Número de religiosas em Portugal desceu 23,5 por cento desde 1992

O número de religiosas dos institutos portugueses tem vindo a decrescer na última década e meia, em resultado da forte inserção da mulher no mercado laboral e da possibilidade de viver a religião sem abdicar de constituir família. As estatísticas facultadas pela Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP) são claras: em 1992 o total de religiosas era de 7.995, tendo decrescido para 7.566 em 1996, depois para 6.797 (2002), em seguida para 6.539 (2004) e cifrando-se em 6.105 em 2006, o que equivale a uma quebra de 23,5 por cento em 16 anos. Estes dados referem-se apenas às congregações de vida activa, ou seja, «àquelas em que as irmãs estão em contacto com o mundo exterior, trabalhando em colégios, hospitais ou paróquias», esclareceu Cidália Costa, do secretariado geral da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal, à Agência Lusa. «É o caso das Irmãs Doroteias, das Missionárias Combonianas, das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, das Servas de Nossa Senhora de Fátima, das Irmãs da Apresentação de Maria ou da Companhia de Santa Teresa de Jesus», exemplificou. Excluídas destas estatísticas – por não haver informação recolhida – estão as congregações em regime de isolamento ou clausura, «aquelas em que as irmãs vivem em mosteiros tendo por actividade principal a oração e sem qualquer contacto com o exterior, como acontecia com a Irmã Lúcia», acrescentou a responsável, indicando alguns institutos femininos nesta situação: as Clarissas, as Monjas Carmelitas Descalças, a Ordem da Visitação, as Monjas Beneditinas, as Irmãs Concepcionistas ou as Monjas Dominicanas. O declínio do número total de religiosas é acompanhado da redução do número de formandas que se verifica desde 1996 e apenas foi ligeiramente contrariado em 2006. Entre postulantes (que estão na primeira fase de formação, com a duração de um a dois anos), noviças (que frequentam os dois anos seguintes) e juniores (que estão na terceira fase, que dura de seis a nove anos e tem lugar após serem feitos os votos temporários), o total de formandas era de 660 em 1996 e situava-se nos 235 uma década depois, reflectindo uma queda de 64,4 por cento. Decréscimo também nos institutos masculinos Nos institutos masculinos de vida activa, entre 1992 e 2006 o total de religiosos desceu cerca de 23 por cento (de 2.182 para 1.682) e o número de formandos baixou 65 por cento (de 560 para 195). Os valores mínimos foram registados em 2005, com apenas 227 formandas e 186 formandos, mas a ligeiríssima subida que ocorreu entre esse ano e o seguinte não anima a Irmã Matilde de Jesus Faneca, superior provincial da Congregação das Irmãs de São José de Cluny e vice-presidente da Conferência dos Institutos Religiosos. «A verdade é que as vocações estão a declinar e a pequena subida de 2006 não é suficiente para contrariar essa tendência, até porque, muito provavelmente, deveu-se à entrada de formandos estrangeiros nas congregações portuguesas», reconheceu. A responsável da CIRP convocou o exemplo do Internoviciados de Braga, um centro de estudos com programas para os noviços e noviças dos vários institutos religiosos que «vai fechar em 2009 por falta de formandos». «Este ano, metade dos formandos que lá estão nem são portugueses. Vêm dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, de Timor-Leste e de outros países», assinalou. Helena Vilaça, investigadora na área da Sociologia das Religiões com incidência no Pluralismo Religioso, reiterou a possibilidade de o pequeno aumento de formandos em 2006 se dever aos Países Africanos da Língua Oficial Portuguesa e «à Europa de Leste, cujas comunidades têm uma grande proximidade com a Igreja Católica e estabelecem uma colaboração que pode levar à integração de alguns elementos nos institutos religiosos portugueses». Membro do Departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, participa no estudo “A Igreja Católica face aos novos desafios éticos, sociais e políticos nos países da Europa Ocidental de tradição católica”, que compara Portugal, Espanha, Bélgica, França e Itália. «Os números referentes aos anos entre 1989 e 2004, inclusive, mostram que, efectivamente, o número de religiosas em Portugal tem vindo a descer, embora essa diminuição seja mais lenta e menos acentuada aqui do que nos outros países estudados», contou à Lusa. Avançando razões que podem explicar a tendência, Helena Vilaça recordou que, no passado, «as mulheres iam para um convento como alternativa à pobreza ou a um casamento forçado, ou seja, não era necessariamente uma questão de vocação mas de condicionantes sociais». «Agora, o cenário é completamente diferente por vários motivos, como o facto de, a partir de 25 de Abril de 1974, as mulheres terem entrado em força no mercado de trabalho e terem passado a intervir mais activamente em diversas esferas sociais, sendo a religião apenas uma delas», afirmou. Além disso, «hoje existem formas de a mulher poder viver a religiosidade sem ter de abdicar de constituir família, podendo participar nas missas como leitora, cantar no coro da igreja ou dar catequese», acrescentou.

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