O ambiente paga

Miguel Oliveira Panão (Professor Universitário), Blog & Autor

Quanto vale uma imagem? Muito, sem dúvida! Mais do que mil palavras. Pois, desde sempre que somos seres visuais. Antes de escrevermos, desenhamos, e quando pensamos na criatividade humana, seguramente que a primeira coisa que nos vem à mente será uma imagem. Mas ninguém previa o que iria acontecer com o alvor da tecnologia digital.

O que se vê mais pela rua é uma pessoa pegar no seu telemóvel para ver as horas, ver emails, consultar as últimas novidades dos amigos nas redes sociais, tirar uma foto e partilhar. Mas, o que mais usamos pela grande utilidade que tem é o motor de busca.

Para cada pessoa, estes gestos são os mais simples e comuns, mas estarão conscientes do preço ambiental que estão a pagar? A artista Joana Moll promove uma maior consciência ambiental do uso da internet através de formas visuais simples. Por exemplo, em “DEFOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOREST;” mostra, visualmente, quantas árvores seriam necessárias a cada segundo para contra-balançar o número de pesquisas feitas no motor de pesquisa da Google.

Ou ainda em CO2GLE; mostra quantos kg de CO2 equivalente são emitidos para a atmosfera pelo número de pesquisas feitas por segundo desde que abrimos a respectiva página. É impressionante.

O Papa falou; a 14 de Junho com diversos responsáveis de empresas petrolíferas convocados pelo Departamento para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé). Na sua comunicação recorda o que disse em 2018,

” a civilização precisa de energia, mas o uso da energia não pode destruir a civilização!”

Apesar do acordo importante assinado pelos representantes das diversas empresas petrolíferas, eu pergunto (novamente): o que podemos nós fazer?

Em 2018, redes sociais como o Facebook; emitiram 339 000 toneladas métricas de CO2 equivalente. De acordo com a Agência de Protecção Ambiental Americana (EPA), isso equivale; ao uso da energia em quase 40 600 casas durante um ano.

Tiramos fotos à descrição, partilhamos e re-partilhamos pelas diferentes redes sociais que frequentamos. Tudo isso é suportado pelos imensos data centers de grandes empresas como a Amazon, Facebook, Google e Apple que consomem uma quantidade de energia que não podemos imaginar, correspondendo a uma pegada ecológica, há quase 10 anos, de um sétimo da pegada do Reino Unido (Mike Berners-Lee, “How Bad Are Bananas?: The Carbon Footprint of Everything”, Greystone Books, 2011). Como estará hoje?

Network and internet telecommunication equipment in server room, data center interior

A facilidade com que temos acesso à informação, pela pouca energia que exige, leva-me a questionar quantos de nós estamos cientes do preço ambiental pago pela mais pequena e banal pesquisa ou imagem guardada. O apelo do Papa não se dirige apenas aos grandes que são poucos, mas também aos pequenos (como tu e eu) que somos muitos.

Ser ponderado no uso da internet implica pensar antecipadamente naquilo que tem real valor para nós. E se, antes de fazermos uma simples pesquisa na internet, pensarmos na necessidade que temos dela, estaremos a contribuir para uma maior consciência ambiental e a valorizar mais o tempo que passamos online. O mesmo se estende à comunicação entre nós.

Uma mensagem escrita consome muito, mas muito menos energia do que um emoji, mas qual delas exprime o que realmente queremos dizer ao outro? Uma mensagem que dá mais trabalho porque deve ser escrita para ser bem interpretada pelo outro, ou um banal emoji que deixa ao outro o trabalho de interpretação? Se a banalização da comunicação leva a perder o valor daquilo que comunicamos, agora sabemos que o preço aumentou, e quem paga é o ambiente. Pensar antes de interagir online é pedir muito?

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