Novas igrejas devem ser centros polarizadores

Os arquitectos bracarenses Isabel Costa e Filipe Fontes, na reflexão sobre “A arte do espaço”, no quadro dos Serões de Arte e Cultura em Viana do Castelo, defenderam que as novas igrejas sejam polarizadoras e congregadoras de um território e que, ao mesmo tempo, concentrem os fiéis no essencial que é a celebração da fé. Abordando a questão da construção de novos edifícios de culto, Filipe Fontes lamentou que também nesta área sejam os «critérios economicistas a dominar», porque um tal projecto deveria ter em conta «uma vontade da comunidade» e obedecer a um «planeamento pastoral» que ultrapasse as fronteiras da comunidade paroquial até na perspectiva do edifício poder vir a ser partilhado com outros. Quer se queira quer não, o edifício-igreja marca a paisagem, por isso «tem a obrigação de harmoniosamente promover a qualidade integrando-se». Filipe Fontes recordou que antigamente eram os aglomerados urbanos que se reuniam em torno daquela construção, hoje «observa-se a colocação do edifício-igreja como consequência das realidades urbanas» com as dificuldades inerentes até para encontrar espaço livre. O conferencista chamou ainda a atenção para a necessidade de uma visão mais alargada do projecto porque a «construção exige uma reflexão sobre as infra- -estruturas circundantes», dado que a sua utilização vai gerar novas centralidades e novos fluxos, sejam pessoas ou automóveis. Na opinião deste arquitecto, o projectista de um edifício desta natureza deve «congregar saberes de várias áreas» e ter um conhecimento aprofundado sobre as «vivências da comunidade » em ordem a encontrar «equilíbrio entre as exigências de uns e as necessidades de outros». Ou seja, cabe ao projectista criar espaços marcantes acolhedores e belos que envolvam a comunidade. Um edifício-igreja, de forte uso comunitário para a celebração da fé, deve permitir o recolhimento sem se fechar ao mundo, singelo sem ser austero, com diversos ambientes que podem ser recriados com a luz de diversas intensidades e direcções e materiais diversos. Espaços que focalizem o essencial Isabel Costa abordou a questão do espaço interior, nas suas diferentes funções celebrativas e elementos simbólicos que relacionam o crente com Deus e com os irmãos. Falando dos três pólos convergentes da atenção (cadeira presidencial, altar e ambão), sublinhou a necessidade de serem «claramente vistos pelos fiéis de qualquer ponto». O altar, defendeu, deve mesmo ser uma mesa, a da refeição, «onde Cristo se torna alimento», sem elementos que perturbem, preferindo as flores e as velas colocadas ao lado. Esta arquitecta insistiu bastante na necessidade de existir um espaço «pré-litúrgico» que faz a transição entre «o fora e o interior litúrgico», onde pode ser feito o acolhimento, a distribuição de livros de cânticos ou onde estão afixados os avisos, «que não devem ser feitos ao microfone », ou ainda onde se prepara o ofertório solene. Relativamente à organização do espaço interior, manifestou uma certa inclinação pela planta central, embora tivesse advertido que não deve ser tomada «em absoluto». Como o sacrário não deve estar no centro da nave central, porque «durante a celebração a reserva eucarística não é o mais importante », defendeu que deve ser encontrada uma solução que permita identificar facilmente a sua localização, nem que seja através da lamparina, mas pode ser uma capela independente que serve para as celebrações quotidianas. Reflectir sobre a procissão de entrada serviu para Isabel Costa defender a localização da sacristia num espaço distante que “obrigue” a fazer um trajecto processional, no início e final de cada celebração, dado o seu valor simbólico. No quadro de um «frenesim para empurrar à força o baptistério» para o lado do altar, Isabel Costa entende que faz sentido colocar a fonte (ou pia, como ainda se diz) baptismal na área celebrativa central, embora entenda que deve haver uma certa caminhada iniciática. Esta arquitecta, já com créditos nesta área, defende que é chegado o tempo de fazer entrar outros artistas no espaço litúrgico e não apenas os que estão ligados à escultura das imagens, concordando com a actual tendência de minimizar a presença destas. Isabel Costa, na sua conclusão, salientou que os templos «estão como nós: cheios de supérfluo e carentes do essencial». Paulo Gomes/DM

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