Ordinariato Castrense: Presença do capelão em cenários de guerra é muito «consoladora» e «reconfortante» para militares, afirma padre António Borges

Capelão militar recorda missões que acompanhou em Timor, no Líbano e Afeganistão

Foto Exército Português

Lisboa, 16 abr 2025 (Ecclesia) – O padre António Borges, capelão militar há 31 anos, destacou hoje a importância, para os militares, da presença dos capelães em zonas de guerra, que fornecem apoio humano e espiritual “muito forte”.

“É muito exigente para os nossos militares, mulheres e homens que servem quer nas forças armadas, quer nas forças de segurança, e a nossa presença é muito consoladora para eles, reconfortante”, afirmou, em declarações à Agência ECCLESIA, à margem da Missa Crismal com os capelães militares, na Igreja da Memória, em Lisboa.

O reitor da igreja da Memória e capelão da Unidade de Segurança e Honras do Estado da GNR já acompanhou missões em Timor, no Líbano e Afeganistão, caracterizando as experiências como “únicas” e todas elas “diferentes”.

“Quando estamos fora, no estrangeiro, quando estamos diante das primeiras linhas, a espiritualidade é sempre muito intensa e todos os momentos são intensos e são fortes e, por isso, a nossa presença é muito valorizada, como capelães, como aqueles que escutam, que apoiam, que celebram, que ouvem desabafos”, salientou.

Diante do perigo, a primeira dificuldade que militares passam é “a relação com a família”, indica o padre António Borges, realçando que quem “tem filhos, quem é casado, sente de uma forma particular estar exposto a um imprevisto”.

“Depois é a questão da própria vida, o próprio futuro. Nós lidamos com jovens, aqueles que servem nas Forças Armadas e nas Forças de Segurança são normalmente jovens, é uma idade com muito futuro e esse drama acompanha-os muito”, relata.

Foto: Agência ECCLESIA/LJ, padre António Borges

O padre António Borges recorda o momento em que, antes de partirem, os militares “pedem uma bênção”, “pedem que que Deus esteja com eles”, aquando de missões “particularmente exigentes” e “perigosas”.

“Há um misto de emoções, são momentos muito únicos, eu diria mesmo indizíveis”, descreve.

Segundo o capelão militar, “o desgaste, a erosão de muitos dias na frente de combate às vezes provoca também desgaste somático” nos militares, dando conta que “por muito que queiram e são resistentes”, por vezes “há quedas de cabelo”: “o stress manifesta-se fisicamente”.

“A mente é forte, o espírito é elevadíssimo, é fortíssimo, mas o nosso organismo muitas vezes diz-nos que estamos ali no limite e, por isso, o capelão é sempre um bálsamo, é sempre um bálsamo perfumado e também um espírito de alegria”, defendeu.

Em cenários de conflito, o padre António Borges refere que a escuta se faz de duas maneiras: “primeiro pelo ouvido” e “pelo olhar”, porque é preciso interpretar os sinais.

“Quando alguém se começa a isolar é preciso estar atento, quando alguém se refugia muito no seu canto é preciso estar atento, portanto a escuta do olhar é fundamental numa força nacional destacada”, enfatizou.

Depois, a escuta do desabafo é “muito importante”, acentua o sacerdote, uma vez que “quando se consegue verbalizar inicia-se logo um processo de recuperação”.

“Muitas vezes não é preciso dizer muitas palavras nem fazer muitas hermenêuticas, muitas interpretações, por vezes é preciso ir ao encontro do outro e sentar-se à mesa com ele e comer e partilhar e perguntar-lhe sobre a saúde, sobre a família, sobre os últimos hobbies que teve”, assinalou.

Foto: Agência ECCLESIA/LJ

De acordo com o bispo das Forças Armadas e de Segurança, nestas realidades, o capelão militar deve ser, essencialmente, o “homem que acompanha, que escuta, que, obviamente, propõe a palavra de Deus”.

“Antes de mais, deve ser ele quem escuta a palavra de Deus no seu coração, no mais profundo do seu ser, para depois também a transmitir aos demais”, referiu.

O responsável pelo Ordinariato Castrense celebrou hoje a Missa Crismal com os capelães militares, na qual sublinhou que sacerdotes não podem ser pastores que não escutam.

LJ/PR

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