O Espírito Santo no Mistério Trinitário

Mensagem do Bispo de Santarém 1-Espírito Santo, Fonte de água viva. Em várias comunidades cristãs da Diocese de Santarém, perduram algumas antigas tradições populares de devoção ao Espírito Santo, participadas com interesse pelas populações. Entre todas destacam-se as festas dos tabuleiros (que na origem estariam ligadas à partilha do pão com os necessitados). Serão estas práticas uma verdadeira expressão de fé do povo crente, ou apenas uma tradição folclórica que atrai visitantes?! Surgem da devoção ao Espírito Santo ou tornam-se iniciativas culturais promovidas por entidades públicas, muitas vezes estranhas à fé que lhes deu origem?! As práticas populares, consideradas apenas em si mesmas, desligadas da sua fonte, podem tornar-se incompreensíveis ou ser consideradas como recordação cultural de um passado sem significado para vida actual. Muitas vezes, de facto, são tratadas neste prisma, como se fossem objecto de museu. Esta perspectiva não nos permite compreender a riqueza do mistério que está na origem nem a influência que tiveram e poderão ter ainda na vida dos crentes. O Espírito Santo continua vivo e actuante, é fonte de vida, como confessamos no Credo, dá vida e actualidade ao acontecimento cristão. A fé no Espírito Santo integra não apenas práticas exteriores mas convicções, sentimentos e atitudes que geram uma forma de estar na vida e de se relacionar com o mundo e com os outros. O culto ao Espírito Santo é uma experiência interior que gera nos crentes sentimentos de caridade e partilha fraterna, conforto, esperança, espiritualidade. É sobretudo na liturgia, na oração e nas celebrações ao Espírito Santo, que podemos descobrir o que a terceira pessoa da Trindade divina representa para os fiéis da Igreja. Na verdade, na liturgia se exprime a fé e se orienta a vida: “Lex orandi, lex credendi, lex vivendi” (A regra da oração é a regra do que cremos e do que vivemos). Registo, como exemplo, um hino que continuamos a recitar ao Espírito Santo: “Fonte de água viva, ilumina a nossa mente, acende em nós a tua caridade, infunde em nosso peito a fortaleza, livra-nos das ciladas do inimigo, dá-nos a tua paz e evitaremos perigos e incertezas no caminho” (hino litúrgico de vésperas) Neste hino descrevem-se os principais frutos que pedimos e esperamos do Espírito Santo: luz, caridade, apoio nas dificuldades, fortaleza, paz. Não são apenas teoria abstracta. Correspondem à experiência vivida por muitos crentes através de muitas gerações. Por detrás dos ritos, existe a fé que lhes dá sentido e vida. Não a fé subjectiva, à medida de cada um. Mas a fé da Igreja, consistente, fundamentada na Bíblia, na Tradição e na experiência milenar da comunidade cristã. Os ritos e práticas populares só terão significado e futuro se postos em contacto e revistos à luz da fé. Quando tratados apenas como manifestações culturais ou como cartaz turístico, perdem o contacto com a fonte que lhes dá vida e com o alicerce que os sustem ao longo dos tempos. As expressões populares de devoção ao Espírito Santo têm a cor de épocas determinadas, são condicionadas pelas circunstâncias históricas em que surgiram. Organizam-se numa perspectiva popular diferente da religião oficial da Igreja. Frequentemente em tensão mútua. A religião popular dá relevo ao sentimento, à exterioridade. A religião oficial faz apelo à fidelidade aos dados da revelação ou ao depósito da fé. A popular ajuda a humanizar e a aproximar da sensibilidade do povo. Até certo ponto completam-se. A religiosidade popular é mais sensível e apegada às manifestações exteriores, visíveis, emotivas. A religião oficial da Igreja mais interior e austera. Subjacente está o Espírito como fonte de água viva como torrente subterrânea, oculta, que irrompe, ao