No coração da humanidade

O funeral de João Paulo II foi acompanhado por milhões de pessoas de todo o mundo, reunidas nas catedrais, em espaços públicos onde foram instalados ecrãs gigantes ou simplesmente através da televisão. Na China, onde a Igreja Católica é fortemente controlada pelo regime comunista, os católicos rezaram pelo Papa tanto nas igrejas clandestinas como nas oficiais, depois do anúncio, sem explicações, de que a missa fúnebre não seria transmitida pela televisão. Nenhuma notícia sobre o Papa foi publicada nos jornais chineses — apenas um despacho da agência Nova China deu conta do início do funeral — e as questões relativas à ausência de uma delegação chinesa nas cerimónias no Vaticano foram retiradas da transcrição de uma conferência de imprensa colocada na página internet do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Nenhuma das igrejas oficiais de Pequim celebrou missa às 16h00 locais (9h00 em Roma) para assinalar o início do funeral; mas em Xikai, uma cidade de sete milhões de habitantes a uma centena de quilómetros de Pequim, cerca de 300 fiéis participaram numa missa por João Paulo II. Na Europa, a Polónia, terra natal de João Paulo II, foi o ponto central das orações, tendo sido disparados 26 tiros de canhão, tantos quantos os anos de pontificado, no início do cortejo fúnebre. Logo às 8h00 TMG, os sinos de todas as igrejas e as sirenes tocaram, assinalando o início das cerimónias fúnebres. Estiveram fechados todos os estabelecimentos públicos, empresas, escolas e estabelecimentos. Além disso, cerca de 800.000 pessoas juntaram-se para rezar e seguir as cerimónias do funeral em ecrãs gigantes, na praça de Cracóvia onde, em Agosto de 2002, João Paulo II celebrou uma das mais participadas missas das suas visitas à Polónia. Em Paris, cerca de 7.000 pessoas encheram a Catedral de Notre Dame, obrigando várias centenas a ficarem à porta, à chuva, seguindo as exéquias num ecrã instalado para o efeito. Também na capital francesa, mas no Sacré Coeur, em Montmartre, cerca de 500 pessoas seguiram as cerimónias da Praça de São Pedro. Em Londres, 200 a 300 pessoas assistiram, à chuva, à retransmissão das exéquias em Trafalgar Square, enquanto uma centena de fiéis participava numa missa por João Paulo II na catedral católica de Westminster. Na católica Espanha não havia ecrãs gigantes instalados nas ruas, mas duas das três cadeias de televisão transmitiram em directo as exéquias, em que participaram os reis espanhóis, Juan Carlos e Sofia, assim como o chefe do Governo socialista. Ainda na Europa, vários milhares de eslovacos reuniram-se em Bratislava para uma missa celebrada no local exacto onde, há dois anos, João Paulo II rezou para 200.000 pessoas. A assistir, vários membros do governo, incluindo o primeiro-ministro, Mikulas Dzurinda. Uma missa foi também celebrada, ao princípio da manhã, na cidade eslovaca de Trnava (oeste), que o Papa também visitou. Israel e a Autoridade Palestiniana, onde vivem cerca de 160.000 cristãos embora só algumas dezenas de milhares sejam católicos, associaram-se às cerimónias fúnebres com as principais televisões, públicas e privadas, a transmitirem em directo as exéquias. Uma das maiores concentrações de católicos registou-se nas Filipinas, com dezenas de milhares de pessoas concentradas no parque de Manila, onde o Papa esteve há dez anos. Em toda a Ásia, muçulmanos, budistas, hindus e sikhs juntaram-se aos católicos nas missas e orações celebradas em memória do Papa João Paulo II, que promoveu o diálogo inter-religioso ao longo de todo o seu pontificado. Durante uma visita a Tóquio, o Dalai Lama, líder espiritual dos budistas do Tibete, elogiou «o carácter humano» de João Paulo II e apelou para a continuidade do seu legado de paz. Na capital japonesa celebrou-se também uma missa fúnebre por João Paulo II na Catedral de Santa Maria, assistida por cerca de 1.500 pessoas algumas centenas das quais, impossibilitadas de entrar por absoluta falta de espaço, permaneceram no exterior. O príncipe herdeiro do Japão, Naruhito, também assistiu à celebração, assim como vários membros do governo e diplomatas. Na Índia, as missionárias da ordem fundada por Madre Teresa de Calcutá fizeram uma oração especial por João Paulo II. A madre superiora da Ordem, a irmã Nirmala, esteve no Vaticano para o funeral. Nas Américas, a diferença horária obrigou a que as homenagens e celebrações fossem diferidas em relação a Roma, mas Nova Iorque decidiu dar início à homenagem a João Paulo II colocando quinta-feira à noite o Empire State Building completamente às escuras. No México, as exéquias foram assinaladas por antecipação, quinta-feira à noite, com milhares de fiéis a reunirem-se para uma procissão de 20 quilómetros conduzida por um dos “papamóveis” (veículo de transporte do Papa) em que João Paulo II se deslocou numa das cinco visitas que fez ao país.

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