cruz realça que este “preparou a sua morte” e faleceu “com uma serenidade e naturalidade comoventes”.
“A morte espelha a vida dele” e “é fruto da vida que ele fez”, refere
Desde miúda, Conceição Barreira de Sousa ouvia falar da morte do Padre Cruz (1859-1948), mas “só agora” é que teve “a dimensão mais real como deve ter sido impressionante na altura”, admite.
O padre Francisco Rodrigues da Cruz, sj, morreu a 01 de outubro 1948, mas na véspera “ainda teve tempo de ir à Lapa (Lisboa) para se despedir dos seus irmãos jesuítas”.
“Sentadinho na sua cadeira, ali morreu”, disse a sobrinha-bisneta.
O povo em frente ao Largo do Caldas (Lisboa), local onde faleceu, era “imenso” e o cortejo da Sé, onde foram as exéquias celebradas pelo cardeal Cerejeira, até ao Cemitério de Benfica, “tinha mais de 400 carros”.
A sobrinha-bisneta do Padre Cruz revela que um dia o seu familiar foi chamado pelo filósofo Leonardo Coimbra, “que vivia numa inquietação teológico-filosófica” e que dialogaram sobre estas temáticas.
O filósofo chegou a dizer que “não precisava de sábios, mas de santos” e foi o padre Cruz “que o converteu”.
O processo de canonização do Padre Cruz teve início a 10 de março de 1951 e a fase diocesana decorreu até 18 setembro de 1965; mais tarde, “sendo necessário completar aquele processo com os elementos requeridos pelas novas normas para a instrução dos processos de canonização”, foi nomeado um novo Tribunal, em setembro de 2009.
O Patriarcado de Lisboa informa que, entre março e maio de 2011 foram “ouvidos os testemunhos sobre as virtudes heroicas do Servo de Deus”; a Comissão Histórica entregou a de outubro de 2019, os documentos e a sua análise crítica.
LFS/OC