Ordenações diaconais e sacerdotal no Funchal

 «Com Cristo, ao serviço da Igreja e do mundo»

Caros diocesanos: cheios de alegria pelas maravilhas que o Senhor realiza na vida pessoal de cada um de nós e da Igreja, fazemos ressonância da bela mensagem do salmo 125: "Grandes coisas fez por nós o Senhor: estamos exultantes de alegria"! A nossa Diocese está em festa e em jubilosa acção de graças pelas Ordenações, sacerdotal e diaconais, de quatro jovens madeirenses: um jovem religioso dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus, o José Rosário, será ordenado presbítero e os outros três jovens desta Igreja local – o Hugo Gomes, o Ricardo Freitas e o Luís Miguel, receberão o diaconado.

Com profunda alegria e sincero afecto, saúdo estes jovens, decididos e fortes no Senhor, que vão ser ordenados; saúdo os seus pais, outros familiares e amigos aqui presentes; saúdo as respectivas comunidades paroquiais (Estreito de Câmara de Lobos, Santana, Preces/Machico e Santa/Porto Moniz), seus párocos e quantos de alguma forma os ajudaram; saúdo os sacerdotes diocesanos e dehonianos, as equipas formadoras dos Seminários que frequentaram e toda a nossa família diocesana. 

Integrada no Ano Sacerdotal, a nossa celebração de hoje constitui, sem dúvida, um evento eclesial de grande alegria e esperança para a nossa Diocese e para a Igreja Universal, que, através dos ministérios ordenados, se enriquece da santidade de Cristo no Espírito Santo.

A autoridade como serviço

Celebra o calendário da Igreja universal, neste dia 25 de Julho, a festa de S. Tiago Maior, irmão de S. João Evangelista. A liturgia da Palavra introduz-nos na dinâmica do seguimento de Cristo, o Filho de Deus, que veio para servir e dar a vida pela salvação do mundo (cf. Mt 20,29).

Na 2ª Carta aos Coríntios (4,7-15), que escutámos na primeira leitura, S. Paulo evoca a graça e a sublimidade do ministério, com os seus paradoxos, que nos desarmam, pela grandeza da missão e dos sofrimentos inerentes à mesma. A fragilidade dos discípulos de Jesus é enaltecida, para que melhor se depreenda que transportam em "vasos de barro o tesouro do ministério" (2Cor 4,7).

À semelhança do ardente Apóstolo da Palavra e conscientes da grandeza da missão e da fragilidade humana, os sacerdotes e os diáconos aceitam alegremente o desafio da aventura evangélica. Eles devem testemunhar com a sua vida a Beleza do Rosto de Cristo e da Igreja. Na fidelidade a Cristo e em profunda comunhão eclesial, empenhem-se, por isso, como recomenda S. Paulo a Timóteo, por "reavivar o dom de Deus" que cada um recebeu (cf. 2Tim 1,6), com um coração indiviso, uma verdadeira caridade e solicitude pastoral para com todos.

O relato do Evangelho de Mateus (20, 20-28), há pouco proclamado, de grande densidade teológica, situa-se no contexto do último anúncio da Paixão de Jesus, já na iminência da Sua Páscoa. Ao pedido ambicioso de Salomé, mãe de Tiago e João, de honras, poder e domínio, Jesus aponta aos apóstolos o autêntico caminho do seguimento: beber o cálice até ao fim, como Ele (cf. Mt 20,22). Participar neste cálice significa permanecer humildemente fiel, identificado totalmente com Jesus.

O Mestre adverte claramente sobre os perigos de uma autoridade entendida como instrumento de glória e de poder. A Sua mensagem sobre a autoridade como serviço é absolutamente nova e revolucionária. O Filho de Deus encarnou, em plenitude, os gestos do autêntico serviço e autoridade, ao entregar voluntariamente a própria vida à morte para salvar a humanidade. Também o sacerdote e o diácono, através do Sacramento da Ordem e iluminados pela sabedoria da Cruz até à oferta da vida, testemunham o serviço da verdadeira autoridade de Cristo na comunidade eclesial.

Seduzidos e apaixonados por Cristo

A iniciativa do Ano Jubilar Sacerdotal, na continuidade do Ano Paulino, sob o tema "Fidelidade de Cristo, fidelidade do Sacerdote", tem como objectivo "reforçar em todo o Povo de Deus a consciência do dom imenso, que representa o ministério ordenado para quem o recebe, para toda a Igreja e para o mundo".

Como Bispo desta comunidade diocesana e primeiro responsável pelo dinamismo vocacional, lembro a todos, especialmente aos pais e aos sacerdotes, que sensibilizem e rezem, em família e na paróquia, pelas vocações sacerdotais e religiosas, e pelo nosso Seminário, que é o "coração da Diocese". Não podemos esquecer, porém, que a melhor proposta vocacional é o testemunho feliz da própria vida, de quem vive seduzido e apaixonado por Cristo.

