O Regresso dos sketchs

Com especial incidência nos anos 60, os filmes em sketchs, na sua maioria comédias, atingiram um notável sucesso. Não passando da soma de curtas metragens até perfazer o tempo de uma longa, beneficiavam da variedade no tratamento, evitando o cansaço e facilitando o trabalho dos realizadores. Grandes mestres, de Pasolini a Antonioni, chegaram a participar neste processo de realização, mas foi Dino Risi, especialista da comédia, que marcou uma posição mais forte nesta área. Passada a moda surge, desgarrado neste século XXI, “Manual de Amor”, de Giovanni Veronesi. Regressando ao estilo de Risi, não escondendo que tem este como referência, Veronesi valoriza a sua obra de quatro episódios, dando-lhe unidade pela presença das personagens do final de cada trecho no segmento que se segue. A ligação é perfeita, reforçada pela repetição de alguns locais e paralelismo de situações. Analisa-se o amor em diferentes fases de desenvolvimento – A paixão, a crise, a traição e o abandono – tendo um olhar simples e objectivo sobre cada situação, procurando fazer sentir o que a rodeia. E sendo o melhor episódio sob o ponto de vista humorístico “A Traição”, em que uma agente da polícia reflecte o seu estado de espírito no rigor com que aplica multas, especialmente interessante é “O Abandono”, em que um médico subitamente reduzido à solidão tenta compreender como a vida o arrastou para uma situação tão dolorosa. O filme, excepto no quarto episódio, não procura atingir uma grande profundidade, mas faz uma análise séria, mesmo que humorística, sobre várias vertentes da vida no que respeita ao amor, num retrato social interessante e merecedor de atenção. Este é o nono filme de Veronesi, mas o primeiro conhecido em Portugal. Fica a curiosidade de conhecer os trabalhos anteriores e, sobretudo, a realização prevista para 2007, “Manual de Amor – Capítulos Seguintes”. Francisco Perestrello

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