Os Gabinetes de Imprensa da Igreja: um ano depois

“Um ano depois” de quê? Do debate sobre “gabinetes de imprensa da Igreja” nas Jornadas de 2009. Mas eles não nasceram aí. Já corriam boas experiências, como as do Santuário de Fátima, da diocese de Lisboa, da diocese do Porto. Agora também as dos gabinetes de Braga, Algarve, Lamego, Évora, Guarda, Coimbra, Leiria-Fátima, Funchal, Viseu, Setúbal, Aveiro, numa espécie de “foi você que pediu um ‘Porto Ferreira’?”A vela é uma, o bolo é de festa. Mas ainda é só um mini-bolo.

O “gabinete de imprensa” é o quê? O apoio que o bispo tem para conhecer os media (que dizem, como funcionam; como colaborar, como responder) e o apoio que os media têm para conhecer o bispo (que diz, porque diz; que fez, porque fez; com que sonha).

O que é que o gabinete “não é”? Não é – ou cada vez menos é – o coordenador dos media diocesanos. Os media têm uma lógica diferente e melhoram com a autonomia. O gabinete está na “fonte”, colabora com os “media” (confessionais ou não). “Fonte” e “meio” podem às vezes ser amigos, mas os “negócios” sejam à parte.
Criar um gabinete não é tão difícil. Não começa com espaço, equipa, e meios óptimos, e – por isso – custos “péssimos”. Dê-se a tarefa a uma pessoa minimamente capaz e “deixem-na trabalhar”: porque aqui diria com razão Darwin que “a função cria o órgão”. Basta deixar crescer, ao ritmo da vida.

Tem de se chamar “gabinete de imprensa”? Não. Qualquer designação habitual satisfaz. Há o “Gabinete de Relações Públicas” do Município de Faro, o “Serviço de Comunicação” da Fundação Gulbenkian, o “Gabinete de imprensa” da Universidade aberta, o “Press room” de http://www.premiopessoa.pt/. Poucos decifrariam um “Serviço diocesano do Diálogo Igreja/media” ou um “Secretariado «Inter mirifica»”.

Um retrato assim do que é um gabinete de imprensa, todo voltado para a relação com os jornalistas, não estará a esquecer o público em geral? Há quem procure contactos, documentos, explicações; há quem tenha dúvidas, críticas, desabafos; há quem precise consolo, primeiros (e últimos) socorros espirituais; há quem deseje simplesmente Deus.

Sim, tudo isso é muito importante. A relação com os media e a relação com os públicos (também os internos) devem caber no mesmo olhar. Assim se pode dar à comunicação da Igreja uma personalidade coerente, que é para fora o mesmo que é para dentro.

Um gabinete de imprensa e comunicação, em parte é um “quartel de bombeiros”. Acorre às emergências, seja ou não “fogo posto”. E só por isso já é útil. Mas conseguirá muito mais se tiver planos e projectos. Porque o gabinete é também um “serviço de jardinagem” que, do que planta, só vê uma parte florir, às vezes ao fim de muito tempo.

Trabalhar projectos é o que melhor demonstra a utilidade dos gabinetes de imprensa. Que planos deve, então, ter?

A prioridade é o plano pastoral da diocese. Popularizar os objectivos, traduzi-los em suportes adequados, torná-los atraentes e interessantes. Há, depois, a comunicação de eventos: a viagem papal, a JMJ de Madrid. Num plano mais alargado, é sempre útil comunicar “as práticas sacramentais e devocionais” que, na Carta aos Irlandeses de Março de 2010, Bento XVI apontou e que “sustentam a fé e a tornam capaz de crescer”: “como por exemplo a confissão frequente, a oração quotidiana e os retiros anuais.”
A tarefa do gabinete é monitorizar e melhorar as respostas às perguntas:
 – as pessoas sabem o que é (o plano pastoral; a JMJ; a confissão, a oração, os retiros?);
– sabem onde encontrar (o plano pastoral; a JMJ; a confissão, a oração, os retiros)?;
– é fácil aceder (ao plano pastoral; à JMJ; à confissão, à oração, aos retiros)?
– sabem a importância para a sua vida (do plano pastoral; da JMJ; da confissão, da oração, dos retiros)?
Há dias, um conhecido meu em 10 minutos viu no site como obter o Cartão de Cidadão, agendou para 2 dias depois, foi recebido pontualmente, em 15 minutos estava despachado. Este padrão de qualidade é um teste. Qualquer um de nós pode comparar com a experiência pessoal de tentar confessar-se, ou ir à missa no local de veraneio.

Melhorar um pouco de cada vez. Seriam bons objectivos para um ano:
– na relação com os media: desde que um jornalista começa a tentar contactar até à primeira resposta, que não passem mais de 3 horas. O ideal: telemóvel sempre disponível (7 dias por semana).
– na relação com o público: que todo o email tenha resposta em 3 dias; que no site se encontre os contactos do gabinete em 3 cliques; que todo o número de telefone tenha quem atenda.

Pedro Gil
Director do Gabinete de Imprensa da Opus Dei

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