Uma caridade pastoral autêntica e dinâmica nasce da intimidade com o Senhor. Na vasta seara do mundo, o sacerdote e o diácono permanecem com Cristo, em assídua e vigilante escuta. Por fidelidade à missão que lhes foi confiada, são convidados a responder aos desafios do nosso tempo, na atenção e escuta das necessidades e aspirações mais fundas de todos os homens e mulheres, no serviço privilegiado aos mais pobres e a quem mais precisa de ajuda, aos que têm sede e fome de justiça, de paz e de amor. "A Igreja não pode descuidar o serviço da caridade, tal como não pode negligenciar os sacramentos nem a Palavra" – escreveu Bento XVI, na sua primeira Encíclica (Deus caritas est, 22).

Dom por excelência

Dentro de momentos, no secular gesto apostólico da imposição das mãos, o Espírito Santo unge os seus escolhidos e habilita-os para o ministério diaconal e sacerdotal. A celebração é a memória viva e actual da presença e riqueza inesgotável do Espírito Santo na vida da Igreja, no hoje da história.

Os diáconos, colaboradores dos bispos e dos presbíteros, recebem o primeiro grau do Sacramento da Ordem e são ministros ordenados para o serviço da Igreja. Como recorda o Concílio Vaticano II, "A graça sacramental dá-lhes a força necessária para servirem o povo de Deus na ‘diaconia' da Liturgia, da Palavra e da Caridade, em comunhão com o Bispo e o seu presbitério" (Lumen Gentium, 29). Sob a autoridade do Bispo, os diáconos administram o Baptismo, assistem e abençoam o matrimónio, levam o viático aos moribundos e presidem às exéquias.

O presbítero, configurado com Cristo Bom Pastor e cooperador do Bispo, é chamado a seguir, testemunhar e reviver a própria caridade pastoral do Mestre. Ser padre é ser outro Cristo! Lembra-nos, também, o Concílio: "Como ministros das coisas sagradas, é sobretudo no sacrifício da Missa, que os presbíteros, de um modo especial fazem as vezes de Cristo…" (Presbyterorum Ordinis, 13).

Santo Cura d'Ars, a força do testemunho

Caros sacerdotes, diáconos e seminaristas, a grande referência do Ano Sacerdotal é, como sabeis, o Santo Cura d'Ars. Este humilde sacerdote francês não fez milagres extraordinários. Viveu com paixão e heroísmo o seu sacerdócio, humildemente, com simplicidade e alegria.

De realçar o seu singular amor a Cristo, à Igreja e à Santíssima Virgem; obediência e comunhão com o seu Bispo; fraternidade sacerdotal, amor e doação à comunidade eclesial, até ao limite das suas forças. Virtudes estas, sempre tão actuais, que fazem do Santo Cura d'Ars o modelo inspirador de sacerdotes, diáconos e seminaristas.

"O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus", dizia, com inefável ternura, o Santo Cura d'Ars. E foi na contemplação assídua do Coração Eucarístico de Cristo, que o P. João Maria Vianney encontrou o Livro vivo de eterna Sabedoria e Amor, para o dinamismo da sua acção pastoral como sacerdote.

Servir com alegria e generosidade

Caros ordinandos: neste momento, dirijo-me particularmente a vós! Convosco dou graças a Deus, pelo ministério que hoje vos é confiado e vos coloca, com Cristo, ao serviço da Igreja e do mundo. Felicito-vos pela generosidade e alegria do "sim" da entrega da vossa vida, desejando que seja compensado, pelos tempos fora, pela paz e felicidade, que sempre brota da intimidade com Deus, no serviço do Seu Reino! 

Sei que é esta a vossa convicção profunda e, por isso, me é grato recordar algumas mensagens e sentimentos de entusiasmo, esperança e alegria, que já vós próprios expressastes, em diversos momentos, e gosto de partilhar com toda a nossa família eclesial:

"Tenho a firme consciência de que o caminho vocacional percorrido, até à Ordenação sacerdotal, e o que espero percorrer, não foi nem será um percurso individual. Nesta caminhada, passaram muitos colegas, superiores, familiares, benfeitores, amigos e muitas outras pessoas que nem o nome conheço. A todos o meu obrigado" (José Rosário).

"Estar dentro da Igreja permite-nos ver as maravilhas que Deus continua a fazer em favor do Seu Povo. Peço-lhe humildemente que complete a obra que em mim iniciou, para benefício da Sua Igreja" (Hugo Gomes).

"Fui aprendendo a conhecer, a amar e a servir a Igreja, com o testemunho de vários sacerdotes, que são para mim exemplos felizes de serviço e entrega. A todos agradeço e peço a sua oração, para que seja fiel ao dom que o Senhor me entregará na ordenação" (Ricardo Freitas).

"Louvado seja o Senhor Jesus Cristo, minha fortaleza, por tudo o que tem realizado em mim, e Sua mãe Maria Santíssima que sempre me tem acompanhado com sua ternura maternal" (Luís Miguel).

Caros amigos: que a Senhora do Cenáculo e o Santo Cura d'Ars vos acompanhem e ensinem a viver, em fidelidade criativa, os ministérios de presbítero e diáconos, que agora ides receber!

Funchal, 25 de Julho de 2009

† António Carrilho, Bispo do Funchal

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