longo da história, em muitas manifestações sem se esgotar em nenhuma delas. Várias manifestações da devoção ao Espírito Santo estarão ligadas, na sua origem, à influência do conhecido monge e abade cisterciense Joaquim Da Fiore (1130- 1202), místico e poeta calabrês, que concebeu uma interpretação da história orientada para um futuro de paz e de amor, que seria o Reino do Espírito Santo. De facto, as várias expressões têm a marca comum do amor, da partilha de bens, da união fraterna e da esperança no futuro (Como, por exemplo, o “Banco do Santo Espírito” para empréstimo aos pobres e para obras de piedade; a construção de pontes para unir populações; as confrarias do Espírito Santo para promover a vida comunitária entre os confrades e a caridade para com os necessitados; os hospitais do Espírito Santo para cuidado dos doentes pobres, etc. São expressões que mostram como a fé no Espírito Santo conduz à partilha de bens e à criação de laços. Gera, portanto, uma cultura humanista, uma civilização do amor). Esta riqueza humana e espiritual poderá ser uma razão importante da perduração destas tradições. 2- Descoberta progressiva do Espírito Santo e do mistério trinitário. Como chegamos ao conhecimento do Espírito Santo e à confissão de fé na Santíssima Trindade? Não certamente pelas nossas capacidades racionais. Supera e coloca até dificuldades à nossa racionalidade. No entanto, integra o Credo cristão desde as origens como mostra o diálogo que antecede o Baptismo: Crês em Deus Pai?! Crês em Jesus Cristo Filho de Deus?! Crês no Espírito Santo?!. Esta fórmula trinitária é apresentada solenemente por São Mateus no final do seu evangelho como conclusão e síntese teológica de toda a narrativa: “Foi-me dado todo o poder no céu e na terra. Ide pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19). Constitui, de facto, o resumo de todo o evangelho de São Mateus que nos narra a pregação e as curas de Jesus como uma revelação do amor do Pai (Cf Mt 11,27) que será continuada até ao fim dos tempos pela acção do Espírito Santo (Cf Mt 28,20). Professar a fé na Trindade significa corresponder ao amor do Pai, viver por meio da graça do Filho e abrir-se ao dom do Espírito. A salvação alcança-se pela adesão e correspondência a este mistério admirável, adesão selada pelo Baptismo. O mistério trinitário constitui uma grande novidade face à fé judaica que está na origem do cristianismo. O Judaísmo é rigorosamente monoteísta e não compreende a nossa fé trinitária. O Novo Testamento enraíza-se e continua o Antigo Testamento mas na fé trinitária apresenta uma novidade inaudita. Esta convicção aparece, nas origens da Igreja, não tanto como doutrina teológica elaborada mas como experiência vivida sobretudo no Mistério Pascal (em que Jesus Ressuscitado é declarado como “Senhor e Deus”) e no Pentecostes (em que o Espírito Santo se manifesta como força e acção divina). As primeiras comunidades cristãs sentem vivamente a presença do Espírito nos muitos dons que enriquecem os crentes e as comunidades. Os primeiros cristãos são de origem judaica e terão experimentado dificuldades em aderir à fé em Deus trinitário. Digamos que a realidade por eles presenciada e vivida, explicitada pelo ensinamento dos apóstolos, também eles de origem judaica, se impôs à sensibilidade dos crentes na adesão ao Mistério Trinitário. A fé no Pai, no Filho e no Espírito Santo, é referida, de facto, explicitamente, no ensino dos Apóstolos, registada nas Cartas de São Paulo, nos Evangelhos e integra a liturgia desde o início. O documento mais antigo do Novo Testamento (1ª Carta aos Coríntios) exprime-a desta forma: “Há diversidade dons, mas o Espírito é o mesmo; há diversidade de serviços, mas o Senhor é o mesmo; há diversos modos de agir mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos” (1 Cor. 12, 4-6). A segunda Carta aos Coríntios, por sua vez, contém uma saudação que ainda hoje empregamos no início da Eucaristia. “A Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (2 Cor. 13, 13). A reflexão teológica dos primeiros séculos e os primeiros concílios ecuménicos (sobretudo o de Constantinopla em 381) dão, depois, forma mais sistemática à fé trinitária. No Antigo Testamento não havia formulação explícita nem consciência clara da fé nas três pessoas divinas. Mas encontramos já acenos que preparavam esta visão de Deus. O Espírito de Deus está presente na Criação do mundo como promessa de vida, e na criação do homem enquanto sopro divino (Ruah) que dá vida a Adão feito do barro da terra. De forma mais conhecida, manifesta-se nos profetas de Israel como fonte da Palavra de Deus. Alguns eleitos recebiam o Espírito de Deus como força especial para desempenho de uma missão em favor da comunidade: Os juizes, os reis e os profetas. Alguns profetas anunciam a promessa do envio do Espírito sobre todas as criaturas (Ezequiel, Joel). No Pentecostes, Pedro vê o cumprimento da promessa de Joel. A reflexão teológica dos primeiros Padres da Igreja, apoiando-se na Bíblia, serviu-se da linguagem da filosofia grega utilizando os termos natureza, substância e pessoa: Em Deus há três pessoas distintas, iguais numa só natureza ou substância. Esta visão filosófica levou a uma doutrina especulativa, por vezes sem relação com a vida. Mas a perspectiva da Bíblia, resumida no Credo, apresenta-nos o Espírito Santo como um dom de Deus presente e actuante na vida das comunidades e das pessoas. Ainda hoje corremos o risco de considerar a Santíssima Trindade como um mistério abstracto, sem relação com a vida real. Mas o Espírito Santo continua a ser uma experiência vivida com manifestações visíveis, sempre novas e diversas, nos nossos dias. Não foi apenas nos séculos medievais que se notaram os dons do Espírito Santo. Também nos nossos dias. João Paulo II e o então cardeal Ratzinger referiram o florescimento de novos movimentos eclesiais, que apareceram na Igreja, na década de setenta sem serem programados, como uma Primavera do Espírito (Focolares, Renovamento Carismático, Neocatecumenais, para citar alguns presentes no nosso meio). Da mesma forma, foi também interpretado o Concílio Vaticano II que ultrapassou todas as expectativas e cálculos humanos na renovação da Igreja. De facto, estes acontecimentos despertaram novas energias e vida espiritual numa época que parecia de secura de valores religiosos e humanos. Que outros dons do Espírito podemos descobrir nos nossos dias? Manifestações de amor e dedicação, de fé e de esperança que parecem ultrapassar as capacidades humanas e que marcam a vida das comunidades e da sociedade. Também a vida dos santos é considerada uma manifestação do Espírito (Santos nossos contemporâneos como Teresa de Calcutá e João Paulo II; Outros Santos do nosso tempo e de todos os tempos; tanta gente que pauta a sua vida pela dedicação desinteressada e gratuita aos outros). Para discernir os dons ou carismas concedidos pelo Espírito à Igreja actual, devemos ter em conta as manifestações do Espírito no Novo Testamento. É o aspecto que abordo em seguida 3- Revelação do Mistério Trinitário na vida de Jesus. Com o Novo Testamento começa o tempo do Espírito que se manifesta de forma plena na pessoa de Jesus. A origem da sua vida é fruto da intervenção maravilhosa do Espírito Santo que gera a vida no seio de Nossa Senhora e a transforma em Mãe de Jesus. No Baptismo o Espírito Santo desce como uma pomba sobre Jesus e estabelece a comunicação entre Deus e os homens (“Os céus abriram-se…”narra o evangelho). Após o Baptismo, é o Espírito quem toma a orientação da vida de