Novas linguagens para os jovens

Na sequência do Conselho Nacional da Pastoral Juvenil, D. António Carrilho fala à Agência Ecclesia sobre os desafios que se colocam nesta área e dos compromissos da Comissão Episcopal do Laicado Família Agência ECCLESIA – Sabemos da importância da escola na vida dos adolescentes e dos jovens, tanto pelos objectivos educativos da escola como pelo tempo em que nela se ocupam. Poderá, de facto, considerar-se a escola como um espaço a ter em conta na pastoral juvenil? D. António Carrilho – Sendo a escola um espaço educativo e cultural, que congrega todos os jovens dos respectivos níveis etários, a Igreja não poderá desconhecer nem prescindir desse espaço para apresentar aos jovens as suas propostas de valores e alguns conhecimentos que lhes permitam ler e interpretar a tradição cultural portuguesa, marcada pelas suas raízes cristãs, bem patentes na história da nossa literatura, festas e património artístico. Esta acção da Igreja nas escolas far-se-á, como é óbvio, dentro do quadro das finalidades e da pedagogia escolar, facultando, sem proselitismos, elementos para o diálogo fé-cultura e para a iluminação cristã daquilo que os alunos vivem e aprendem na escola. É claro que as Escolas Católicas, cuja escolha e frequência terá em conta o seu projecto educativo próprio, oferecem, em princípio, maiores possibilidades pastorais, mas também as escolas públicas prevêem a presença da Igreja através das aulas de Educação Moral e Religiosa Católica e de actividades para além das aulas, designadamente através de visitas de estudo para contacto com o meio, no seu património e tradições. Para os jovens católicos e todos quantos desejarem, é importante que a escola faculte, não apenas o conhecimento dos valores universalmente aceites nas grandes Declarações Universais (Direitos do Homem, Direitos da Criança, etc.), mas também os valores cristãos evangélicos, como referências para a vida. AE – Estes aspectos são importantes na educação dos jovens, mas há outras dimensões da pastoral juvenil que não se concretizam no âmbito escolar… AC – Sem dúvida. A experiência de fé em grupos de catequese e oração, as celebrações litúrgicas e algumas actividades apostólicas têm o seu espaço mais apropriado nas comunidades paroquiais e nos movimentos eclesiais que surgiram, com carismas próprios, para diversificar as possibilidades de resposta às necessidades e aspirações dos jovens. É importante reconhecer que a acção da Igreja nas escolas, nas paróquias e nos movimentos, deve ser complementar, prestando aos jovens o apoio de que precisam e proporcionando-lhes uma integração eclesial activa. Há que articular a acção da escola e da paróquia, para que muitos jovens possam ter na comunidade cristã o que a escola não pode proporcionar-lhes. Daqui a necessidade e a importância do relacionamento dos professores de EMRC e dos professores católicos, em geral, com os respectivos Párocos. AE- Pelo Conselho Nacional da Pastoral Juvenil passam, certamente, as principais questões relativas aos jovens e à acção da Igreja para eles e com eles. Quais são, neste momento, as prioridades? AC – Há questões que tocam o fundamental da vida dos jovens, nesse período etário de crescimento para a maturidade (humana e cristã) – questões que são de sempre, mas que se revestem de particular importância no contexto cultural actual e exigem, por isso, uma cuidada atenção da Igreja. Refiro-me à questão do sentido da vida, em geral, e do projecto de vida de cada um, em especial. É necessário conhecer a realidade juvenil e, quanto possível, os jovens mais em concreto, nas suas interrogações e aspirações íntimas, e colocá-los à descoberta do “tesouro”, da “pedra preciosa” pela qual vale a pena tudo sacrificar. Com mais ou menos formação cristã anterior, os jovens precisam de ser ajudados a descobrir um ideal de vida e a comprometer-se nele. Justifica-se, assim, a proposta de caminhada à descoberta de Jesus Cristo, que a Pastoral Juvenil lhes procura proporcionar, quanto possível em grupo com outros jovens. “Abri as portas a Cristo” – dizia-lhes o Papa João Paulo II muitas vezes. É que a identidade cristã está no encontro com Cristo e no seguimento de Cristo, tomando-O como “Caminho, Verdade e Vida”, tal como Ele se apresentou. Esta é a grande proposta que a Igreja pode fazer aos jovens, tocando o essencial. Tudo o mais – tempos de reflexão e oração, convivências, actividades na comunidade cristã e fora dela – tudo isso é caminho para o encontro com o Mestre ou consequência dele. E podem ser muitos os caminhos… Daí a existência de tantos Grupos, Movimentos e Instituições de Apoio aos jovens na sua caminhada e expressões de vida cristã; mas o essencial está no sentido, no ideal, na identidade própria! AE- Significa isto que as actividades da pastoral juvenil, assim “situadas” nas dioceses, paróquias, movimentos e grupos vários, prescindem de grandes acções de conjunto ou contam também com elas? AC – Para os jovens é muito importante o contacto, a relação e o testemunho de outros jovens, para além do contexto localizado das suas actividades habituais, tanto nos âmbitos diocesano, inter-diocesano e nacional, como no âmbito internacional. Esse contacto é útil como experiência de fé e comunhão eclesial, vivida com a imensa riqueza da diversidade de situações e respostas da Igreja, em expressões mais alargadas. É o caso, por exemplo, da participação nas Jornadas Mundiais da Juventude e em actividades nacionais programadas pelos Serviços Diocesanos com o Departamento Nacional de Pastoral Juvenil (peregrinação nacional “Fátima Jovem”, Festival Nacional da Canção Mensagem, etc.). Na reflexão dos problemas, partilha de actividades, entreajuda e até planificação conjunta ocupa um lugar importante o Conselho Nacional de Pastoral Juvenil, instituído no seguimento da publicação das “Bases para a Pastoral Juvenil” pela Conferência Episcopal, em Novembro de 2002. Integrando representantes dos serviços diocesanos, movimentos, institutos e associações juvenis, o Conselho torna-se um “espaço de comunhão” e de estímulo ao contributo de todos, segundo as responsabilidades e carismas próprios, na pastoral dos jovens que importa implementar. O Conselho está a trabalhar, mas poderá enriquecer-se com a adesão e participação efectiva de novos membros. AE – Sob a tutela da Comissão Episcopal do Laicado e Família vai realizar-se, em Braga, no próximo mês de Março, uma “Semana Social” nacional sobre as questões tão actuais do emprego e desemprego. Que poderá esperar-se desta iniciativa da Igreja? AC – Em primeiro lugar, penso que é uma oportunidade a não perder por aqueles que têm responsabilidades sociais no nosso país, pois a actual situação crescente de desemprego entre nós bem justifica o debate do tema que a “Semana Social” se propõe: “Uma sociedade criadora de emprego”. Gostaria, por outro lado, que a “Semana Social” tivesse impacto e consequências práticas na vida nacional, que se abrissem perspectivas e encontrassem propostas, no quadro da doutrina social da Igreja, para se criar uma dinâmica de sociedade criadora de emprego. Aponta bem nesse sentido a qualidade e a competência do vasto elenco de oradores e moderadores dos debates, pessoas públicas de diversos quadrantes e experiências. Entre eles se contam Jacques Delors e o Cardeal Renato Martino, Presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, conforme consta do programa já divulgado. A expectativa é grande e são muitas as razões de esperança, para que o debate possa conduzir à descoberta de novos caminhos e propostas no domínio empresarial e do trabalho.

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