Ordenação Episcopal de D. José Cordeiro: Palavra conclusiva e Bulla

Canto e rezo em Deus o dom inestimável do Amor. E «para o amor o impossível não lhe parece difícil», como gostava de dizer Santa Teresinha. Hoje, também eu sou renovado na beleza suprema do amor e encorajado para o serviço do Evangelho da Esperança. É uma entrega total e nupcial, com a Igreja esposa de Cristo, da qual Ele é cabeça, pastor, esposo e servo.

Ao Senhor Núncio Apostólico agradeço a simpatia da sua presença e peço que transmita ao Santo Padre a total fidelidade e comunhão na solicitude por todas as Igrejas e, ainda, as saudações mais sinceras de proximidade do bom povo do Nordeste transmontano, unido na invocação do mesmo padroeiro do Papa e da Europa.

 A Sua Eminência, o Senhor Cardeal-Patriarca de Lisboa e Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, manifesto uma profunda e viva gratidão pela celebração sacramental da ordenação episcopal. Ao mesmo tempo, louvo a Deus pelo dom do seu ministério pastoral nestes 50 anos de sacerdócio.

Ao Senhor Arcebispo Secretário da Congregação para os Bispos agradeço e saúdo cordialmente.

Aos Senhores Bispos Eméritos de Bragança-Miranda, obrigado pelo testemunho e pela dedicação do vosso episcopado a esta nossa amada Diocese. O valor simbólico da coordenação manifesta visivelmente a continuidade na renovação do munus docendi, do munus sanctificandi e do munus pascendi nesta Igreja local.

Ao Senhor Arcebispo Primaz de Braga e Metropolita da Província eclesiástica, aos Senhores Arcebispos e Bispos renovo igualmente a minha disponibilidade, significada pela imposição das mãos, para uma colegialidade efectiva e afectiva. Saúdo, com vivo reconhecimento, os Bispos de Zamora e Tuy-Vigo, o Bispo delegado da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, os delegados da Conferência Episcopal de Moçambique e do Bispo de Baucau em Timor Leste.

Às Excelentíssimas autoridades autárquicas, civis, académicas, forças de segurança, muito obrigado pela vossa participação. Seja-me permitida uma menção especial ao Senhor Secretário de Estado da Cultura e aos Senhores Presidentes das Câmaras Municipais de Bragança,  de Miranda do Douro, de Vinhais e de Alfândega da Fé. Desejo que a nossa colaboração recíproca promova o desenvolvimento na verdade e na caridade e que na nossa terra «os montes tragam a paz ao povo, e as colinas, a justiça»[1].

A todos os Presbíteros e Diáconos, religiosos e religiosas, famílias, jovens e anciãos, seminaristas, instituições, movimentos, grupos e amigos, que quisestes estar aqui e agora, obrigado pela amizade e pela unidade na fé. Permiti que mencione: os membros do Colégio dos Consultores; os cónegos do Cabido desta Domus Cathedralis, a cujo presidente agradeço as palavras de saudação; os Superiores Gerais e Provinciais dos Jesuítas, dos Salesianos, do Verbum Dei, da Opus Dei, das Servas Franciscanas Reparadoras de Jesus Sacramentado, das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias, das Servas do Apostolado; o Reitor do Pontifício Colégio Português, que me acompanhou para a ordenação juntamente com o meu primeiro Reitor no Seminário Maiore Deão do Cabido; o Reitor do Instituto de Santo António dos portugueses em Roma; o Secretário da Conferência Episcopal Portuguesa; o Reitor do Seminário Diocesano e os Reitores dos Seminários, das Faculdades e Institutos de Teologia; o Reitor do Pontifício Ateneu de Santo Anselmo e os professores da Faculdade de Sagrada Liturgia e da Pontifícia Universidade de S.Tomás de Aquino; os grupos corais e instrumentistas; todos (e sois tantos! Deus sabe, vós sabeis e eu também, especialmente os que no silêncio e na oração e até na doença, testemunham a amizade e a fé) os que colaboraram directamente na nobre simplicidade desta Liturgia, no Protocolo, na arte e na oferta do brasão, das insígnias episcopais, dos paramentos e em tudo o que envolve este dia grande de festa. Até as novas linguagens da internet e suas redes sociais quiseram preparar este dia.

À comunicação social agradeço o trabalho realizado para o bem comum do povo desta realidade histórica e cultural nordestina.

A todas as paróquias da Diocese, em especial a paróquia de S. Tiago de Parada-Alfândega da Fé e as paróquias que servi: Salsas com Freixeda, Moredo e Vale de Nogueira; a Paróquia Escolar com a capelania do Instituto Politécnico; Cova de Lua; Grijó de Parada com Freixedelo e Caroçedo; Sortes e Mós com Viduedo e Lanção e aquelas de adopção nos últimos doze anos: Rebordelo, Vila Flor e as do Arciprestado de Alfândega da Fé.

