O Senhor nos conceda o perdão e a paz

Mensagem do Bispo de Santarém para a Quaresma de 2007 Estimados amigos e irmãos na mesma fé cristã. Ao iniciar um novo tempo da Quaresma venho, como nos anos anteriores, dirigir-vos uma mensagem para preparar a Páscoa, centro da nossa fé. O período quaresmal é, de facto, uma preciosa oportunidade de renovar a nossa existência de modo que seja transformada e iluminada pela alegria e pela beleza da Páscoa. A Ressurreição de Jesus Cristo é, na verdade, a afirmação da vitória do amor, do perdão e da paz que são oferecidos a todos os crentes. Para alcançarmos estes dons pascais precisamos de viver empenhadamente a Quaresma. Este tempo de graça abre-nos à acção transformadora do Espírito Santo e orienta-nos no percurso da penitência que conduz a uma vida renovada, mais livre, mais harmoniosa, mais fecunda na bondade e no serviço. Por isso, vos dirijo esta mensagem quaresmal inspirada na saudação pascal de Jesus em que concede o perdão e a paz aos Seus apóstolos e à Sua Igreja. A mensagem relaciona-se também com o programa diocesano deste ano dedicado aos sacramentos da cura (Unção dos doentes e Reconciliação). A Quaresma ajuda-nos, por outro lado, a encontrar resposta para questões muito actuais. Vivemos numa época de subjectivismo e relativismo que causam muita confusão e dúvidas acerca da substância viva da fé. Ora a Quaresma leva-nos ao coração da fé, ao seu núcleo original, que é entrega de Jesus e a Sua Ressurreição. Põe-nos em contacto mais assíduo com a Palavra de Deus, fonte de vida, convida-nos também a preparar e a celebrar o sacramento da Reconciliação e a tomar o Pão da Vida. Torna-se, assim, um tempo de meditação, de oração, de aprofundamento da fé e também de exercitação na conversão ao amor e ao caminho da vida. Ajuda-nos, portanto, a vencer o cansaço espiritual, o ruído, a dispersão, o vazio e a cultivar a vida interior. Nesta perspectiva proponho algumas direcções para viver esta Quaresma. 1. “Arrepende-te e acredita no Evangelho”. É a primeira direcção apresentada logo no início do itinerário quaresmal, na quarta-feira de cinzas. É o próprio Senhor Jesus que nos confronta com esta proposta e nos pede, por estas palavras, que coloquemos o evangelho no centro da nossa vida e nos deixemos conduzir pela Sua Palavra. Nela encontraremos o verdadeiro rosto de Deus e o perfil de pessoa humana que somos chamados a realizar. O evangelho ilumina o nosso coração para conhecer a nossa fragilidade e a nossa pobreza e nos convertermos ao amor, ao serviço e à esperança. Esta exortação ao arrependimento pede, portanto, que, neste tempo santo da Quaresma nos exercitemos na leitura meditada da Sagrada Escritura, aprofundemos a nossa atitude de oração e participemos mais frequentemente na Eucaristia, não só aos domingos mas também em dias feriais. As catequeses quaresmais e a participação em celebrações penitenciais comunitárias ajudar-nos-ão no caminho da conversão e da construção da paz à nossa volta. 2. “Levanta-te e anda”. Segundo o evangelho, o pecado é como uma doença: Diminui as nossas capacidades para caminhar espiritualmente, desfigura a imagem de Deus em nós e cria divisão e mal-estar tanto na comunidade como no nosso coração. Jesus veio para nos curar e perdoar os pecados, para nos erguer da nossa paralisia espiritual e nos pôr a caminho. “Os teus pecados são te perdoados…levanta-te e anda” diz a cada um de nós como disse ao paralítico de Cafarnaúm. (Cf Mc 2,9.11). A conversão começa pelo reconhecimento do pecado pessoal. Aqui esbarramos com uma dificuldade: A consciência de pecado pessoal diluiu-se bastante na nossa cultura. Estamos mais inclinados a prestar atenção aos pecados dos outros e à perversão da sociedade. Facilmente notamos à nossa volta e reprovamos a corrupção, a inveja, a maledicência, a mentira, a vaidade e a injustiça. Mas o evangelho ensina-nos que o pecado está enraizado no coração de cada um. Aí estão escondidos estes vícios que condenamos nos outros. Tomar consciência da nossa fragilidade, dos nossos conflitos, das nossas contradições, do nosso cansaço espiritual, ou seja da distância a que nos encontramos do ideal do Baptismo, é o primeiro passo da conversão. A quem se reconhece pecador e se arrepende, Deus, na Sua misericórdia, perdoa e liberta da angústia e da inquietação do pecado. Pelo perdão Deus cura as nossas doenças e cansaços espirituais. Nesse sentido nos oferece o sacramento da Reconciliação, tão recomendado na Quaresma. O Senhor conhece o barro de que somos feitos, aceita-nos como somos, acredita em nós e dá-nos a mão para que nos levantemos e possamos recomeçar o caminho e reconstruir a vida. O perdão fortalece a aliança com Deus e orienta para a esperança de uma vida renovada. 3. Portadores do perdão e da paz. É a terceira direcção que proponho para viver a Quaresma. O perdão e a paz são um presente pascal do Senhor. Na tarde do dia da Ressurreição apresentou-se diante dos discípulos e saudou-os: “A paz esteja convosco”. E repetiu esta saudação para que levassem a paz ao mundo. Depois soprou sobre eles e comunicou-lhes o Espírito Santo e a missão de perdoar. Este sopro faz lembrar o início da criação quando Deus soprou sobre Adão, feito de barro, para lhe comunicar a vida e o tornar um ser vivente. Também o perdão cria uma situação nova e abre para um futuro mais luminoso. Aquele que alcança a alegria do perdão é enviado a oferecer este dom aos que vivem na escuridão do desânimo e no sofrimento da ruptura e dos conflitos. Só o perdão pode restabelecer a comunicação feliz da amizade, refazer os laços da fraternidade e do amor. O perdão permite a vitória do amor e da paz. Nesse sentido pode curar muitas feridas que hoje atormentam as pessoas. O perdão é o caminho para reconciliação com Deus, com a vida, com os outros e consigo mesmo: “Há um nexo íntimo entre o perdão, a remissão dos pecados de cada homem e a reconciliação plena e fundamental da humanidade. O pecado gera divisão. Só a rejeição do pecado é capaz de operar a reconciliação profunda” (João Paulo II, Reconciliação e Penitência, 23). A partilha fraterna, fruto da renúncia quaresmal é um gesto de amor fraterno e de procura de maior igualdade e harmonia entre as pessoas. No ano passado totalizou 38.174,09 € entregues à “Comunidade Vida e Paz” e às crianças da rua de uma favela brasileira. Este ano vamos contemplar duas necessidades: Uma “Obra diocesana de apoio à família” da Guiné Bissau; e a diocese de Lubango (Angola) no esforço de educação de crianças não atingidas pela escola pública. Fecunda Quaresma e santa Páscoa vos deseja o Bispo de Santarém. + Manuel Pelino Domingues

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