Advogada estagiária, de 23 anos, valoriza o «cuidado» e o «lugar» que quer ser para os outros neste ano de 2021
Lisboa, 08 jan 2021 (Ecclesia) – Sofia Távora, advogada estagiária de 23 anos, quer neste ano de 2021 percorrer o “sonho de carreira” mas também cuidar do lugar que é para os outros, continuando a acolher as pessoas que se cruzam consigo.
“Conseguir no dia-a-dia extrair o que é de belo e bom e sentir-me responsável por, à minha escala e nas minhas circunstâncias, nas pessoas com quem me cruzo, entender de que forma me ensinam e me alimentam. Quero acolher as pessoas”, explica à Agência ECCLESIA.
Sofia Távora encontra companhia na poesia e socorre-se do poeta Daniel Faria, «Não acredito que um tenha o seu lugar / Acredito que cada um é lugar para os outros», para dizer: “Queria procurar abraçar o lugar que sou nos outros e ser lugar para outros”.
“As mudanças no mundo começam por um desejo, sonho e vontade, mas se for árida e individual, corre o risco de não ter continuidade. Acredito que precisamos de mãos dadas nesse sonho e mudança”, sublinha.
Sobre o percurso profissional que inicia, fruto de um sonho que Sofia Távora quer honrar, é uma forma de “dar voz a quem não tem voz”.
“Um advogado tem uma função muito bela, a meu ver – se desburocratizarmos o que vemos no Direito – o que está em causa é um sentido de justiça. O advogado é quem é chamado a falar por outro. Dar voz é, para mim, algo muito importante e belo. É no dar voz que se concretiza a vida, a vida que é construída com narrativas”, reconhece.
O sonho de independência foi concretizado nos últimos meses de 2020, facto que a jovem de 23 anos liga a uma responsabilidade inerente.
“Comecei um via de autonomização com uma saída de casa, a habituar-me a uma nova forma de relação, esperada e procurada, comigo, com os outros e com a sociedade, nem que seja pelas questões práticas que ganham um peso. Sair de casa não indica uma separação, às vezes acarreta até mais responsabilidade. A resiliência aqui é perceber o que me compete fazer”, traduz.
Voluntária no Hospital Dona Estefânia, pediátrico, em Lisboa, que acolhe crianças e pais “muito aflitos”, alguns que ali chegam sozinhos dos PALOP aos abrigo de acordos de saúde, Sofia Távora viu esses encontros serem suspensos pela pandemia.
É um voluntariado de proximidade que, reconhece, lhe faz falta.
“É uma comunidade e um encontro, uma atenção e um cuidado despojado. Sabemos que as crianças não se vão lembrar de nós, mas é algo que é dado, muito belo, que fica ali”, recorda.
Elegendo os livros como companhia, Sofia Távora obriga-se a não se fechar nas páginas mas a ir procurar “conforto” a Daniel Faria e desinstalação a Charles Juliet, cuja poesia “sofrida e acutilante” lhe dão um “raio de esperança”.
Assiduamente reza o «Credo», atribuído a Yossel Rakover: «Creio no sol, mesmo quando não o vejo / Creio no amor, mesmo quando não o abraço / Creio em Deus, mesmo quando Deus se cala», porque se trata de “um ato de fé e de confiança”.
“Para mim não ter vontade de ler às vezes é mau sinal, que o tempo está perdido com coisas que têm imensa importância mas não podem ocupar o espaço todos. O tempo de leitura é uma baliza de sanidade e saúde”, finaliza.
LS