Óbito/Setúbal: Um bispo da cor do seu povo

D. Manuel Martins sublinhou «identidade social» do Cristianismo

Lisboa, 25 set 2017 (Ecclesia) – D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal que faleceu este domingo, aos 90 anos, sublinhou ao longo da sua vida a “identidade social” do Cristianismo e a necessidade de “olhar o homem todo”, por parte da Igreja.

O primeiro bispo da diocese sadina chegou à região em 1975, tendo ficado conhecido pela sua proximidade aos trabalhadores e os mais pobres, o que lhe valeria o epíteto de ‘Bispo Vermelho’.

“O báculo e a mitra tinham tanto lugar nas fábricas, bairros abandonados, nas pessoas com fome, como tinha na catedral ou, se calhar, até talvez mais”, diria à Agência ECCLESIA, em 2013, evocando estes tempos.

O responsável considerou quem os que andam no terreno, junto dos mais necessitados, fica com a “cor” dos que lá estão.

A Igreja, defendeu numa das várias entrevistas à ECCLESIA, tem de pregar a esperança sem “alienar” as pessoas, desafiando os poderosos que passam a sua vida “ajoelhados diante do lucro, do dinheiro”.

Em abril de 2013, numa entrevista ao Semanário ECCLESIA, D. Manuel Martins alertava para uma “ditadura do medo” e pediu um novo “25 de Abril” capaz de promover a paz e a justiça em Portugal.

“Não podemos esquecer que há muito desespero guardado, contido, em milhões dos nossos compatriotas. Ponho-me na pele deles, das pessoas que sabem que perderam o trabalho ou que o vão perder amanhã, que têm todos os seus compromissos sociais, familiares, a cumprir”, observou então.

Conhecido pelos seus próximos como um homem de oração e interioridade, D. Manuel Martins, desejava que os católicos surgissem como uma “provocação” na sociedade atual, afirmando que a “identidade cristã está identificada com a sua identidade social”.

“Às vezes, penso que na Igreja andamos todos muito quietinhos ou morninhos, porque nem nos provocam, nem nós provocamos, nem provocamos ninguém”, assinalava, num texto publicado pelo Semanário ECCLESIA.

Em 2014, o bispo emérito de Setúbal apresentou uma reedição do livro ‘Pregões de Esperança’, obra dedicada à reflexão que o prelado realizou à volta da temática social.

Em declarações à Agência ECCLESIA, no salão nobre dos Paços do Concelho de Setúbal, D. Manuel Martins reconheceu que, na base desta nova edição, revista e aumentada, esteve o “objetivo de elevar a alma, o ânimo do país”, num tempo marcado pela dificuldade.

Tal como a primeira edição dos ‘Pregões de Esperança’, lançada em 1997 por iniciativa da Cáritas Diocesana de Setúbal, a obra renovada reúne “artigos, mensagens e poemas” dedicados à temática social, que D. Manuel Martins foi escrevendo ao longo dos anos.

Em 2012, um ano após o pedido de resgate, o prelado lamentava a ausência de uma explicação “correta e completa” para a situação de crise que atingia Portugal, mas mostrava-se confiante no futuro do país.

D. Manuel Martins, antigo responsável pela então denominada Comissão Episcopal da Ação Social e Caritativa da Igreja Católica em Portugal, foi agraciado com a grã-cruz da Ordem de Cristo, durante as comemorações do 10 de junho de 2007, em Setúbal, e com o galardão dos Direitos Humanos da Assembleia da República, a 10 de dezembro de 2008.

PR/LFS/OC

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