O coração da Igreja

Não pode passar sem reflexão, o encerramento do Sínodo dos Bispos no termo do Ano da Eucaristia. Seja, antes de mais, para afirmar o valor único e inigualável da celebração da Ceia de Jesus como acção permanente da Páscoa. Nada abstracto ou incompreensível este mistério. Trata-se da humanidade remida, do homem reconciliado com Deus. E nunca mais foi esquecida a petição à beira da morte: “Fazei isto em memória de Mim”. Nas mais cruéis perseguições dos primeiros tempos, nas celebrações esplendorosas das grandes basílicas, no meio da floresta em capelas improvisadas, atrás das grades da interdição, como nas grandes praças em momentos empolgantes. No Norte ou no Sul, no Oriente e no Ocidente, nunca mais foi esquecida a evocação da Última Ceia, cerne de todas as comunidades eclesiais. Como se não entende nem se reconhece qualquer Igreja que não celebre a Eucaristia. Como diria D. António Marto, um dos representantes, no Sínodo, da Igreja em Portugal, com D. Albino Cleto: “Na Eucaristia da Última Ceia o mistério foi antecipado; na cruz foi consumado; na ressurreição foi eternizado; na nossa celebração é actualizado, tornado presente pela presença do Ressuscitado”. Neste aspecto – dir-se-á – muito pouco acrescenta um ano Eucarístico ou um Sínodo sobre o tema. A Ultima Ceia disse a última palavra. E nestes dois mil anos nunca deixou de ser celebrado o mistério da Fé. Ainda antes das palavras e proposições, a simples presença de 250 bispos de todo o mundo, reunidos em Sínodo, proclamou esse acontecimento Pascal. E transmitiu, à Igreja e ao mundo, a transcendência da celebração em qualquer língua ou recanto da terra, deste acontecimento irrepetível, apesar de indefinidamente celebrado. O Concílio Vaticano II, na sua reforma litúrgica, reacentuou os elementos primordiais da Eucaristia. E os bispos, nos três tempos que compuseram este Sínodo (exposições, debates por grupos e “proposições” finais), com o apoio teológico e pastoral do Papa, reavivaram a memória do essencial do coração das comunidades cristãs. Não se trata duma luta entre conservadores e progressistas apesar de, na primeira parte, com toda a liberdade, terem surgido alguns lamentos, porventura excessivos, sobre “desvios” na celebração. Certamente esquecidos do alheamento popular e participativo que imperava antes do Concílio. Importa, por isso, olhar este acontecimento para além da explanação de rubricas ou disciplinas. A densidade do mistério Eucarístico e o seu lugar central e decisivo na vida da Igreja são os pontos fulcrais deste Sínodo Mundial dos Bispos. É o coração da Igreja. António Rego

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