Oportunidades para a Pastoral

Peregrinação das Relíquias de Santa Teresinha De harmonia com o temática sugerida, começo por referir que, na verdade, a Peregrinação das Relíquias de Santa Teresa pelas Dioceses de Portugal deve constituir uma verdadeira oportunidade para colher e intuir algumas prioridades. Num mundo sem referências e relativismo, importa a coragem de reconhecer que a história foi construída por pessoas que apostaram num projecto de vida. Duma maneira aleatória enumero algumas oportunidades. São sugestões que vêm confirmar o ritmo da pastoral ordinária ou que, porventura, podem sugerir alterações de sentido. 1 – Santa Teresa do Menino Jesus foi alguém preocupada em discernir o “seu” lugar na Igreja. Os seus escritos são uma ressonância da experiência interior que foi realizando. Hoje necessitamos de colocar os cristãos nesta atitude de escuta para ultrapassar o comodismo dum cristianismo acomodado a tradições e chegar a intuir o papel insubstituível de cada um. A vida não é suficientemente reflectida nesta perspectiva. A pastoral deverá sempre questionar e ser ajuda para um encontro com a corresponsabilidade alegre por parte de todos os fiéis, sacerdotes ou leigos. Posso afirmar que toda a pastoral terá de ser vocacional para que as vocações de especial consagração surjam. Trata-se duma oportunidade que não pode ser desperdiçada. 2 – Esta atitude de discernimento fez com que Santa Teresa se colocasse no “coração” da Igreja através duma vocação particular, encarada com consciência eclesial. Este exemplo pode conduzir-nos a uma constatação com uma aposta numa opção pastoral. Não desconsiderando o número crescente dos cristãos empenhados, parece-me que todos reconhecem a realidade duma consciência de pertença à Igreja de reduzidas dimensões. São muitos os cristãos que permanecem numa atitude passiva, talvez de crítica, sem a coragem de se assumir como membros da Igreja numa pertença de intervenção, diálogos, crítica positiva. Ainda perdura o conceito de identificar a Igreja com os padres e de delegar, uns poucos a quem se confiam, tarefas que dizem respeito a todos. Suscitar uma consciência de pertença, com direitos e deveres, é oportunidade a aproveitar. 3 – No emaranhado das ocupações quotidianas para uma vida humana com muitas exigências, assistimos à pressa que caracteriza o dia a dia das pessoas numa preocupação, quase exclusiva, pelo material. O consumismo e a ânsia de ter não estão a permitir a liberdade de criar espaços de tempo para o gratuito contem-plativo. Não como mera actividade, mas como exigência dum humanismo integral gerador de equilíbrio e serenidade. Perante esta realidade, teremos de suscitar a necessidade do silêncio, do deserto, da intimidade. Trata-se da dimensão contemplativa na vida do cristão que nasce da dimensão de mistério que envolve todo o cristianismo. Ele é, essencialmente, dom a acolher e contemplação da Trindade como impulso e coragem. A Igreja nos tempos actuais necessita de consagrados a viver de harmonia com as exigências duma clausura, mas tem necessidade de contemplativos a percorrer as estradas e a encher os lugares de trabalho. 4 – A “peregrinação” das Relíquias por todas as dioceses pode evocar a dimensão missionária da vida de Santa Teresa. Pela sua vida Cristo tornou-se mais conhecido e amado. A sociedade secularizada, onde as comunidades se situam, é um apelo à inculturação do Evangelho. O homem moderno vive “distraído” no meio de tantas coisas e o transcendente é ignorado ou atacado. Os últimos acontecimentos parecem denunciar uma campanha, orquestrada no silêncio, para incrementar, de novo, o ateísmo. Neste contexto, teremos de redesco-brir a dimensão missionária e apostólica das nossas comunidades. A dinâmica da Nova Evangelização ainda não conseguiu discernir e apostar em novos “métodos” e o “ardor” não atinge o âmago dos problemas reais. Trata-se de ser fiel à tradição mas também de percorrer caminhos de renovação para entrar nos tecidos sociais que caracterizam o nosso tempo. Esta “oportunidade” duma Igreja mais missionária pode sintetizar as anteriores. Se existir esta convicção teremos comunidades contemplativas, com consciência de pertença e em atitude de permanente discernimento vocacional. Todas estas “oportunidades” devem ser aproveitadas para que esta visita das relíquias se torne uma verdadeira “oportunidade” para reassimilar o Espírito do Concílio Vaticano II. Os documentos existem e o Concílio continua a ser manancial de inspirações pastorais. A quase coincidência deste trabalho da Igreja em Portugal com os 40 anos do encerramento do Concílio ajudará a “gastar-se” para que sejamos dioceses conciliares, ou seja, animadas pelo Espírito que percorre todos os documentos que continuam a dizer o que a Igreja deve ser “aqui e agora”. Assim aconteça e valerá a pena. D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga, Arcebispo Primaz

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