Óbito/Setúbal: D. Manuel Martins deixa «legado» interventivo – Arcebispo de Braga

D. Jorge Ortiga recorda que bispo emérito era «homem de profunda fé, a partir de dentro que agia com coragem»

Braga, 25 set 2017 (Ecclesia) – O arcebispo de Braga disse hoje que D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, deixou como legado à Igreja Católica em Portugal a capacidade de intervenção e de “mostrar a verdade”, sem medo das consequências.

“Sempre o vi nessa perspetiva, um homem que não se calou perante aquilo que era necessário dizer e creio que isto é um legado que a Igreja não pode perder”, realçou D. Jorge Ortiga à Agência ECCLESIA.

Para o arcebispo de Braga, a Igreja “tem de ser mais corajosa” e, nos “tempos que correm”, dar um testemunho “mais eloquente daquilo que é a Doutrina do Evangelho” sem ter “receio”.

“Por vezes, acomodamo-nos à nossa situação, verificamos que os outros estão a construir uma sociedade alheia aos valores evangélicos e permitimos que tudo naturalmente vá acontecendo”, desenvolveu.

Com a morte de D. Manuel Martins, primeiro bispo sadino, aos 90 anos de idade, Portugal perdeu “um grande homem” que se identificou com “a causa dos mais pobres, dos mais necessitados,” e “lutou” por ela sendo que o seu trabalho foi em favor dos católicos, dos cristãos mas de qualquer pessoa, “de muita gente que nem sequer frequentava a Igreja”.

“Soube viver para todos na vertente de doação e entrega sem fronteiras e sem ideologias ou coisa parecida”, destacou D. Jorge Ortiga.

O arcebispo primaz recorda que quando D. Manuel Martins chegou à recém-criada Diocese de Setúbal, em 1975, encontrou uma região “martirizada” e foi um bispo “muito atento a essas situações sociais, alguns graves”, onde procurou responder, em termos pessoais e em termos das estruturas da Igreja, e “alertar a sociedade para essas situações”.

D. Jorge Ortiga tinha reagido este domingo à notícia da morte do bispo emérito com uma mensagem na sua conta na rede social Twitter: “D. Manuel Martins, descanse em paz. Os pobres e os trabalhadores têm um intercessor no céu”.

O arcebispo de Braga explica que caracterizou o bispo emérito como “um advogado dos pobres e dos trabalhadores” porque ele “olhou para as condições de trabalho em que eles viviam” mas também para os que “não podiam usufruir do direito ao trabalho”, os desempregados que “eram muitos que traziam consigo a pobreza”.

Na Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) D. Manuel Martins foi presidente da Comissão Episcopal da Ação Social e Caritativa, bem como da Comissão Episcopal das Migrações e Turismo.

“Deixa ficar esse legado à CEP, e diversas comissões, que poderemos intervir e devemos falar. Que não devemos ter medo e devemos mostrar a verdade ainda que, por ventura, custa em consequências”, assinala D. Jorge Ortiga.

O responsável recorda também um bispo “muito interventivo” que “não procurava estar em concordância com todos”.

“Se fosse necessário discordar, com certeza que o fazia e muitas vezes para ousar, mostrar o que era verdade e lutar por essa mesma verdade”, acrescenta, lembrando ainda D. Manuel Martins como “um amigo, um conselheiro”.

O bispo emérito de Setúbal era também “um homem de profunda fé”, com uma “convicção interior muito grande e de intimidade com Deus”, porque era “a partir de dentro que agia com coragem”.

“Os profetas não conseguem ser profetas sem vida interior. A força vem sempre de dentro e ele sendo homem de coragem para anunciar e denunciar a força vinha da intimidade com Deus”, observa D. Jorge Ortiga.

O corpo de D. Manuel Martins já se encontra no Mosteiro de Leça do Balio (Matosinhos – Porto) e as exéquias fúnebres vão celebrar-se esta terça-feira, pelas 15h00.

CB/OC

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Agência ECCLESIA

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