O irmão David esteve em Portugal para participar num encontro internacional de preparação da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, onde a Comunidade ecuménica de Taizé, que integra, vai estar presente, “numa igreja, na baixa de Lisboa”, convidando a fazer o que, indica, a comunidade faz de melhor: “Vamos acolher quem quiser para rezarmos juntos”. Esse é o convite que semana após semana Taizé renova, confirmando a sua vocação primeira de a todos receber e acolher – não para ver rezar, mas para juntos rezarem.
Nesta conversa o irmão David recorda a surpresa que a oração, simples, silenciosa, feita em comunidade, lhe provocou quando em 1987, foi a Roma participar num encontro europeu. Desde então, o seu caminho, até entrar na comunidade em 1997, foi um atravessar uma porta que se abriu, onde entrou, gostou do que viu, viveu e quis entrar.
A comunidade de Taizé não é imune ao hoje da Igreja: os irmãos enviaram a sua síntese para a secretaria do Sínodo dos Bispos, onde explicaram o seu sonho de ouvir e rezar com que não está na Igreja, e criaram também uma comissão para acompanhar as denúncias de abusos sexuais de menores, que ferem toda a comunidade e que, afirma o irmão David, devem ser assumidos com verdade e transparência, pensando em primeiro lugar nas vítimas.
«Vejo muita vontade de autenticidade nos jovens. Há muitos jovens que hoje vão à Igreja e aquilo não lhes diz nada. Têm perguntas e vão procurar noutro sítio. Querem coisas que sejam autênticas para eles. Acho isso muito bonito. Pode levar a situações muito ligeiras porque as coisas não são sempre preto e branco, mas o desejo de autenticidade fá-los procurar coisas verdadeiras»
«Aquele estilo de oração foi uma descoberta: uma oração cantada, alegre, uma oração em que respiramos; hoje diria, uma oração onde descansamos em Deus. E onde o silêncio marca. Não estamos só para dizer alguma coisa, só para ouvir uma mensagem, mas estamos para estar com, e este estar com, ultrapassa as palavras. E o silêncio é um saber estar sem olhar para o relógio, sem estar a pensar no que vamos responder a seguir, preocupados com o que estamos a fazer, mas estamos porque estamos bem»
«Quando soubemos dos casos, não quisemos fechar os olhos. Queremos em primeiro lugar acompanhar a pessoas que sofrem e em segundo na transparência que é o reconhecimento do sofrimento das pessoas, e fazê-lo publicamente»
«A realidade LGBT é uma realidade que coloca muitas questões, mas antes de colocar as questões, será que nos preocupamos em acolher as pessoas? Em ouvir? O que têm a dizer? O que vivem? Como se sentem excluídas? Para a comunidade de Taizé esta realidade não é teórica. Chegam pessoas com grandes sofrimentos, delas e dos seus familiares, e a pergunta é como são acolhidas e ouvidas?»