Padre Américo: Investigador destaca atualidade de um homem que desafiou a «arregaçar as mangas» pelos pobres

Henrique Manuel Pereira lançou dois livros e prepara um documentário sobre o fundador da Casa do Gaiato

Lisboa, 18 nov 2015 (Ecclesia) – O investigador Henrique Manuel Pereira sublinha que a vida e obra do padre Américo, fundador da Casa do Gaiato, tem muito a dizer à sociedade atual e às novas gerações, e preservá-la é “uma questão de justiça”.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o professor da Escola de Artes da Universidade Católica do Porto recorda “um homem de ação mas ao mesmo tempo de Deus”, que não se destacou apenas pelo apoio que prestou a “milhares de rapazes” de rua mas também na atenção aos mais “doentes e pobres”.

Henrique Manuel Pereira recorda uma afirmação do “Pai Américo”, como também era conhecido, relacionada com o cuidado com os mais desfavorecidos e que, na sua opinião, coloca grandes interpelações ao nosso tempo.

“Ele dizia ‘que cada freguesia cuide dos seus pobres, não estejam à espera de um padre Américo, de um subsídio, arregacem as mangas, cuidem dos vossos pobres, dos que têm ao lado”, recorda o docente, destacando uma mentalidade que contraria os paradigmas das respostas sociais de hoje, quer ao nível do Estado quer da Igreja Católica.

“Que grande lição este homem nos deu, a nós Igreja, que tantas vezes nos preocupamos, há ideias, há sonhos mas primeiro precisamos do dinheiro. Não, este homem começou sempre e o dinheiro apareceu”, frisa Henrique Manuel Pereira.

O professor da Escola de Artes da Universidade Católica do Porto está neste momento a preparar um documentário sobre a vida do padre Américo.

Publicou também recentemente dois livros dedicados ao sacerdote, um intitulado “Raízes do Tempo”, que reúne vários textos e entrevistas realizadas a personalidades como D. Eurico Dias Nogueira, D. António Marcelino e aos padres Carlos Galamba e António Baptista, membros da Obra da Rua.

Outro com o nome “Padre Américo, frei Junipero no Lume Novo”, uma obra que retoma os textos que o fundador da “Casa do Gaiato” escreveu na revista “Lume Novo”, enquanto esteve no Seminário de Coimbra.

Reflexões que assinava com o pseudónimo de frei Junipero, um dos companheiros de Francisco de Assis por quem o padre Américo tinha “um apreço quase desmedido”, lembra Henrique Manuel Pereira.

O processo de canonização do padre Américo Monteiro de Aguiar (1887 – 1956) está em curso “há mais de vinte anos, há demasiado tempo para um homem que ainda em vida era pacificamente considerado como santo”, considera o investigador.

Sobre o futuro e a preservação da identidade das Casas do Gaiato, hoje mais dependentes de um quadro normativo da Segurança Social, Henrique Manuel Pereira pensa que se trata de uma questão “difícil”, também porque vivemos “outros tempos, outros contextos”.

No entanto, o investigador realça que o ideal que regeu o projeto do padre Américo “continua a ter e terá validade sempre”.

“Porque tem a validade que tem uma célula familiar, a família, continua a ser o grande paradigma, as casas não quiseram nunca ser mais do que isso”, conclui aquele responsável.

JCP

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Agência ECCLESIA

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