O Natal ainda não acabou

Lisboa volta a celebrar o Natal no próximo Domingo. São os novos ritmos da vida religiosa em Portugal De um momento para o outro, ao ler os jornais ou ao ver os noticiários, parece que estamos de novo nos dias 24 e 25 de Dezembro. E a verdade é que há, em Portugal, quem apenas ontem tenha festejado o Natal, litúrgica e socialmente. De acordo com o calendário juliano (ver peça explicativa), ainda usado na Rússia e em outros países do Leste europeu apenas ontem se volta a ser véspera de Natal. Para muitos cristãos ortodoxos e católicos de rito oriental, só ontem se assinalou o dia do nascimento de Jesus Cristo. A realidade, a que os portugueses já se vão habituando, surge com a vaga de imigração registada no nosso país durante os últimos anos. Além dos ucranianos, a maior comunidade imigrante de Leste, há ainda russos, arménios, georgianos, romenos, búlgaros e várias outras nacionalidades num total próximo das 200 mil pessoas que lutam para manter vivas as suas tradições. Esta nova realidade faz com que aumente também o número de lugares com celebrações litúrgicas de rito bizantino. Os católicos de rito bizantino, muitas vezes designados erradamente como ortodoxos (ver peça explicativa) tiveram várias celebrações natalícias em todo o país, com destaque para a celebração do Natal da Comunidade Católica Ucraniana de rito bizantino, organizada pela Capelania de Lisboa em colaboração com o Departamento para Pastoral da Mobilidade do Patriarcado, e para a Celebração ecuménica do Natal para os imigrantes cristãos (católicos e ortodoxos) da Europa de Leste, organizado pelo Secretariado Diocesano para a Pastoral das Migrações do Porto. Ainda assim, no próximo Domingo, haverá uma missa de Natal às 18h30 na Igreja de São Domingos, Lisboa, para permitir uma maior participação, estando prevista a presença de 300 pessoas. Também neste caso a celebração poderá ganhar um carácter ecuménico, dado que são esperados vários cristãos ortodoxos. No país houve também celebrações das Igrejas Ortodoxas ligadas aos patriarcados de Moscovo, Constantinopla, Grécia e Bulgária. Ontem à noite, no Convento dos Cardaes, Lisboa, dois padres ortodoxos ligados ao patriarcado de Moscovo e um terceiro, português, ligado ao patriarcado grego, juntaram-se para uma celebração conjunta da vigília de Natal, que se deverá prolongar noite dentro. A cerimónia reuniu sobretudo cristãos ortodoxos vindos da Rússia, da Ucrânia e da Moldávia. Os ortodoxos gregos terão ainda uma celebração no próximo Domingo, aproveitando a presença em Portugal do metropolita para a Península Ibérica e tendo em conta que 6 e 7 de Janeiro foram dias normais de trabalho. AS IGREJAS PARTICULARES E OS RITOS O Concílio Vaticano II explica no Decreto Orientalium Ecclesiarum (sobre as Igrejas do Oriente) que tanto no Oriente como no Ocidente há católicos que, “sob o governo pastoral do Romano Pontífice, que sucede por instituição divina a São Pedro no primado sobre a Igreja Universal”, têm diferenças entre si nos seus ritos: “Liturgia, disciplina eclesiástica e património espiritual.” Esta diversidade de ritos, diz o mesmo documento, “não só não prejudica a unidade da Igreja Católica como a explicita”. O rito bizantino, portanto, não significa uma separação de Roma, mas traz consigo uma riqueza espiritual que ajuda compreender e concretizar a universalidade da Igreja. CALENDÁRIO JULIANO É um calendário solar criado em 45 a.C. pelo imperador romano Júlio César para trazer os meses romanos ao seu lugar habitual em relação às estações do ano, confusão gerada pela adopção de um calendário de inspiração lunissolar. César impõe 12 meses com duração predeterminada e a adopção de um ano bissexto a cada 4 anos. No ano da mudança, para fazer a concordância entre o ano civil e o ano solar, ele inclui no calendário mais dois meses de 33 e 34 dias, respectivamente, entre Novembro e Dezembro, além do 13º mês, o mercedonius, de 23 dias. O ano fica com 445 dias distribuídos em 15 meses e é chamado “o ano da confusão.” Esse calendário, que tem um desfasamento de 13 dias em relação ao nosso, começa a ser substituído pelo calendário gregoriano a partir do século XVI – a Rússia e a Grécia só fazem a mudança no século XX.

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