Os ministérios laicais são novidade do Concílio Vaticano II

Homilia de D. Manuel Pelino, bispo de Santarém na vigília da Solenidade da Imaculada Conceição 1. Ao instituir estes acólitos confiamos-lhes o ministério eclesial de servir o altar, de auxiliar os sacerdotes e os diáconos no serviço da liturgia, de modo a dar, a esta acção sagrada por excelência, dignidade e beleza e tornar a liturgia uma verdadeira expressão do mistério de Cristo e da genuína natureza da Igreja, em que os elementos visíveis significam e nos põem em contacto com os dons invisíveis da redenção. De facto, a liturgia, como diz a introdução da Constituição “Sacrosantum Concilium”, edifica os que estão dentro da Igreja em templo santo e ao mesmo tempo mostra a Igreja aos que estão fora (Cf SC1). Ou seja: robustece a fé dos crentes e orienta para a evangelização dos não crentes. É o centro da vida cristã, que confere unidade, sentido e força à existência e à actividade apostólica dos fiéis. É um ministério laical, próprio do sacerdócio comum dos fiéis. Tem uma matriz baptismal: É, portanto, próprio do Baptismo vivido de forma consciente plena e empenhada Na sua proximidade física do altar e da celebração dos mistérios, os acólitos representam a chamamento de todo o povo de Deus a ser um povo sacerdotal. Manifestam deste modo como todo o povo de Deus é chamado a uma participação activa e responsável da liturgia. “ A celebração da liturgia é uma acção sagrada não só do clero mas de toda a assembleia. É portanto natural que as tarefas que não são exclusivas dos ministros sagrados sejam desempenhadas pelos fiéis leigos. Torna-se assim espontânea a passagem de um efectivo envolvimento dos fiéis leigos na acção litúrgica para o anúncio da Palavra de Deus e para a cura pastoral” (ChFL 23). Os acólitos são, portanto, representantes do povo de Deus em geral. Os fiéis revêem-se nos acólitos. São membros da família paroquial, são familiares de muitos dos membros da assembleia celebrante. Ali tão próximos do Senhor, revestidos da veste branca da santidade e da dignidade baptismal, são chamados a ser um exemplo da atitude contemplativa feita de respeito e de devoção com que todos devemos viver a celebração da Eucaristia e dos Sacramentos. Aproximam, de certa maneira, toda assembleia do altar e da santidade do Senhor. Ocupando um lugar de relevo no espaço sagrado do presbitério manifestam a dignidade e a santidade de todos os fiéis. Mostram também como a Igreja é um corpo com muitos membros em que cada um tem tarefas próprias. Uma Igreja estruturada nas suas ordens e ministérios, em que cada um deve fazer só o que lhe compete e atribuir a outros as tarefas que lhes pertencem, sem absorver ou monopolizar as funções. Assim são incentivo e expressão de uma participação plena consciente e activa de todos os fiéis, segundo o desejo da Igreja manifestado no Concílio. (Cf S C 28). “ Na reforma e incremento da sagrada liturgia deve prestar-se a maior atenção a esta participação activa e plena de todo o povo, porque ela é a fonte primeira e necessária onde os fiéis hão-de beber o espírito genuinamente cristão. Esta a razão que deve levar os pastores de almas a procurarem-na com o máximo empenho, através da devida educação” (SC 28). 2. Os ministérios laicais são novidade do Concílio Vaticano II. Até aí estes ministérios eram considerados ordens menores para os candidatos ao sacerdócio. A consciência laical não estava devidamente esclarecida. O Concílio despertou o sentido de Igreja em todos os fiéis e chamou para uma participação mais activa e mais responsável na sua vida e missão. Iniciou um processo que está ainda em curso. Passados quarenta anos notamos alguns passos mas temos também consciência do longo caminho que temos para andar. Hoje temos motivo especial para recordar e retomar a renovação do Concílio Vaticano II. De facto, a 7 de Dezembro dava-se a última sessão deste grande evento eclesial, o Concílio da Igreja sobre a Igreja no seu mistério, na sua natureza, na sua estrutura, na sua missão. É na liturgia que encontramos a manifestação principal do mistério da Igreja. O centro da liturgia é o mistério de Cristo. Na liturgia toda a Igreja escuta a Palavra de Cristo, encontra-se com Ele, penetra mais profundamente no seu mistério, alimenta a chama da fé e o fogo do amor que a levam a cantar os louvores de Deus, como se exprimia o Papa Paulo VI na última sessão do Concílio a 7 de Dezembro. A liturgia foi uma das primeiras e principais áreas em que se notou a renovação do Concílio. Adoptando uma perspectiva teológica, e não rubricista como até essa altura, o Concílio entendeu a liturgia como expressão do mistério de Cristo. Nesse sentido, os ritos não são simples cerimónias, não são apenas elementos decorativos como em cerimónias civis. São sinais visíveis que realizam a santificação invisível dos homens. Prolongam a obra salvadora que Jesus realizou com os seus gestos visíveis. Estão radicados na encarnação de Jesus Cristo, em que o mistério de Deus se torna presente através da carne humana. Por isso, se recomenda aos participantes, e de modo especial aos acólitos, a concentração, a compostura, a devoção, o silêncio, como expressão do respeito e da veneração com que nos devemos aproximar da presença de Deus. O Concílio apresenta, por outro lado, a liturgia relacionada com a vida. A celebração reenvia à vida. Prepara para a missão no mundo. Nos ministérios instituídos deve ser ainda mais visível a relação com a vida. De facto, estes ministérios são uma tarefa dos leigos cujo papel específico é cuidar das realidades do mundo e orientá-las segundo o Evangelho. A liturgia não separa da vida mas santifica e orienta a vida humana para Deus. Convida a fazer da existência quotidiana uma oferta agradável ao Senhor. Envia ao mundo com uma fé mais viva e uma esperança mais irradiante. Deste modo, a participação activa na liturgia, exemplificada pelos acólitos, deve encaminhar para uma participação também mais activa na outras áreas da missão da Igreja: no anúncio do Evangelho e no testemunho de Deus no mundo, através do espírito de serviço e de solidariedade com que devemos realizar as nossas tarefas. 3. Maria é apresentada no Evangelho desta solenidade, como exemplo de serviço a Deus e aos homens. “Eis a serva do Senhor”. Também os que recebem um ministério se dispõem a servir Deus e os homens, onde e como Deus pede através da Igreja. A renovação litúrgica é uma preocupação que, na Diocese, nos preocupa como prioridade pastoral. Assim procuramos dar cumprimento ao Concílio. Para estes candidatos ao ministério ordenado, o exercício do acolitado é uma experiência que os tornará formadores do povo de Deus. As celebrações sem acólitos têm menos vida e menos beleza. A tarefa dos pastores é rodear-se de colaboradores, designadamente da função litúrgica, preparar e educar a participação activa de todo o povo de Deus. Escolher colaboradores responsáveis, formá-los para o exercício das suas tarefas é o caminho para renovar a Igreja no espírito do Concílio. Os acólitos contribuem para a beleza da liturgia na medida em que promovem a participação com dignidade, interioridade e sentido estético. Importa desempenhar bem, com qualidade, com sentido, com beleza, os ritos como visibilidade do mistério da encarnação. Tende pois presente a recomendação do Ritual: “Esforça-te por apreender o sentido íntimo e espiritual daquilo que realizas e oferece-te todos os dias a Deus como vítima espiritual que lhe é agradável”. D. Manuel Pelino, Bispo de Santarém Sé de Santarém

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