«O Sagrado e as gentes»: No Alentejo a fé também se canta com as melodias da terra

Cante é expressão da «humildade de um povo que sente que há algo maior do ele», diz Pedro Mestre

Beja, 30 jul 2020 (Ecclesia) – Pedro Mestre, estudioso e intérprete do Cante alentejano, disse à Agência ECCLESIA que estas melodias são “uma expressão da humildade de um povo que sente que há algo maior do ele”.

“Todos me diziam que perdia tempo por andar atrás do Cante e daqueles que lhe davam voz”, recorda o entrevistado na edição desta quinta-feira de ‘O Sagrado e as Gentes’, que desde cedo quis saber dos mais velhos as técnicas e a forma genuína de interpretar esta forma tão original de cantar.

O interesse dos primeiros tempos é hoje uma dedicação mais organizada em que Pedro Mestre se articula com as escolas e centros de valorização desta forma de cantar.

Este estudioso e intérprete recorda que há 30 anos ainda existiam essas tabernas “onde os homens depois de um copo de vinho e em torno de um pequeno petisco, se lançavam no cante de improviso que era uma expressão muito simples da cultura e identidade destas pessoas”.

Para falar das tradições, para ensinar a tocar a viola campaniça, foi criado o Centro de Valorização da Viola Campaniça e do Cante de Improviso que funciona em São Martinho dos Amores, no Concelho de Odemira.

“Este é um espaço em que nos disponibilizamos, para quem quiser e tiver curiosidade de aprofundar conhecimentos sobre estas tradições, juntando gerações diferentes”, refere Pedro Mestre.

Este Centro de Valorização faz um trabalho junto das crianças do primeiro ciclo e, ao final do dia, abre portas para todos os que queiram aprender a tocar e a cantar.

Pedro Mestre destaca a sensibilidade perante uma natureza que dá o alimento e a possibilidade viver.

O alentejano é muito religioso…  muitos dos cantares referenciam os momentos festivos da fé, o Natal, a janeiras, a oração das almas…”.

Pedro Mestre considera que falar do Cante alentejano é olhar para a identidade da gentes e as tradições de centenas de anos, que moldaram os campos e também a forma de ser das gentes que habitam o sul do país.

HM/OC

 

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Agência ECCLESIA

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