Jesus, como refere o apóstolo Pedro no sermão a Cornélio: “Depois do Baptismo, pregado por João, Deus consagrou com o Espírito Santo e com o poder a Jesus de Nazaré, o qual passou fazendo o bem e curando todos aqueles que estavam sob o poder do maligno, porque Deus estava com Ele” (Act 10,38). A vida pública de Jesus é a consequência desta presença do Espírito Santo. Ele age por força do Espírito e, por isso, faz recuar o reino de Satanás. Logo a começar no deserto o­nde foi conduzido pelo Espírito e, por cuja força, vence as tentações. Jesus entende-se e apresenta-se a si mesmo em relação com o Pai e com o Espírito Santo. A Sua identidade nasce desta relação. Ele é o Filho bem amado que nos revela e nos conduz ao Pai. Define a sua existência a partir da relação com o Pai. Por isso, O designamos como “Filho”, o Filho por excelência e paradigma de toda a filiação. O Pai, por Sua vez, entrega-nos o Filho como caminho de salvação (“De tal modo amou o mundo que entregou o Seu Filho Único”). Mas Jesus identifica-se igualmente a partir da Sua relação com O Espírito Santo. Na apresentação que faz de si mesmo na sua aldeia de Nazaré, perante uma grande curiosidade e expectativa dos presentes, Ele fundamenta-se no texto de Isaías e proclama: “O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres” (Lc 4, 18).Ele é por excelência o Ungido do Espírito, que no original grego se diz “Cristo”. Ao designá-lo como “Jesus O Cristo” ou “Jesus o Ungido” nós reconhecemos que a sua existência é um fruto do Espírito, que a sua identidade brota da unção do Espírito. O Mistério trinitário é o mistério da relação profunda e total entre as três pessoas que formam um só Deus. Mas Jesus está também orientado para a humanidade, é o Filho primogénito de muitos irmãos a quem revela o Pai e a quem comunica o Dom do Espírito. O Mistério trinitário é o mistério da proximidade de Deus. A liturgia apresenta- O como resposta ao pedido de Moisés: “Digne-se o Senhor caminhar no meio de nós.” (Ex 34, 6-9). O Senhor relaciona-se connosco como um Pai, como um Filho e Irmão em Jesus, como luz e força reconfortante no Espírito. Haverá uma só palavra que possa exprimir toda esta riqueza da relação? São João encontra a forma mais simples e mais profunda de definir este mistério: “Deus é amor”. O verdadeiro rosto de Deus é o amor. Ao manifestar-se como amor, Deus quer afirmar-nos que está comprometido profundamente com a nossa vida. Por isso, nos envia o Seu Filho como caminho para a vida e nos comunica o Seu Espírito para que possamos viver em íntima união com Ele, como filhos adoptivos e livres: “Recebestes um Espírito que vos torna Filhos adoptivos e nos permite clamar “Abba” quer dizer Pai” (Rom. 8,15). O cristão vive uma existência trinitária pela fé em Jesus, pela esperança que vem do Espírito, pelo amor do Pai. Esse é o significado do gesto que todos os dias aprendemos a traçar sobre nós: o sinal da cruz ou a bênção, pelo qual consagramos à Trindade divina tudo o que pensamos (tocamos na testa ao referir o Pai), o que pretendemos (tocamos o coração ao pronunciar o Filho) e o que fazemos (tocamos nos ombros o­nde está a nossa força ao mencionar o Espírito). Pela habitação do Espírito Santo nos nossos corações, Deus não é um ser longínquo ou estranho. Deus está em nós: “Se alguém me ama, também meu Pai o amará, viremos a ele e faremos nele a nossa morada” (Jo 14,23). Como reconheceu Santo Agostinho depois de muita procura: “Meu Deus eu buscava- Te fora de mim enquanto Tu estavas dentro de mim”. Pela benção trinitária, acompanhada com o sinal da cruz, o Mistério da Trindade torna-se presente na nossa vida quotidiana. No amor trinitário está perfeição. Segundo a filosofia grega, a perfeição da realidade está em formar um todo em que a unidade se conjugue com a riqueza da diversidade. Nós acreditamos num só Deus em três pessoas tão profundamente unidas pela relação que são uma só natureza. Como escreveu Santo Hilário, Bispo do Sec. IV: “Um só poder do qual tudo procede, um só Filho por quem tudo começa, um só Dom que é penhor da esperança perfeita. Nenhuma deficiência pode encontrar-se nesta perfeição infinita. Tudo é perfeitíssimo na Trindade”). Por isso, a Santíssima Trindade é o modelo da vida da Igreja e dos crentes. Vou referir-me brevemente à renovação da Igreja a partir do ícone da Trindade. 