Os desafios da cidade em mutação

Agência ECCLESIA – O cristianismo pode ser uma religião para a cidade? Isabel Guerra – A cidade espelha de alguma forma aquilo que nós temos e somos, pelo que lá aparecem as contradições da sociedade. Se nós temos face à sociedade determinados valores e defendemos um modo de vida específica eles têm de estar presentes, ganhar visibilidade, pelo que a pergunta é transversal: os valores não são diferentes, são concretizados de modos diversos conforme os espaços que os envolvem no campo ou na cidade. AE – Onde estão as principais interpelações da cidade em mutação? IG – Eu colocaria quatro questões, muito genéricas, sobre o que está a acontecer à forma como nós vivemos nas nossas cidades. Em primeiro lugar é importante perceber como é que as cidades estão a evoluir, num discurso mais sistémico e estruturante. Depois é necessário reflectir sobre o modo como nós, urbanistas e “urbanitas” vivemos esta cidade e que impacto é que essa evolução tem nos nossos modos de vida. Outro aspecto importante é o de saber gerir essas formas de crescimento e os modos de vida daí decorrentes. Em último lugar aparece a relação de todos os que formam a Igreja com esta problemática: pessoas com valores, com um olhar específico sobre a sociedade e sobre o que pretendem do mundo. AE – O papel da Igreja na cidade também está em mutação? IG – Não tenho a noção de que a Igreja tenha um discurso sobre a cidade. Admito que quando nós discutimos as questões da cidade e as suas contradições o discurso da Igreja não emerge, apesar de algumas posições públicas em casos de realojamentos e bairros sociais. AE – É previsível que as mutações na cidade continuem a acelerar? IG – Sim, tudo vai mudar radicalmente. Nós estamos num período de crise, razão pela qual não damos conta da mudança, mas quando houver uma recuperação económica – a cidade é muito cara – as mutações serão muito rápidas e daremos conta disso. Quando chegarmos em três horas a Paris com o TGV, por exemplo, toda a cidade muda com essa proximidade. AE – Toda essa mutação afectará a Igreja Católica? IG – O problema da perda das sociabilidades na cidade é de uma importância fulcral para a missão da Igreja e como esse há outros: a cidade está feita sem considerar os problemas das pessoas. Na formatação e produção da cidade não tenho a certeza de que a Igreja tenha respostas, mas os próprios urbanistas não sabem conceber a cidade, tudo é demasiado recente e complexo para ter respostas rápidas, pelo que é natural que a Igreja se sinta confusa.

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