Oração no final de Bento XVI na procissão eucartística em Lourdes

Senhor Jesus, estais aqui! E vocês, meus irmãos, minhas irmãs, meus amigos, vocês também estão aqui, comigo, diante d’Ele! Senhor, dois mil anos atrás, aceitastes ser elevado numa cruz de infâmias, para depois ressuscitar e permanecer sempre connosco, vossos irmãos e irmãs. E vocês, meus irmãos, minhas irmãs, meus amigos, Vocês aceitam deixar-se conquistar por Ele. Nos O contemplamos! Nós O adoramos! Nós O amamos! E tentamos amá-Lo ainda mais. Nós contemplamos Aquele que, durante a ceia pascal, doou seu Corpo e seu Sangue aos discípulos, para estar com eles “todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28,20). Nós adoramos Aquele que está no início e no fim de nossa fé, Aquele sem o qual não estaríamos aqui esta noite. Aquele sem o qual nós não existiríamos. Aquele sem o qual nada existiria, nada, absolutamente nada! Ele, por meio do qual, “tudo foi feito” (Jo 1,3), Ele no qual fomos criados, para a eternidade, Ele que nos doou seu Corpo e seu Sangue, Ele está aqui, esta noite, diante de nós, oferecido a nossos olhos. Nós amamos – e tentamos amar sempre mais – Aquele que está aqui, diante de nós, oferecido a nossos olhos, às nossas questões a nosso amor. Seja que caminhemos ou que estejamos presos em um leito de dor (caminhemos na alegria ou estejamos no deserto da alma). Senhor acolha-nos todos em seu Amor: no amor infinito, que é eternamente o de Pai para Filho, e do Filho para o Pai, o do Pai e do Filho pelo Espírito Santo e do Espírito pelo Pai e pelo Filho. A Hóstia Santa, exposta a nossos olhos, manifesta esta força infinita do Amor manifestada na Cruz gloriosa. A Hóstia Santa nos diz a incrível humilhação d’Aquele que se fez pobre para fazer-nos ricos d’Ele, Aquele que aceitou perder tudo para ganhar ao Seu Pai. A Hóstia Santa é o Sacramento vivo e eficaz da presença eterna do Salvador dos homens à Sua Igreja. Irmãos meus, irmãs, meus amigos, Aceitamos, aceitem, oferecer-se Àquele que nos doou tudo, que não veio para julgar o mundo, mas para salvá-lo. Aceitem reconhecer em suas vidas a presença activa d’Aquele que está aqui presente, exposto a nossos olhos. Aceitem oferecer-Lhe suas próprias vidas! Maria, a Virgem santa, Maria, a Imaculada Conceição, aceitou, dois mil anos atrás, doar tudo, oferecer seu corpo para acolher o corpo do Criador. Tudo veio de Cristo, inclusive Maria; tudo veio mediante Maria, o próprio Cristo. Maria, a Virgem santa, está aqui connosco esta noite, diante do Corpo do seu Filho, cento e cinquenta anos depois de ter se revelado à pequena Bernadette. Virgem santa, ajuda-nos a contemplar, ajuda-nos a adorar, ajuda-nos a amar, a amar mais Aquele que tanto nos amo, para vivermos eternamente com Ele. Uma imensa multidão de testemunhas está presente de modo invisível ao nosso lado, próxima desta gruta abençoada e diante desta Igreja desejada pela Virgem Maria. A multidão de todos os homens e mulheres que passaram horas adorando-O no Santíssimo Sacramento do altar. Esta noite não os vemos, mas os ouvimos dizer a cada um e cada uma de nós: Vem, deixa-te atrair pelo Mestre! É Ele que te está chamando! (Jo 11,28). Ele quer tomar a tua vida e uni-la à Sua. Deixa-te levar por Ele. Não olhes mais para as tuas feridas, mas para as suas. Não olhes para aquilo que ainda te separa d”Ele e dos outros; olha para a infinita distância que Ele desfez ao assumir a tua carne, ao subir à Cruz que os homens Lhe prepararam e ao deixar-se conduzir à morte para demonstrar-te o seu amor. Em suas feridas Ele te acolhe; em suas feridas, Ele te esconde. Não te negues ao seu amor!”. A imensa multidão de testemunhas que se deixou invadir pelo seu amor é a multidão de santos do céu, que não cessam de interceder por nós. Eram pecadores e sabiam-no; mas aceitaram não olhar para as suas feridas, não olhar senão para as feridas do seu Senhor, para descobrir a glória da Cruz, para descobrir a vitória da Vida sobre a morte. São Pedro Julião Eymard nos diz tudo, quando exclama: “A Santa Eucaristia é Jesus Cristo passado, presente e futuro”. Jesus Cristo passado, na verdade histórica da noite no cenáculo, onde nos conduz em todas as celebrações da Santa Missa. Jesus Cristo presente, porque Ele nos diz: tomai e comei todos vós, este é o meu corpo, este é o meu sangue”. Este ‘é’, no presente, aqui e agora, como em todos “aqui e agora” da história humana. Presença real, presença que supera os nossos pobres lábios, nossos pobres corações, nossos pobres pensamentos. Presença oferecida aos nossos olhares, esta noite, junto a esta gruta onde Maria se revelou como Imaculada Conceição. A Eucaristia é também Jesus Cristo futuro, o Jesus Cristo que vem. Quando contemplamos a Hóstia Santa, o seu corpo de glória transfigurado e ressuscitado, contemplamos aquilo que contemplaremos na eternidade, descobrindo o mundo inteiro, sustentado em seu criador em todo instante de sua história. Cada vez que nos alimentamos, mas também cada vez que o contemplamos, nós o anunciamos até que Ele regresse: ‘donec veniat’. Justamente por isso, nós o recebemos com infinito respeito. Alguns entre nós não podem ainda recebê-Lo no Sacramento, mas podem contemplá-Lo com fé e amor, e expressar o desejo de poderem finalmente unir-se a Ele. É um desejo que tem grande valor diante de Deus: eles aguardam com ainda mais ardor o seu regresso; aguardam Jesus Cristo que deve chegar. Quando uma amiga de Bernadette, no dia seguinte à sua primeira comunhão, lhe perguntou: “O que te fez mais feliz: a primeira comunhão ou as aparições?”, Bernadette respondeu: “São duas coisas que caminham juntas, não podem ser comparadas. Fiquei feliz pelas duas” (Emmanuélite Estrade, 4 junho 1958). O seu pároco testemunhou ao Bispo de Tarbes sobre a sua primeira comunhão: “Bernadette comportou-se com grande recolhimento, com uma atenção que não deixava nada a desejar… Parecia profundamente consciente da acção santa que estava a realizar. Tudo nela acontece de modo surpreendente”. Com Pedro Julião Eymard e com Bernadette, nós invocamos o testemunho de tantos e tantos santos e santas que tiveram pela Eucaristia o maior amor. Nicolas Cabasilas exclama e nos diz, esta noite: “Se Cristo habita em nós, do que precisamos mais? O que nos falta? Se permanecermos em Cristo, o que mais podemos desejar? Ele é o nosso hospede e nossa moradia. Bem-aventurados aqueles que como nós, somos a sua moradia! Que alegria sermos nós a morada de um tal Inquilino!” (La vie en Jésus-Christ, IV, 6). O Beato Charles de Foucauld nasceu em 1858, mesmo ano das aparições de Lourdes. Não muito longe do seu corpo, rígido pela morte, foi encontrada, como a semente de trigo lançada no chão, uma ‘luneta’ que continha o Santíssimo Sacramento, que o irmão Carlos adorava todos os dias, durante longas horas. O Pe. de Foucauld confia-nos a oração que brotou do fundo do seu coração, uma oração dirigida ao Pai celeste, mas que, com Jesus, podemos fazer realmente nossa, diante da Hóstia Santa: «Meu Pai, confio o meu espírito às tuas mãos. É a última oração do nosso Mestre, do nosso Predilecto… Que possa se tornar nossa, e que não seja apenas a de nosso último instante, mas de todos os nossos instantes: “Meu Pai, coloco-me em tuas mãos; Meu Pai, entrego-me a ti: Pai meu, abandono-me a ti; Pai meu, faz de mim o que quiseres: qualquer coisa que fizeres, agradeço-te; obrigado por tudo; estou pronto para tudo; aceito tudo; agradeço por tudo. Visto que a tua vontade se realiza em mim, oh meu Deus, visto que a tua vontade se realiza em todas as criaturas, em todos os teus filhos, em todos aqueles que o teu coração ama, não desejo mais nada, meu Deus; deposito a minha alma em tuas mãos; dou-te, meu Deus, com todo o amor do meu coração, porque te amo e doar-me é uma necessidade do meu coração; colocar-me em tuas mãos, sem medida, com infinita intimidade, porque tu és o meu Pai”. Queridos irmãos e irmãs, peregrinos de um dia e habitantes destes vales, irmãos Bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos, religiosas, todos que vêem diante dos seus olhos a infinita doação do Filho de Deus e a glória infinita da ressurreição, fiquem em silêncio e adorem o Senhor, o nosso mestre e Senhor Jesus Cristo. Fiquem em silêncio, depois falem e digam ao mundo: não podemos mais omitir aquilo que sabemos. Vão e digam ao mundo inteiro as maravilhas de Deus, presente em todos os momentos das vossas vidas, em todos os lugares da terra. Que Deus nos abençoe e nos proteja, nos conduza ao caminho da vida eterna. Ele que é a Vida, pelos séculos dos séculos. Amen. (Com Rádio Vaticano)

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