4- A Trindade fonte e modelo da Igreja e referência para a sociedade. De há quarenta anos para cá, a Igreja conheceu uma renovação profunda na sua vida interna e na sua missão no mundo. Afirma-se uma visão nova da Igreja, inspirada na fé das origens mas diferente do período anterior. De facto, a eclesiologia renovada do Concílio Vaticano II apresenta a Igreja como um mistério de comunhão: de comunhão com Deus e de comunhão dos homens entre si. Este conceito é o que afirmamos no Credo com a expressão: “Creio na comunhão dos santos”. No período anterior era entendida sobretudo como sociedade. Esta visão renovada da Igreja alcançou-se com a reflexão eclesiológica fundamentada na Trindade. Não é só a Igreja fundada por Jesus e confiada aos apóstolos. É a Igreja do Pai, realização do Seu desígnio de salvação, preparado e anunciado já no Antigo Testamento. É, também, a Igreja do Filho, nasce da sua entrega por nós na cruz. É, igualmente, a Igreja do Espírito Santo que, desde o Pentecostes a guia e enriquece com os seus dons. É chamada a manifestar na sua vida e missão a comunhão à imagem da Trindade: “É um povo unido na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo”(Cf LG 2-4). A origem trinitária da Igreja leva-nos ao coração do seu mistério. Não é apenas uma associação de crentes ou uma sociedade religiosa organizada pelos nossos critérios. Não depende dos nossos programas e capacidades. Vive da força do Espírito que é a alma da Igreja, alimenta-se da graça de Jesus Cristo Ressuscitado que é o Seu Senhor, apoia-se na Providência de Deus. Os que a avaliam apenas por critérios humanos não captam este mistério que a identifica. E não acertam nos seus prognósticos sobre o futuro e as capacidades da Igreja. A Igreja vive da força do alto. Renova-se quando parece cansada e ultrapassada. Enfrenta as crises e, como a pequena barca do Evangelho, continua o seu percurso contra ventos e marés. Só nesta fé se entende o cumprimento da promessa de Cristo de que as portas do inferno não prevalecerão sobre ela (Cf Mt 16,18). A Igreja de Jesus inicia oficialmente a sua missão evangelizadora no dia do Pentecostes com a força do Espírito que se manifesta como vento impetuoso e como línguas de fogo. O Espírito mostra-se como fonte de unidade e entendimento: No Pentecostes, congregam-se povos provenientes de todos os cantos do mundo na unidade da mesma língua ou cultura, fruto da mesma fé. A comunhão no Espírito não nivela nem anula a riqueza das diferenças, mas respeita- as e integra-as na comunidade. Há uma igual dignidade de todos e uma participação comum anterior a todas as diferenças de responsabilidade. O Espírito Santo fonte de comunhão com o Pai e o Filho é também fonte união entre os crentes Depois da descida do Espírito Santo, na comunidade cristã de Jerusalém, reinava a união de almas e corações e a partilha fraterna de bens, a amizade profunda traduzida na partilha fraterna (CF Act 2, 42-47; 4,32-35). A vinda do Espírito gera comunidade e impulsiona para a evangelização. A unidade da Igreja apresenta-se orientada para fora para a missão, como no mistério trinitário. A Igreja, mistério de comunhão no seu interior, é chamada a ser também no mundo, um sinal e um instrumento de