O pó – «Ele há com cada coincidência!»

Diogo Fernandes, Diocese de Viana do Castelo

Confesso, caros leitores, que foi bastante difícil escolher aquilo que vos queria escrever. Tento que este espaço de opinião traga os assuntos da atualidade mas, de facto, a atualidade que vivemos não é de todo a melhor e, por isso, houve assuntos que risquei do meu pensamento: a Guerra no Leste, com tantos “comentadores de bancada” tenho medo que se torne um tema tão desgastado que se torne “normal” e no meio disto tudo só no resta uma coisa: ajudar; a subida nos preços dos combustíveis, isso então, é melhor “parar” por aqui, literalmente.

Há um ano atrás, sem que nada fizesse prever, Portugal foi “inundado” por uma nuvem de pó vinda do Saara e eu pensei… “ele há com cada coincidência!”. Coincidência? Ou seremos só nós a tentar encontrar uma razão para as coisas? Vejam que estamos em plena Quaresma e no primeiro dia somos convidados a viver um período de conversão colocando cinzas na nossa cabeça, que provêm da queima dos ramos abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior, onde o presidente da celebração profere a frase: «Lembra-te que és pó e que ao pó voltarás». Aqueles que participaram na celebração da Quarta-feira de Cinzas, tiveram essa oportunidade, no entanto, a Mãe-Natureza fez das suas… Todos, sem exceção, levaram com este pó do Saara mas será que todos levaram com o verdadeiro pó?

Paisagens alteradas, sem filtros do Instagram ou Facebook; os nossos pulmões também não gostaram muito (salvaram-nos as máscaras, as mesmas que desejávamos que fossem embora); sujidade por toda a parte… O sítio mais visível onde o pó se entranhou foi nos nossos carros. Os carros, mesmo que estivessem resguardados nas suas garagens, tal como muitos de nós que se resguardam por aí, levaram com o pó. A questão que se coloca é: durante quando tempo esse pó ficará nos carros? Há várias alternativas:

1) Uns certamente lavaram logo o carro no primeiro dia da poeira. Se calhar não sabiam que isto ia continuar e continuaram com o carro sujo. Também alguns tentam se afastar da fé e a fé insiste em ficar!

2) Outros, mal ouviram que a poeira tinha ido embora, foram lavar os carros. São as pessoas que decididamente não querem viver ou continuar a fé. Devemos respeitá-las mas nada nos impede de as chamarmos.

3) Outros andaram com o carro sujo até que chuvesse, demonstrando que não se interessam e que aguardam que algo bom aconteça. São os mesmos que esperam “sentados no sofá” que a fé faça alguma coisa para a viverem mas é exatamente ao contrário que funciona.

4) Outros decidiram lavar o carro e entenderam que o carro provavelmente merece mais atenção e que ao lavá-lo, aproveitam e lavam-no por fora e por dentro.

Hoje, já sem o pó do Saara, deixemos que as verdadeiras cinzas se espalhem pois acreditem que fazem toda a diferença. Aproveitemos esta Quaresma para nos reconvertermos. Façamos com que a “oração, a caridade e o jejum” sejam os verdadeiros meios que permitem a Deus intervir na nossa vida e na do mundo. Baixemos as armas de ferro e levantemos as armas do espírito pois é com elas que podemos encontrar a paz.

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Agência ECCLESIA

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