À minha mãe aqui presente e ao meu pai na liturgia celeste, aos meus irmãos, cunhados e afilhados, tios e primos e a toda a família, eternamente grato por tudo.

Caríssimos Presbíteros de Bragança-Miranda, deixai que vos diga de coração aberto: eu não sou pensável sem vós; sois os primeiros e indispensáveis colaboradores. Quero continuar vosso irmão e vosso amigo; ajudai-me a ser pai e pastor. A nossa Igreja Diocesana é uma realidade desafiante. E, como escreveu F. Pessoa «a espantosa realidade das coisas é a minha descoberta de todos os dias»[2]. A nossa realidade pastoral exige a coragem, a confiança e a paciência para ir ao encontro dos homens e das mulheres do nosso tempo, testemunhando que também hoje é possível, belo, bom e justo viver a existência humana à luz do Evangelho.

Não tenhamos medo, «ninguém o viu ainda, mas é belo. É o futuro…»[3], evidenciou-o bem M. Torga. Somos chamados a uma conversão pastoral para abraçar este desafio do futuro, da cultura e da fé. Por isso, convoco-vos para a Missão do Essencial ao serviço de todo o povo de Deus a nós confiado. No dia 17 de Outubro gostaria de estar com todo o Presbitério e os Diáconos, numa Assembleia do Clero a realizar no “coração da Diocese”, o nosso Seminário de S. José. E, logo que seja possível, gostaria também de me encontrar com os movimentos e organismos eclesiais, com as diferentes autoridades, meios de comunicação social e instituições de solidariedade.

Da liturgia à caridade, da catequese ao testemunho de vida, tudo na Igreja deve tornar visível e reconhecível o rosto de Cristo, a centralidade do mistério integral de Cristo. Ad docendum Christi Mysteria – Para mostrar os mistérios de Cristo, é uma expressão de um antigo livro litúrgico, o Liber Ordinum Episcopal de Silos, usada na ordenação sacerdotal[4]. O ministério é, com efeito, para revelar a «economia do mistério»[5] e «anunciar com ousadia o mistério do evangelho»[6]. O mesmo e único mistério de Cristo, anunciado, celebrado e vivido na alegria do hodie – o eterno hoje da salvação de Deus – que abraça todo o tempo, passado, presente e futuro e se torna presença perene na Igreja através da liturgia. Só o mistério revela o mistério.

O grão de amendoeira é símbolo deste admirável mistério: na primeira casca verde amarga; na segunda casca dura resguarda-se e fortalece-se; no interior é de bom e belo sabor. Da sua madeira rija é a vara do báculo pastoral, encimado pelo grão. A cruz peitoral provém do mesmo lenho e é florida pela sua flor e folhas. A amendoeira descreve, desde a flor até ao grão, a epifania de um tempo novo. O tempo de Deus.

Pergunto-me muitas vezes qual o principal dever que me é pedido como Bispo. Não tenho alguma dúvida em pensar que é o serviço da oração e da evangelização: devo rezar por todo o povo a mim confiado e irradiar, o mais possível, através da palavra e das obras, o amor gratuito do Bom Pastor. A oração litúrgica é a voz da esposa ao Esposo e é a gramática da oração e a epifania do mistério. Peço a Deus um coração que escute os sinais dos tempos e os desafios que neles se manifestam, para ser um humilde servidor da Beleza, da Verdade, do Amor e da Alegria para vós e convosco, recordando as palavras de S. Bento: «escuta, filho, os preceitos do mestre, e inclina o ouvido do teu coração»[7].

Esta semana, a Diocese celebra o décimo aniversário da dedicação da Catedral. Aqui nesta casa «situada no tempo para habitação da eternidade, aqui procuramos pensar reconhecer sem máscara ilusão ou disfarce e procuramos manter nosso espírito atento liso como a página em branco, aqui para além da morte da lacuna da perca e do desastre celebramos a Páscoa, aqui celebramos a claridade, porque Deus nos criou para a alegria»[8], como escreveu Sophia de Mello. Este dia favoreça e aumente a consciência de que a Igreja existe para evangelizar e deve reconhecer-se em estado permanente de missão. Maria, a Mulher admirável da Esperança e estrela da nova evangelização, nos mostre o Mistério.

De todo o coração, bem-hajam! Muito obrigado!  

D. José Manuel Garcia Cordeiro
Bispo de Bragança-Miranda


[1] Sl 72, 3.

[2] A. CAEEIRO, Poemas.

[3] M. TORGA, Hossana, in IDEM, Poesia completa, vol. I, Dom Quixote, Lisboa 2007, 410.

[4] J. JANINI (ed.), Liber Ordinum Episcopal (Cod. Silos, Arch. Monástico, 4), Abadía de Silos 1991, 99,96.

[5] Ef 3,9.

[6] Ef 36,19.

[7] Prólogo da regra de S. Bento.

[8] S. DE MELLO ANDRESEN, A casa de Deus, Páscoa 1990.

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