unidade entre todos os homens (Cf LG 1).A comunhão é missionária. Como o Pai envia o Filho e o Espírito Santo, também a Igreja é enviada a construir a família universal das nações. A Santíssima Trindade é um mistério invisível. Será permitido representá-lo? O cristianismo, de modo especial o catolicismo, sempre venerou as imagens enquanto sinais visíveis do mistério invisível. Com fundamento sólido na Encarnação de Jesus pela qual assumiu a nossa natureza humana e se tornou presente e visível na carne. A representação de Jesus, da Virgem e dos Apóstolos sempre se praticou na Igreja. A representação da Trindade, apesar de algumas reticências, fez também tradição recorrendo à simbólica e à perspectiva antropomórfica. A imagem mais divulgada entre nós realça a figura respeitável do Pai, de idade venerável, que apresenta o Filho na Cruz, como quem o entrega pela nossa salvação (“De tal forma Deus amou o mundo que lhe deu o Seu Filho Unigénito”(Jo 3,16). O Espírito Santo, figurado pela pomba, é enviado ao nosso encontro como um sopro ou força divina para nos comunicar o amor de Deus e nos renovar interiormente. É a Trindade no Seu mistério de comunhão num só Deus e de missão do Filho e do Espírito. 5- Portadores do Espírito Santo. Verifica-se hoje maior abertura e sensibilidade ao Espírito Santo por parte dos crentes. Sentem necessidade e procuram a sua luz e a sua força. O mundo não o conhece. Aos olhos da carne, ou seja numa visão puramente natural e imanente, fechada nas capacidades e perspectivas humanas não é compreensível a acção e a esperança no Espírito Santo. O agnosticismo é um sinal da ausência do Espírito. “A alma humana se não recebe pela fé o Dom que é o Espírito, tem certamente uma natureza capaz de conhecer a Deus, mas falta-lhe a luz para chegar a esse conhecimento…Esse Dom do Espírito está à disposição de todos e encontra-se em toda a parte; mas é dado na medida do desejo e dos méritos de cada um. Ele está connosco até ao fim do mundo; Ele é o consolador no tempo da nossa expectativa; Ele pela actividade dos seus dons, é o penhor da nossa esperança futura; Ele é a luz do nosso espírito. Ele é o resplendor das nossas almas” (Santo Hilário). Na prática cristã, como recebemos o dom do Espírito Santo? De forma sacramental, quando a Igreja celebra os sacramentos que tornam visível eficaz a comunicação dos dons da salvação. Merecem especial destaque os sacramentos da confirmação e da Eucaristia. No Sacramento da Confirmação recebemos uma maior abundância dos dons dos Espírito Santo. A fórmula do Sacramento mostra o que o sacramento realiza:” Recebe por este sinal, o Espírito Santo, o dom de Deus”. Na Eucaristia, Ele que transforma o Pão e o vinho em Corpo e Sangue de Jesus, dá também nova vida ao nosso espírito, renova o nosso interior, dá-nos sua luz e a sua paz. A Eucaristia torna presente no meio de nós o Senhor Ressuscitado que, como na tarde de Páscoa, quando se apresentou vivo aos apóstolos, também a nós nos comunica o dom da Paz e o dom do Espírito. O Espírito orienta à missão e ao testemunho “Recebereis uma força e sereis minhas testemunhas” (Act. 1,8). Recebemos o Espírito para ser portadores do espírito para os outros. Como Maria de Nazaré foi visitar sua prima Isabel e lhe comunicou a alegria e o louvor do Espírito bem como o dom da profecia. Segundo Santo Atanásio: “O Verbo assumiu carne para que o homem pudesse tornar-se portador do Espírito”. Somos portadores do Espírito quando cultivamos a esperança e a alegria interior, quando crescemos na caridade e na espiritualidade e testemunhamos estas atitudes na vida quotidiana. Quando vivemos uma existência agradecida e irradiamos a benevolência e o louvor. D. Manuel Pelino, Bispo de Santarém

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